Quarta-feira, 23 de Outubro, 21h30
Igreja de Santa Luzia
La Superba - O despertar do violoncelo
Diana Vinagre, violoncelo barroco
João Vaz, órgão
Bartolomé de Selma y Salaverde (ca.1595-ca.1638)
Susan[n]a [un jour] pasegiata [à] Basso solo
Giovanni Battista Vitali (1632-1692)
Bergamasca
(Partite sopra diverse sonate per il Violone)
Anónimo (Itália, séc XVII)
Aria [Bergamasca] con variationi
(Ms. 964, Arquivo Distrital de Braga)
Domenico Gabrielli (1659-1690)
Ricercar 7 per violoncello solo
Girolamo Frescobaldi (1583-1643)
Toccata per l'Elevatione (Messa degli Apostoli)
(Fiori musicali, 1636)
Canzona settima a Basso solo «detta la Superba»
Domenico Gabrielli
Sonata à violoncello solo, con il suo basso continuo, em lá maior
Grave
Allegro
Largo
Presto
Giuseppe Maria Jacchini (c.1663-1727)
Sonata para violoncelo e baixo contínuo, op.1, n.º7
Grave
Prestissimo
Adagio – Aria Presto
Bernardo Pasquini (1637-1710)
Partite sopra l'aria della Folia da Spagna
(Ms. 964, Arquivo Distrital de Braga)
Domenico Gabrielli
Sonata à violoncello solo, con il suo basso continuo, em Sol maior
Grave – Adagio – Presto
Allegro
Largo
Presto
Ao longo do séc. XVII o instrumento baixo da família do violino, que hoje conhecemos por violoncelo, passou por um processo longo até chegar à sua forma final e conquistar um lugar enquanto instrumento solista: o programa apresentado pretende contar a história desta transição. Durante os séculos XVI e XVII, não existe ainda um instrumento de características definidas, coexistindo diversos tamanhos, afinações e nomenclaturas do mesmo. Ao longo deste período, o violoncelo, ou baixo de violino, era usado como acompanhamento de grupos instrumentais e vocais, e partilhava o mesmo repertório solo com outros instrumentos de registo grave, como o fagote, o trombone, e a viola da gamba, normalmente sob a forma de canzonas ou diminuições genericamente indicadas para basso solo. É nesta tradição que se inserem as obras de Selma y Salaverde (c.1595-c.1638), Girolamo Frescobaldi (1583-1643) e Giovannimaria Vitali (1632-1692) incluídas no programa. No caso dos dois primeiros autores trata-se de obras baseadas em canções, enquanto que a Bergamasca de Vitali faz parte de um conjunto de variações sobre danças para violone e baixo publicadas pelo autor. O que caracteriza este repertório é, acima de tudo, o facto de ter por base material já existente, que serve como ponto de partida para um exercício instrumental, geralmente com vista a pôr em evidência o virtuosismo do intérprete. Só no último quartel do séc. XVII aparece o primeiro repertório para violoncelo enquanto instrumento solista. O acontecimento marcante neste processo é o aparecimento das cordas de tripa revestidas com fieira metálica, que se dá por volta de 1770 na região de Bolonha. Até então, as cordas graves apenas de tripa eram muito longas, o que dava origem a instrumentos de grandes dimensões. O revestimento metálico das cordas permitiu, uma vez que a densidade do material era maior, que o comprimento das cordas fosse menor, permitindo instrumentos de menores dimensões que permitiam maior destreza técnica: o violoncelo adquire as medidas que mantém até hoje. Os primeiros virtuosos do instrumento, sediados em Bolonha, serão também os primeiros compositores de literatura idiomática para o violoncelo. Destacam-°©‐se os nomes de Domenico Gabrielli (1651-90) e Giovannimaria Jacchini (c.1663-1727), que teriam obrigatoriamente de integrar o programa. Gabrielli foi autor da primeira obra para violoncelo solo, um conjunto de 7 Ricercari datado de 1689, assim como várias sonatas para violoncelo e baixo, e Jacchini, foi autor de várias sonatas para violoncelo e baixo. Este repertório, caracterizando-se por um estilo de grande liberdade formal e carácter improvisatório. De Bolonha para o resto de Itália e seguidamente para a Europa, a disseminação do violoncelo e a sua adopção enquanto instrumento baixo de eleição dar-se-à muito rapidamente, levando ao aparecimento, já na década de 1720, da obra mais emblemática do período e de todo o repertório violoncelístico, as suites para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Diana Vinagre
Participantes
