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BW19Out202319 outubro, quinta-feira, 21H30; 
Igreja de São João Evangelista (Colégio) · Funchal; 

DE BACH A PIAZZOLA 
Cristina García Banegas, órgão. 


A ideia inicial de montar um repertório que combinasse Piazzolla com Bach foi sugerida pelo organista alemão Andreas Liebig, que me convidou para um concerto de órgão com programação exclusivamente dedicada a estes dois compositores, para o 10º Festival Krummhörner Orgelfrühling «Feuer und Wind», em 6 de Maio de 2011, em Emden (norte da Alemanha). A proposta era tentadora, mas poderia apresentar certas dificuldades em conseguir uma combinação que de alguma forma criasse um efeito de unidade, de empatia, no carcáter e nas tonalidades. Por fim, o projeto foi formado em dípticos como Prelúdio e Fuga (Tango e/ou Fuga, Coral ou Fantasia). Recordemos que, em 1933, Astor Piazzolla teve aulas de música com o pianista húngaro Bela Wilda, discípulo de Rachmaninov, de quem mais tarde disse: «Com ele aprendi a amar Bach».
Gostaria também de me referir ao facto de que este Piazzolla – criador do Nuevo Tango –, quando estava algumas vezes nas famosas praias da Punta del Este (Uruguai), costumava ir tocar harmónio numa capela, provavelmente para improvisar e recriar as suas próprias obras. Numa entrevista publicada no jornal uruguaio La República de 6 de Março de 1989 (especial de Raúl Forlán Lamarque e Carlos Peláez), referindo-se ao facto da sua música, em grande parte, ter uma densidade religiosa, Piazzolla disse: «É que sou muito religioso, muito crente e, como grande pisciano, sou um místico. Houve até um tempo em que quis entrar para uma igreja, não para ser padre, mas para tocar música religiosa no órgão. Até escrevi uma obra chamada Cristo y los ángeles cantores. Acontece que naquele momento eu não queria ser simplesmente um músico de tango. Queria ir mais longe e estudar órgão e comprar um harmónio. Foi um ataque de misticismo». Do meu lugar de intérprete da obra de Johann Sebastian Bach («remédio das almas»), gostaria de confirmar que me senti atraída para criar e recriar este «diálogo», transferindo-o para um cenário celestial imaginário a partir do momento em que «Piazzolla se encontra com o próprio Bach»… Ao mesmo tempo, dentro das diversas formas que um intérprete tem para recriar uma composição, enfim, tenho-me sentido livre na forma de traduzir essas composições para órgão, muitas vezes deixando que a eloquência da improvisação do momento me invada, tal como sucedia nos espectáculos ao vivo do próprio Astor Piazzolla. O Projeto «Piazzolla ao encontro de Bach» confronta um maravilhoso diálogo entre formas musicais, tonalidades, empatias, brincadeiras, com obras emparelhadas e com a sonoridade do órgão construído por Dinarte Machado em 2008, com recursos tímbricos muito coloridos, para nos aproximar de ambos os compositores.

Cristina Garcia Banegas


Programa:

ASTOR PIAZOLLA (1921-1992)
Verano porteño (Cuatro estaciones porteñas)

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750)
Fuga sobre um tema de Arcangelo Corelli BWV 579

ASTOR PIAZOLLA
Bandoneón (Suite troileana)

JOHANN SEBASTIAN BACH
Fantasia super «Christ lag in Todesbanden» BWV 695

ASTOR PIAZOLLA
Whisky (Suite troileana)

JOHANN SEBASTIAN BACH
Prelúdio coral «Ich ruf’ zu Dir» BWV 639

ASTOR PIAZOLLA
Sens unique

JOHANN SEBASTIAN BACH
Prelúdio e fuga em Fá maior BWV 556

ASTOR PIAZOLLA
LiberTango

JOHANN SEBASTIAN BACH
Prelúdio coral «In dich hab ich gehoffet, Herr» BWV 712

ASTOR PIAZOLLA
La muerte del Ángel (Serie del Ángel)

JOHANN SEBASTIAN BACH
Prelúdio em lá menor BWV 569

ASTOR PIAZOLLA
Adiós Nonino

JOHANN SEBASTIAN BACH
Fuga em Sol maior «alla Giga» BWV 577



Foto Cristina Banegas 2023Cristina Garcia Banegas

Cristina Garcia Banegas é titular da cadeira de Estudos de Órgão na Escola de Música da Universidade do Uruguai. Em 1987 fundou o “Ensemble Vocal e Instrumental De Profundis”, que tem dirigido durante os últimos vinte e três anos. É directora artística do Festival Internacional de Órgão douruguai, também fundado por ela em 1987 e directora do Children Choir Selection do Colegio Inglés, since 1989, e do coro “Los Niños de tu Ciudad” desde 2008. Começou os seus estudos de órgão com Renée Bonnet e Renée Pietrafesa (Uruguai) e continuou-os com Lionel Rogg, obtendo o “Premier Prix de Virtuosité” no Conservatório de Genebra, e com Marie-Claire Alain, obtendo o “Premier Prix d’Excellence avec Félicitations du Jury” no Conservatório de Rueil Malmaison em Paris. A sua intensa actividade de organista levou-a à Europa, América Latina, Estados Unidos, Rússia e Japão. As suas gravações incluem muitas obras de J. S. Bach e muitas peças da literatura barroca espanhola ou latino-americana, interpretadas em órgãos históricos. Dirigiu várias obras primas do repertório barroco e clássico, sempre com aplauso do público e aclamação da crítica. Recebeu vários prémios de orgão e distinções honoríficas, e o Ensemble De Profundis recebeu recentemente, da Fundação Itaú, o primeiro prémio como melhor coro institucional.