Domingo, 27 de Outubro, 18h00
Igreja e Convento de Santa Clara
O Barroco na Madeira
Ensemble Bonne Corde
Miguel Jalôto, órgão
Diana Vinagre, direção
António Pereira da Costa (?-c.1770)
Concerto grosso op.1 n.º7 em Fá maior
Preludio: Largo – Allegro
Corrente
Adagio – Allegro
Allemanda
(Recuperação da parte de violoncelo solo da autoria de Miguel Jalôto)
Antonio Vivaldi (1678-1741)
Sonata em lá menor para violoncelo e baixo contínuo, RV 44
Largo
Allegro poco
Largo
Allegro
Concerto para órgão e violino solo em Fá maior, RV542
[Allegro]
[Lento]
Allegro
Concerto em lá menor para violoncelo solo, cordas e baixo contínuo, RV419
Allegro
Andante
Allegro
António Pereira da Costa
Concerto grosso op.1 n.º 5 em sol menor
Preludio: Largo – Allegro
Corrente
Grave – Allegro
Minuetto: Allegro
(Recuperação da parte de violoncelo solo da autoria de Miguel Jalôto)
Ensemble Bonne Corde
Sara de Corso, Sue-Ying Koang, Yukié Nakagima, Lilia Slavny, violino barroco
Raquel Massadas, viola barroca
Diana Vinagre, Rebecca Rosen, violoncelo barroco
Miguel Jalôto, órgão
Diana Vinagre, direcção
O programa do concerto tem como ponto de partida os concertos grossos de António Pereira da Costa (?-c.1770), propondo um percurso através das variantes daquela que foi uma das formas instrumentais mais populares durante o período barroco, o concerto. Enquanto que nos concertos grossos existem vários instrumentos solistas, outros concertos destinam-se a apenas um ou dois instrumentos solistas, como é o caso dos concertos de Antonio Vivaldi (1678-1741) que integram o programa, um para violoncelo e outro para órgão e violino. O compositor veneziano foi um dos mais prolíficos nesta forma, destacando-se o muito famoso conjunto de concertos sobre as quatro estações. Ao longo de todo o programa, o órgão, do qual o programa pretende ser uma celebração, estará presente nas suas várias facetas, tanto como solista como no seu papel enquanto instrumento do baixo contínuo. Apesar da relevância da sua obra no contexto da música portuguesa, uma vez que não são conhecidos mais concertos grossos de autoria de compositores portugueses, Pereira da Costa é uma figura ainda bastante desconhecida, merecendo um futuro estudo biográfico mais consistente, juntamente com a recuperação da sua obra, para a qual este concerto espera ser um contributo. É através do frontispício destes concertos, publicados em Londres por John Simpson, provavelmente entre 1740 e 1755, que nos chegam os únicos dados biográficos fidedignos que conhecemos do compositor. Os concertos são oferecidos a João José de Vasconcelos Bettencourt (1703-1766), provavelmente mecenas do compositor no Funchal. Existe mesmo a possibilidade de os concertos terem sido publicados aquando duma deslocação a Londres do próprio João José Vasconcelos Bettencourt, na qual foi acompanhado pelo próprio Pereira da Costa. Neste período foram também publicadas em Londres 12 serenatas para guitarra da sua autoria. Sabemos com certeza que José de Sá Pereira foi mestre de capela da Sé do Funchal, não sendo claro o período exacto em que terá estado na Madeira. Provavelmente esteve ao serviço de D. Gaspar Afonso da Costa Brandão (1703-°©‐1784), tendo o mesmo vindo para o Funchal em 1757. Este conjunto de doze concertos, dos quais serão apresentados os n.º 5 e 7, foram publicados como op. 1, tendo partes solísticas para dois violinos e violoncelo, partes tutti para dois violinos, e acompanhamento de viola e de baixo ao órgão. A especificidade de acompanhamento do baixo contínuo ao órgão é um detalhe singular, uma vez que geralmente não é indicado o instrumento de tecla mas apenas a menção de baixo contínuo. Infelizmente encontra-se desaparecida a parte de violoncelo solo, sendo necessária uma reconstrução da mesma, que na execução de hoje é da autoria de Miguel Jalôto. Esperamos que este concerto possa contribuir para uma maior atenção aos concertos e ao conjunto da obra de Pereira da Costa, não só pelo seu simbolismo na história da música portuguesa mas também pelo seu valor musical intrínseco.