Diana Vinagre Após a conclusão dos seus estudos na Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa, ingressa no Conservatório Real de Haia no Departamento de Música Antiga e Práticas Históricas de Interpretação na classe de violoncelo barroco de Jaap ter Linden. Nesta instituição conclui a Licenciatura e seguidamente o Mestrado, com distinção. Desde que se dedica à prática do violoncelo histórico, colabora como free-lancer com vários agrupamentos:, Orquestra do Século XVIII, New Dutch Academy, B’Rock, Orchestra of The Age of Enlightenment, Irish Baroque Orchestra, Holland Baroque Society, Al Ayre Español, Divino Sospiro, Forma Antiqua e Orquestra Barroca da Casa da Música. Toca regularmente sob a direcção de Enrico Onofri, Laurence Cummings, Mark Elder, René Jacobs, Vladimir Jurowsky, Simon Murphy, Bartold Kuijken, Christina Pluhar, Elizabeth Wallfisch, Alfredo Bernardini, Rinaldo Alessandrini, Frans Bruggen, Lars Ulrik Mortensen, Alexis Kossenko, Chiara Banchini. Em 2007 foi selecionada para integrar a Orquestra Barroca da União Europeia tendo-se apresentado como solista em várias ocasiões. Realizou várias gravações com Divino Sospiro, Sete Lágrimas, Wallfisch Band, Orquestra Barroca da União Europeia, Forma Antiqua. Além da sua actividade em vários países europeus, é o primeiro violoncelo da Orquestra Barroca Divino Sospiro. Em 2009 funda o Ensemble Bonne Corde que se especializa em repertório do século XVIII, tenho o violoncelo como ponto de partida. |
João Vaz João Vaz estudou em Lisboa com Antoine Sibertin-Blanc e em Saragoça com José Luis González Uriol. Para além dos seus estudos regulares frequentou cursos com professores como Edouard Souberbielle e Joaquim Simões da Hora, adquirindo um profundo interesse pela Música Antiga. É também doutor em Música e Musicologia, com uma tese sobre música portuguesa para órgão do início do século XIX. Tendo desenvolvido uma intensa carreira internacional, é frequentemente convidado para tocar em prestigiados festivais de órgão, assim como para ensinar em cursos de interpretação e para integrar júris de concursos internacionais. O seu interesse pela música portuguesa reflecte-se nas suas muitas gravações em CD (a maioria das quais efectuada em órgãos históricos portugueses) e no seu trabalho musicológico (artigos e edições musicais). Presentemente ensina na Escola Superior de Música de Lisboa. director artístico do Festival de Órgão da Madeira e das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997). |
Notas ao Órgão
Igreja de Santa Luzia De acordo com os registos de despesas relativamente aos anos 1839 e 1841, verifica-se que foram efectuadas remunerações a cantores e organistas, facto que nos permite admitir, à partida, que a Igreja de Santa Luzia já dispunha de um órgão de tubos, provavelmente bem antigo, que viria a ser substituído com a chegada do instrumento proveniente do extinto Convento de São Francisco. Este segundo órgão foi adquirido no ano de 1834; no entanto, a sua deslocação para a Igreja de Santa Luzia só veio a acontecer em 1842, tendo o Padre Joaquim António Português anotado no Livro da Fábrica, a 15 de Janeiro desse ano, uma quantia extra para pagamento do seu transporte definitivo para a igreja: “50.000 réis que dei a quem diligenciou o órgão de S. Francisco para esta freguesia por não ter recebido e do diligenciador Fr. António das Dores ter falecido”. No decorrer do século XX, este instrumento foi sujeito a inúmeras intervenções de manutenção, cujas despesas foram pagas em alguns momentos através de donativos atribuídos por diversos paroquianos. Segundo o registo do Livro da Fábrica, em 20 de Dezembro de 1902, o órgão era consertado pela quantia de 300$00 (réis ?) a expensas do Sr. Augusto Camarrinha, residente no Pará (Matos 1996: 44); em 1936 e em 1940 eram gastos 320$00 e 150$00 (escudos), respectivamente, para outros dois consertos do instrumento. Entre 1950, altura em que decorriam as obras de reparação do soalho e do coro, e 1963 seguiu-se uma nova, mas inadequada, intervenção que foi levada a cabo pelo mestre António Gomes Jardim, natural da Ribeira da Janela. Não foi possível identificar o construtor do órgão. Manuel Valença descreve-o como um “órgão Positivo de fabrico inglês com características muito peculiares – um só manual, com sete registos inteiros e três partidos, considerado, no seu género, um dos melhores da Diocese” e Christopher Kent, professor do Departamento de Música da Universidade de Reading, na Inglaterra, regista a sua feitura em Inglaterra, datando-o, segundo a inscrição encontrada nos tubos, de 1815-1820. Acrescenta que é “um dos órgãos famosos, como alguns outros da mesma fábrica e época, que existem em Inglaterra". Foi restaurado em 2013 pelo organeiro Dinarte Machado. Manual (GG, AA, C-f´´´) |