Música, Cultura e Conhecimento
A realização da décima segunda edição do Festival Internacional de Órgão da Madeira reveste-se de uma importância nunca por demais assinalada. Vem atestar a vitalidade de um Festival de música erudita com mérito próprio e consistência programática, testemunho da responsabilidade pública na promoção de projetos coerentes, com impacto positivo na conservação, valorização e divulgação de bens e equipamentos patrimoniais na Região Autónoma da Madeira, ao nível da sua organaria.
São dez dias ininterruptos de Festival (algo raro nos nossos dias) com concertos singulares em Igrejas e Conventos da Madeira, celebrando um património artístico e cultural com caraterísticas únicas, tornando acessível ao grande público concertos historicamente informados, com repertórios variados, fruto da diversidade e caraterísticas do património organológico da Região.
O Festival Internacional de Órgão da Madeira é um inegável cartaz turístico e cultural de referência nacional e internacional, pelo exemplar envolvimento com a comunidade, pela qualidade distintiva da sua programação e pelo contexto proporcionado de conhecimento baseado na música e no património cultural. A música, tal como a ciência, questiona, escuta e silencia. Neste Festival não se procura apenas ouvir o som dos órgãos. Mais que audição, trata-se, acima de tudo, de proporcionar experiências qualificadas de escuta, aprender pela escuta, escutar para conhecer outros mundos e outras músicas - na senda, aliás, daquele que é do tema da edição de 2023 «o órgão e outras músicas».
É, pois, de interculturalidade, diversidade e saber que falamos, quando falamos do 12º Festival Internacional de Órgão da Madeira, um verdadeiro «oceano de sonoridades» com organistas e formações artísticas oriundas de Portugal, Espanha, Itália, Brasil e Uruguai.
Agradeço, de forma muito reconhecida, a colaboração que tem vindo a ser mantida com a Diocese do Funchal e a total disponibilidade de todas as Igrejas envolvidas, assim como também reconheço a dedicação e competência do Professor João Vaz, diretor artístico do Festival, que durante mais de uma década tem disponibilizado muito do seu tempo e conhecimentos, contribuindo para o lugar privilegiado que o Festival Internacional de Órgão da Madeira ocupa hoje no panorama musical nacional e europeu.
EDUARDO JESUS
SECRETÁRIO REGIONAL DE TURISMO E CULTURA
O órgão e outras músicas
Criado em 2010 e funcionando ininterruptamente desde então (com excepção do período dominado pela pandemia), o Festival Internacional de Órgão da Madeira atinge neste ano a sua décima segunda edição. A inclusão, a partir de agora, do adjectivo «internacional» na sua designação não prestende reflectir qualquer alteração na orientação seguida ao longo dos anos passados, sublinhando pelo contrário algo que sempre esteve presente desde o primeiro momento. De facto, ao longo de todas as anteriores edições, a internacionalidade tornou-se evidente, quer pela diferentes nacionalidades dos intérpretes, quer pela variedade de proveniências do repertório apresentado. Para além disso – e talvez mais importante do que isso – o carácter internacional do festival é patente, desde logo, nos próprios instrumentos: aberta a múltiplas influências, dada a sua situação geográfica, a Madeira reflecte essa abertura ao mundo no seu património organístico, revelando características portuguesas, espanholas, italianas e inglesas.
O tema da presente edição do Festival Internacional de Órgão da Madeira é «o órgão e outras músicas». Embora desde há séculos destinado ao acompanhamento da liturgia, o órgão (tanto o próprio instrumento, como a música para ele escrita) tentou sempre aproximar-se de outros instrumentos e de outras músicas. Com efeito, se o órgão romântico do século XIX tentou aproximar-se do som de uma orquestra sinfónica, já o órgão renascentista procurava imitar a polifonia vocal ou as danças dos menestréis e o órgão colonial absorvia as influências do Novo Mundo. Esta procura de «outras músicas» levou, ao longo dos séculos, à produção de um repertório, por vezes surpreendente, que contribui para sublinhar a riqueza e o carácter único do «rei dos instrumentos». É esta diversidade que a presente edição do Festival Internacional de Órgão da Madeira pretende trazer ao público.
Um amplo leque de artistas e agrupamentos, oriundos de Portugal, Espanha, Itália, Brasil e Uruguai, apresenta música permeada das mais variadas influências – da dança à ópera, da polifonia vocal à música de câmara, das sonoridades arcaicas do Codex Faenza ao sabor porteño da música de Astor Piazolla. Uma vez mais, os grandes protagonistas do festival são os órgãos – históricos e contemporâneos – da Madeira.
JOÃO VAZ
DIRETOR ARTÍSTICO
Um roteiro de música para conhecer alguns dos órgãos históricos mais emblemáticos da Madeira.
De 13 a 22 de outubro, 10 concertos em 8 Igrejas, todos com entrada livre.
Festival Internacional de Órgão da Madeira, um oceano de sonoridades.