Diana Vinagre
Participantes
Ensemble Bonne Corde O Ensemble Bonne Corde é um agrupamento de Música Antiga dedicado à interpretação historicamente informada com instrumentos originais, tendo como repertório-alvo a literatura para violoncelo solo do séc. XVIII, tanto de câmara como concertante. O nome do grupo provém do tratado de Marin Mersenne de 1636, Harmonie Universelle, e pretende ser uma alusão às cordas de tripa utilizadas nos instrumentos de corda até ao séc. XX. É também através da utilização de cordas de tripa que o Ensemble Bonne Corde pretende recuperar e dar a conhecer repertórios esquecidos numa perspectiva historicamente informada, não tendo, no entanto, por objectivo uma recriação ou um trabalho de arqueologia – nunca vamos saber como esta música soou: queremos apenas perceber o melhor possível os códigos musicais da época em que foi escrita. Fundado pela violoncelista Diana Vinagre, o Ensemble Bonne Corde continua um trabalho de conjunto iniciado por jovens músicos de várias partes do mundo que se foram cruzando nos seus percursos formativos e profissionais, em locais tão prestigiados como o Real Conservatório de Haia (Holanda) e a Orquestra Barroca da União Europeia. Todos os membros do grupo colaboram regularmente com os mais importantes agrupamentos de Música Antiga da Europa. Desde a fundação, o Ensemble Bonne Corde tem actuado por todo o país, tendo já gravado para a RDP – Antena 2 e apresentado em estreia moderna obras de importantes autores portugueses do séc. XVIII. |
Miguel Jalôto Fernando Miguel Jalôto completou os diplomas de Bachelor e de Master of Music em Cravo no Departamento de Música Antiga e Práticas Históricas de Interpretação do Conservatório Real da Haia (Países Baixos), na classe de Jacques Ogg. Frequentou masterclasses com Gustav Leonhardt, Olivier Baumont, Ilton Wjuniski e Laurence Cummings. Estudou também Órgão barroco e Clavicórdio, e foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. É Mestre em Música pela Universidade de Aveiro e doutorando em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa como bolseiro da FCT. É fundador e director artístico do Ludovice Ensemble. É membro da Orquestra Barroca Casa da Música e colabora com grupos especializados tais como Oltremontano, La Galanía, Collegium Musicum Madrid e Bonne Corde. Foi membro da Académie Baroque Européenne de Ambronay, da Academia MUSICA de Neerpelt, e da orquestra Divino Sospiro. Trabalhou sob a direcção de T. Koopman, Ch. Pluhar, Ch. Rousset, F. Biondi, A. Florio, H. Christophers, A. Parrott, R. Alessandrini, Ch. Banchini, E. Onofri, A. Bernardini, L. Cummings, Ch. Coin, D. Snellings, W. Becu e P. McCreesh, entre outros. Gravou para a Ramée/Outhere (com o Ludovice Ensemble, nomeado para os prestigiantes ICMA Awards em 2013), Brilliant Classics (Suites para Cravo de Dieupart), Dynamic (Concerto para cravo em sol menor de Carlos Seixas), Harmonia Mundi, Glossa Music, Parati, Anima & Corpo e Veterum Musica. |
Diana Vinagre Após a conclusão dos seus estudos na Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa, ingressa no Conservatório Real de Haia no Departamento de Música Antiga e Práticas Históricas de Interpretação na classe de violoncelo barroco de Jaap ter Linden. Nesta instituição conclui a Licenciatura e seguidamente o Mestrado, com distinção. Desde que se dedica à prática do violoncelo histórico, colabora como free-lancer com vários agrupamentos:, Orquestra do Século XVIII, New Dutch Academy, B’Rock, Orchestra of The Age of Enlightenment, Irish Baroque Orchestra, Holland Baroque Society, Al Ayre Español, Divino Sospiro, Forma Antiqua e Orquestra Barroca da Casa da Música. Toca regularmente sob a direcção de Enrico Onofri, Laurence Cummings, Mark Elder, René Jacobs, Vladimir Jurowsky, Simon Murphy, Bartold Kuijken, Christina Pluhar, Elizabeth Wallfisch, Alfredo Bernardini, Rinaldo Alessandrini, Frans Bruggen, Lars Ulrik Mortensen, Alexis Kossenko, Chiara Banchini. Em 2007 foi selecionada para integrar a Orquestra Barroca da União Europeia tendo-se apresentado como solista em várias ocasiões. Realizou várias gravações com Divino Sospiro, Sete Lágrimas, Wallfisch Band, Orquestra Barroca da União Europeia, Forma Antiqua. Além da sua actividade em vários países europeus, é o primeiro violoncelo da Orquestra Barroca Divino Sospiro. Em 2009 funda o Ensemble Bonne Corde que se especializa em repertório do século XVIII, tenho o violoncelo como ponto de partida. |
Notas ao Órgão
Igreja e Convento de Santa Clara (Funchal) A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte. Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado. Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’) |