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BW14Out202314 outubro, sábado, 21H30; 
Sé do Funchal · Funchal; 

A TRADIÇÃO CORAL INGLESA 
João Vaz, órgão; 
Beatriz Resendes, órgão de coro; 
Capella de S. Vicente: 
Joana Timóteo, Rita Carvão, Salomé Monteiro, sopranos;
Catarina Baptista, Rita Meireles, altos;
João Borges, João Coutinho, Pedro Rodrigues, tenores;
Martim Líbano Monteiro, Mateus Líbano Monteiro, baixos;

Pedro Rodrigues, direcção. 


A tradição musical inglesa está intimamente ligada à prática coral. Fortemente encorajada a partir da segunda metade do século XIX, a prática do canto em grupo (independentemente de níveis etários ou classes sociais) estabeleceu uma tradição de qualidade e significado crescentes, até aos nossos dias. Esta estratégia deu origem à criação ou desenvolvimento de vários coros (incluindo pequenos cantores e cantores adultos), alguns dos quais têm, ainda hoje, grande notoriedade, como o da Abadia de Westminster em Londres ou o do King's College em Cambridge. Paralelamente, esta intensa actividade coral fomentou a criação de muitas obras que enriqueceram repertório vocal. Muitas dessas obras foram compostas para ocasiões especiais (casamentos reais, coroações, etc.), perdurando no tempo e, em alguns casos, transformado-se em verdadeiros símbolos musicais da identidade britânica. I was glad foi escrito por Charles Hubert Parry para a coroação do rei Eduardo VII em 1902, tendo sido executado posteriormente em muitas outras cerimónias, incluindo a coroação do rei Carlos III, no presente ano, ou o casamento do príncipe William com Catherine Middleton em 2011. Nesta última cerimónia, foi estreado This is the day de John Rutter. As obras de Rutter, na maior parte escritas para coro e órgão, ganharam grande popularidade, sobretudo devido à eficácia das suas melodias, em grande parte pensadas para serem executadas por pequenos cantores, Um dos mais famosos compositores ingleses de todos os tempos, Edward Elgar distanciava-se do meio musical vitoriano, pela sua formação parcialmente autodidacta, pelas suas origens relativamente humildes e pelas sua convicção católica. Os Vesper Voluntaries (1890), série de doze pequenas peças para órgão que foram certamente influenciadas pelo tempo em que ocupou o lugar de organista na igreja de Saint George em Worcester (entre 1846 e 1885). Da mesma forma, os Three Motets (1887), que incluem Ave verum corpus e Ave Maria, são pequenas peças corais com acompanhamento simples de órgão, pensadas para a liturgia católica tendo em vista um coro (e um instrumento) de dimensões modestas. As Christmas carols desempenham um papel determinante no imaginário natalício inglês. Muitos compositores escreveram arranjos destas melodias tradicionais. É o caso de This is the truth sent from the above, que Ralph Vaughn Williams usou para um arranjo coral a cappella, ou The first Nowell, que encerra este concerto num arranjo para coro e os dois órgãos da Sé do Funchal. A Capella de S. Vicente é constituída por um núcleo de cantores universitários, aos quais se juntam, dependento das circunstâncias, pequenos cantores e cantores profissionais. A presença dos pequenos cantores faz da Capella de S. Vicente o único agrupamento vocal português que reproduz o sistema de ensino musical presente em muitas escolas inglesas. Nas escolas que são suas parceiras (A Voz do Operário, em Lisboa, e o Agrupamento de Escolas D. Dinis, de Odivelas), a prática coral abrange toda a população escolar, dentro do horário curricular, e ocasiona muitas apresentações públicas com repertório de excelência. Este sistema de ensino, onde a prática musical e o contacto constante com profissionais são encorajados desde muito cedo, prevaleceu em Portugal (e na maioria dos países católicos europeus) até ao início do século XIX. Embora o concerto de hoje apresente apenas a vertente dos cantores universitários, o repertório apresentado presta homenagem aos pequenos cantores e a um modelo de ensino da música que ainda hoje prevalece no Reino Unido.

