18 outubro, quarta-feira, 21H30;
Igreja de São João Evangelista (Colégio) · Funchal;
RHEINBERGER – MÚSICA PARA ÓRGÃO E CORDAS
Órgão e cordas;
Manuel Tomadin, órgão;
Nikita Kuts, violino;
Pedro Silva, violoncelo.
«Professor ideal de composição, sem igual nem dentro nem fora da Alemanha», estas são as palavras com as quais Josef Gabriel Rheinberger, criança prodígio musical, foi definido. O compositor e professor de Liechtenstein nasceu em Vaduz em 1839 e aos sete anos tornou-se organista da Capela de San Florino, no mesmo país. Inicialmente, o pai opôs-se ao desejo do filho de seguir a vida como músico profissional, mas acabou permitindo ingressar no Conservatório de Munique aos 12 anos. Aos 13 anos foi nomeado vice-organista da igreja da Corte de San Michele. Destacou-se, não apenas como compositor, mas também como professor de música. Mais de seiscentos estudantes de todo o mundo herdaram as capacidades musicais de Josef Gabriel, entre eles o grande maestro Wilhelm Furtwängler que escreveu em 1940: «o seu preceito norteador foi sempre a naturalidade na música, refletida na sua direcção vocal, no seu sentido de forma e nos seus meios de expressão». Quando morreu em 1901, em Munique, onde viveu toda a sua vida adulta, tinha sido publicadas quase duzentas obras: música para piano e órgão, concertos de órgão, missas, hinos, música de câmara, sinfonias e aberturas de concertos. Em 1867 casou-se com sua ex-aluna, a poetisa Franziska von Hoffnaass (Fanny), que escreveu muitas das letras das obras vocais de Rheinberger. Certamente a sua esposa teve uma influência significativa na concepção artística do marido, mas ele também foi influenciado pela pintura e pela literatura (especialmente inglesa e alemã). As suas obras religiosas incluem doze missas, um Requiem, um Stabat Mater. As demais obras incluem sinfonias, música de câmara e música coral. Quando o actual Conservatório foi fundado em Munique, Rheinberger foi nomeado professor de órgão e composição, cargo que ocupou até à sua morte. Mostrou uma capacidade fenomenal na escrita para órgão. As suas sonatas foram aclamadas como: «[...] sem dúvida a contribuição mais válida para a música de órgão desde a época de Mendelssohn [...], caracterizada por uma feliz amálgama de espírito romântico moderno, contraponto magistral e nobre estilo organístico». Além dos dois esplêndidos concertos para órgão e orquestra, escreveu também música de câmara para vários instrumentos, incluindo duas suites para órgão e violino; e uma suite para órgão, violino e violoncelo. Poder de invenção, técnica magistral e estilo nobre e sólido, são algumas de suas grandes capacidades. O que é atraente na música de Rheinberger é que se inclina mais para linhas limpas e texturas claras; pelo contrário, outros compositores mostraram uma tendência para criar texturas densas, até opacas, criando por vezes um som semelhante ao de apoiar-se sobre todo o teclado com o cheio do órgão. No repertório de música de câmara composto por Rheinberger, destaca-se o para órgão e instrumentos, a utilização de cordas como violino e violoncelo mas também do oboé em duas composições muito interessantes e de alto nível. Muitas vezes algumas peças foram recicladas para diversas formações, é o caso do Abendlied, das Elegie e da Pastorale, das quais encontramos a versão dupla para violino e órgão ou para violoncelo e órgão, transpostas nas tonalidades mais adequadas. O mesmo acontece com uma de suas obras-primas, a Suite em dó menor op 149, tanto na versão para trio (violino, violoncelo e órgão), mas também na versão com orquestra e trio solo. Esta Suite é verdadeiramente uma obra-prima avassaladora onde os dois instrumentos de arco se entrelaçam com o órgão que ocupa o lugar da orquestra; também aqui Rheinberger usa algumas formas antigas, como a sarabanda, ou o tema com variações.
