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BW16Out202316 outubro, segunda-feira, 21H30; 
Igreja e Recolhimento do Bom Jesus · Funchal; 

ÓRGÃO E SURPRESAS 
Loriane Llorca, órgão. 


Em torno de obras emblemáticas das escolas holandesa e italiana, do final do Renascimento e início do século XVII, este programa está repleto de surpresas musicais, como as primeiras peças extraídas do Codex Faenza, um manuscrito italiano do início do século XV, reunindo obras da sua época, mas também do século anterior. Contém as primeiras obras escritas para tecla na história da música ocidental. Raramente tocados, porque pouco conhecidas, são de grande beleza. Elas Mon cuer, é muito suave com liberdade na escrita e curvas musicais muito cantantes, enquanto Constantia é muito mais rítmica e próxima da dança, todas com cores harmónicas muito arcaicas e características daquela época. Outras surpresas improvisadas darão um toque mais contemporâneo a este programa de música antiga. Texturas e pinturas sonoras convidam-se em torno da música escrita e construída, para uma viagem musical repleta de novidades. Os órgãos mecânicos antigos podem ser tocados da maneira tradicional, como será ouvido em peças escritas, mas estes instrumentos possuem uma riqueza insuspeitada de timbres e técnicas para a criação contemporânea. O temperamento e a mecânica desses órgãos permitem que a criação tome novos rumos e brinque com as ondas sonoras de uma forma completamente diferente. As peças escritas, da escola holandesa, neste programa são todas construídas em torno de um tema seguido de variações. Assim, a primeira peça, Daphné, retirada do manuscrito de Suzanne Van Soldt, cujo compositor é anónimo, apresenta um tema muito calmo e gentil que se intensificará à medida que a peça avança. Da mesma forma, as obras de Samuel Scheidt, que não é outro senão o aluno de Jan Pieterzoon Sweelinck conhecido como o «criador de organistas» da sua época, são variações sobre a Bergamasca, tema de dança muito conhecido na época, sobre uma galharda inglesa. A influência de Sweelinck nessas obras é muito presente e mostra uma escola com uma identidade muito forte. Por fim, uma das mais belas e emblemáticas obras de Sweelinck encerrará a escola holandesa neste programa. Frescobaldi, compositor e organista italiano, publicou esta imensa colecção Fiori musicali, reunindo inúmeras peças para órgão: tocatas, canzone, ricercari, etc.
Aqui, ouviremos uma tocata para a elevação, muito representativa da escrita de Frescobaldi, com magníficas harmonias e dissonâncias. Em comparação com a Bergamasca de Scheidt, esta será a segunda versão deste tema e variações neste concerto, mas desta vez pela pena de Frescobaldi e com uma cor italiana! Naquela época, os compositores viajavam muito, colhendo influências de França, Espanha, Portugal, Itália, Holanda e Inglaterra. Assim, encontramos sempre algumas influências dos grandes mestres desta época nas composições de uns e outros. A última peça do programa é uma fantasia para órgão de Andrea Gabrieli. Vindo de uma grande família de músicos italianos, deixou cerca de quatrocentas obras, hoje conhecidas. Frequentemente, trata-se de música vocal sacra que pode ser substituída por instrumentos. Esta muito virtuosa Fantasia por organo, na escrita contrapontística, parece imitar a escrita e as curvas musicais encontradas em peças polifónicas para sacabuxas.

Loriane Lorca


Programa:

ANÓNIMOS (Codex Faenza, c.1420)
Elas mon cuer (I)
Elas mon cuer (II)
Constantia

ANÓNIMOS (Manuscrito Susanne Van Soldt, 1599)
Daphné

LORIANE LLORCA
Improvisação

SAMUEL SCHEIDT (1587-1654)
Bergamasca
Gaillarde englese

JAN PIETERSZOON SWEELINCK (1562-1621)
Mein junges Leben hat ein End

LORIANE LLORCA
Improvisação

GIROLAMO FRESCOBALDI (1583-1643)
Toccata per l’elevatione
Bergamasca
(Fiori musicali, 1636)

LORIANE LLORCA
Improvisação

ANDREA GABRIELI (1533-1585)
Fantasia allegra


Foto Loriane Lorca 2023Loriane Llorca

Loriane Llorca começou a estudar órgão com Jesús Martín Moro no Conservatório de Pau. Continuou os seus estudos em Toulouse com Michel Bouvard, Stéphane Bois e Jan Willem Jansen antes de ingressar no Conservatoire National Supérieur de Musique et Danse de Paris em 2016, na classe de Olivier Latry e Michel Bouvard, onde concluiu os seus estudos com um mestrados em Órgão e um mestrado em Baixo Contínuo. Posteriormente, aperfeiçoou-se com Peter Van Dijk no Conservatório Real de Amesterdão. Licenciada em Musicologia pela Sorbonne, Loriane Llorca esforça-se para defender com convicção um amplo repertório que vai desde o Renascimento até a estreia de obras contemporâneas. Actualmente desenvolve um projeto em torno do órgão medieval portátil. Apoiada pela Fondation de France-Ustaritz, pela Fundação Meyer, pela Fundação Tarrazi, Adami, Société Générale e l'Or du Rhin, Loriane Llorca ganhou, em 2017, o Grande Prémio, assim como o Prémio do Público, no Concurso Internacional Jean-Louis Florentz, sob a égide da Academia de Belas Artes. Dando numerosos concertos como solista e em diversas formações em França e no estrangeiro, é também regularmente convidada pela Orquestra de Paris e pela Philarmonie de Paris para projectos com órgão.