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Fiesta

23out25Este concerto revela o órgão no feminino, combinando fervor, lirismo e modernidade. Danças revisitadas, coros meditativos, explosões festivas e harmonias suspensas compõem uma viagem que abrange quase dois séculos. Um panorama vibrante onde o órgão é ora solene, ora luminoso, ora contemplativo, ora dançante. A Toccata «Habakkuk’s Vision», de Karen Beaumont (nascida em 1965), abre o concerto com um floreado virtuoso. Inspirada pela visão profética de Habacuc, a obra combina intensidade rítmica e energia dramática. Beaumont, organista e compositora norte-americana, utiliza um estilo de escrita sólido que cruza a potência e a clareza contrapontística. A sua obra Pavane et Gaillarde II expande este universo com uma referência às danças antigas, revisitadas com um toque moderno. Continuamos com Ethel Smyth (1858-1944), figura de proa do movimento sufragista britânico e compositora de forte personalidade. O seu Prelúdio coral e o Cânone sobre O Gott, du frommer Gott, seguem a tradição coral luterana, combinando rigor contrapontístico e calorosa expressividade. Com Elsa Barraine (1910-1999), formada no Conservatório de Paris sob a orientação de Paul Dukas, o órgão assume acentos de gravidade e força interior. Importante compositora francesa, exibe no seu Prelúdio e fuga em sol menor uma potência simultaneamente controlada e emotiva. A música avança como uma marcha, sólida, por vezes sombria, mas sempre em direção à luz. Uma mudança de clima com Cécile Chaminade (1857-1944). De renome pelas suas peças para piano e melodias, as suas obras para órgão revelam uma escrita sensível, elegante e melodiosa. O Offertoire au Christ Roi exibe um fervor luminoso, a Pastorale nº 1 traz um sopro pastoral e bucólico, enquanto o Prelúdio Op. 78 ilustra o refinamento melódico e harmónico característico da compositora. A viagem continua até aos nossos dias com a canadiana Sarah Davachi, nascida em 1987. Em Harmonies in Green, ela explora texturas, ressonâncias e harmonias lentas. É um momento em que o tempo para, quando as cores harmónicas se fundem num continuum meditativo, abrindo o ouvido à riqueza do timbre. Por fim, Emma Lou Diemer (1927-2024), figura importante da música americana do século XX, encerra o programa com Fiesta, uma peça vibrante e rítmica. Uma mistura de energia, cores harmónicas vivas e uma pulsação impulsiva, proporciona uma conclusão festiva e luminosa.

— Sylvie Pérez —


23 outubro October
Igreja de São João Evangelista, Funchal
Quinta-feira, 21H30


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Sylvie Pérez, órgão


Karen Beaumont (1965)
¬ Toccata «Habakkuk’s Vision»
¬ Pavane et gaillarde II

Ethel Smyth (1858-1944)
¬ Prelúdio coral «O Gott du frommer Gott»
¬ Cânone sobre Canon on «O Gott du frommer Gott»

Elsa Barraine (1910-1999)
¬ Prelúdio e fuga em sol menor

Cécile Chaminade (1857-1944)
¬ Offertoire au Christ Roi
¬ Pastorale n° 1
¬ Prélude op. 78

Sarah Davachi (1987)
¬ Harmonies in green

Emma Lou Diemer (1927-2024)
¬ Fiesta