Manuel Tomadin
Programa:
JOSEF GABRIEL RHEINBERGER (1839-1901)
Sonata para órgão nº 19 Op. 193 em sol menor
Molto moderato ma energico
Provençalisch
Introduction und Finale
Abendlied Op. 150, nº 2
Suite para violino, violoncelo e órgão Op. 149 em dó menor
Con moto
Thema mit Veräderungen
Sarabande
Finale
Manuel Tomadin
Manuel Tomadin é provavelmente o organista italiano da sua geração mais premiado em concursos de interpretação. É diplomado, com a nota máxima; em, Órgão, Composição para Órgão e Cravo (Cum Laude); formou-se em Cravo. Ensina órgão no Conservatório «Giuseppe Tartini» em Trieste. Dedica-se constantemente ao aprofundamento dos problemas inerentes à prática performativa da música renascentista e barroca, também através do estudo dos tratados e dos instrumentos da época. De 2001 a 2003 estudou na Schola Cantorum Basiliensis (Suíça) na classe de Jean Claude Zehnder. De grande importância para sua formação foram as aulas com Ferruccio Bartoletti e Andrea Marcon. Desenvolve uma actividade concertística muito intensa, tanto como solista, como em grupos ou como acompanhador em toda a Europa. Gravou vários discos para diversas editoras de prestígio, utilizando sobretudo órgãos históricos de Friuli Venezia Giulia, Holanda e Alemanha. Os seus cds de Bruhns-Hasse, Kneller-Leyding-Geist, Tunder, Saxer-Erich-Druckenmulle e Krebs, foram classificados com «5 diapasões» pela revista francesa Diapason. É director artístico do festival de órgão Orgelherbst em Trieste e organista titular da Igreja Evangélica Luterana na mesma cidade. Foi vencedor de dez concursos nacionais e internacionais, entre os quais se destaca o segundo prémio (com o primeiro não atribuído) no prestigiado concurso «Paul Hofhaimer» em Innsbruck duas vezes (2004 e 2010) e o primeiro prémio absoluto na Schnitger Organ Competition de Alkmaar (Holanda) em 2011, com o título ECHO Young Organist 2012.
Nikita Kuts
Nikita Kuts nasceu em 1997 e com seis anos deu inicio ao estudo do violino sob orientação de Nana Khachkalyan, no então Gabinete Coordenador de Educação Artística no Funchal. Continuou os seus estudos no Conservatório Escola Profissional das Artes da Madeira, sob a tutoria de Norberto Gomes, terminando-os com distinção. Ao longo destes anos foi premiado em variados concursos em Portugal, com destaque para o primeiro prémio no Concurso Capela, em Lisboa. Participou em vários estágios de orquestra, sob a direção de maestros, como Jean-Sébastien Béreau, Antony Hermus, Cesário Costa, Rui Pinheiro e Martin André. Participou também em master classes com professores de reconhecido mérito pedagógico, como Ilya Grubert, Boris Kuschnir, Liviu Prunaru, Eliot Lawson, Alissa Margulis, Yuri Zhislin. Nikita Kuts foi solista convidado do Concerto de Encerramento da Temporada 2014/2015 da Orquestra Clássica da Madeira, tendo sido convidado para tocar novamente em 2017.
Integrou a Orquestra XXI em várias digressões, dirigidas por Dinis Sousa. Finalizou a sua Licenciatura no Conservatório de Amsterdão em 2019, sob tutoria do professor Ilya Grubert, seguida pelo curso Certificate of Performance, que terminou com nota máxima, na Escola Privada de Música e Artes de Viena, integrando a classe de Boris Kuschnir. Está neste momento a realizar um curso de Mestrado na Escola Privada de Música e Artes de Viena, sob tutoria de Dalibor Karvay.
Pedro Silva
Pedro Silva começou sua formação em violoncelo sob a orientação de Lázsló Szepesi no Conservatório Escola das Artes da Madeira, concluindo posteriormente o seu mestrado na Royal Academy of Music em Londres, onde foi aluno de Guy Johnston. Em 2014 foi vencedor do Solo Bach Prize for cello da Royal Academy of Music, pela sua interpretação da terceira Suite de Bach para violoncelo solo. Hoje, Pedro Silva goza de uma carreira multifacetada, atuando como solista, músico de câmara e membro de orquestra em diversos cenários internacionais, incluindo Portugal, Reino Unido, Coreia do Sul, Brasil, Irão, Arábia Saudita, entre outros. Colabora activamente com várias formações musicais, como a Orquestra XXI em Portugal, a BBC Concert Orchestra e a National Symphony Orchestra of Great Britain no Reino Unido. Com um foco particular em interpretações historicamente informadas, Pedro Silva associa-se a grupos especializados como The Mozartists, La Nuova Musica e Classical Opera Orchestra, onde actua como violoncelista barroco. Além de sua carreira musical, Pedro Silva é também co-fundador da empresa MyLuthier, dedicada à promoção e divulgação de instrumentos musicais contemporâneos.