João Vaz


Programa:

CHARLES HUBERT PARRY (1848-1918)
I was glad

EDWARD ELGAR (1857-1934)
Vesper Voluntaries Op. 26
Introduction
Voluntary I

Ave Verum
Vesper Voluntaries Op. 26
Voluntary III
Ave Maria
Vesper Voluntaries Op. 26
Voluntary VIII

JOHN RUTTER (1945)
This is the day

JOÃO VAZ (1963)
Introduction to «This is the truth sent from above»

TRADICIONAL INGLESA (arranjo Ralph Vaughn Williams)
This is the truth sent from above

JOHN RUTTER
The Lord bless you and keep you
Toccata in Seven
A Clare benediction
Christmas lullaby

TRADICIONAL INGLESA (arranjo João Vaz)
The First Nowell


Foto Joao Vaz2023João Vaz

Natural de Lisboa, João Vaz é diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatório Superior de Música de Aragão, em Saragoça, onde estudou com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É também doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido, sob a orientação de Rui Vieira Nery, uma tese sobre a música portuguesa para órgão no final do Antigo Regime. Tem mantido uma intensa actividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente em cursos de aperfeiçoamento organístico, ou membro de júri de concursos de interpretação. Efectuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo, salientando-se as efectuadas em órgãos históricos portugueses. Lecciona actualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa. É actualmente director artístico do Festival de Órgão da Madeira e das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997). Em 2017 foi agraciado com a Medalha de Honra do Município de Mafra.

 


Capella de S. Vicente

Criada em 2021, a Capella de S. Vicente é uma ramificação da Capella Patriarchal, (agrupamento destinado fundamentalmente à divulgação dos tesouros da música sacra portuguesa) e tem como objectivo principal a prática coral como parte integrante da formação do indivíduo. Com uma formação base de oito coralistas universitários, que frequentam ou que frequentaram estudos avançados de Música, a Capella de S. Vicente tem procura adquirir experiência, quer ao nível da investigação das fontes musicais históricas, quer ao nível da elevada qualidade da execução performativa, assumindo um intenso esforço de observação das práticas interpretativas das diversas épocas. Essa experiência é maioritariamente transmitida aos coralistas de dois modos: a colaboração pessoal com a equipa musical da Capella Patriarchal e a aprendizagem musical e estilística obtida através da experiência dos seus directores artísticos João Vaz e Pedro Rodrigues. Abordando um repertório amplo, desde o canto Gregoriano à música contemporânea, a Capella de S. Vicente tem também como missão contribuir para a reactivação da prática musical de excelência ao serviço da liturgia. Desde a sua formação, em parceria com o Patriarcado de Lisboa e com a Reitoria da Igreja de São Vicente de Fora, o seu serviço musical organiza-se em três ciclos: ciclo de missas com coro, visitas com música ao Museu do Patriarcado de Lisboa e concertos nas igrejas.

 


Foto Beatriz ResendesBeatriz Resendes

Natural de Lisboa, iniciou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa, estudando órgão com António Esteireiro, onde concluiu o curso secundário de Música. Durante o seu percurso académico musical teve a oportunidade de participar em diversas masterclasses com professores como François Espinasse, Jean Ferrard, Hans-Ola Ericsson, Jan Willem Jansen, Roberto Antonello e José Luis González Uriol. Destaca-se a sua participação, como Young Talent, no Festival de Órgão de Haarlem em 2012 onde tocou nas masterclasses de Margaret Phillips e Olivier Latry. Como solista, apresentou-se em recitais na Sé de Lisboa, na Igreja de Nossa Senhora do Cabo, nos ciclos de concertos do Mosteiro dos Jerónimos (2012 e 2013) e no Festival de Órgão do Algarve (2020). Em 2013 ganhou o 1º prémio do concurso de órgão do Conservatório de Música de Ourém e Fátima. Em 2017, terminou, com a nota máxima, a licenciatura em Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa, na classe de João Vaz.

 

 


Foto Pedro Rodrigues2023Pedro Rodrigues

Formou-se inicialmente no Instituto Gregoriano de Lisboa. Licenciado em Direcção Coral e Formação Musical pela Escola Superior de Música de Lisboa, foi aluno em Direcção de Orquestra na Academia Nacional Superior de Orquestra (Orquestra Metropolitana de Lisboa) sob orientação do maestro Jean-Marc Burfin. Foi maestro titular da Schola Cantorum da Basílica da Estrela, docente no Conservatório Metropolitano de Lisboa e na Escola Música Luís António Maldonado Rodrigues (Torres Vedras), nas disciplinas de Orquestra e Coro. Foi membro do Núcleo Coordenador dos Órgãos Históricos de Santarém. É membro fundador e director musical of Capella de S. Vicente. É membro do Coro Gulbenkian e do Coro Gregoriano de Lisboa.