ING1PT1

D 04Sábado, 20 de outubro, 21h30 
Sé do Funchal 


Pequenos Cantores da Basílica da Estrela 
David Paccetti Correia, órgão 
Pedro Rollin Rodrigues, direção 


Em Portugal, a composição e a execução de música sacra, em particular de música específica para o culto (música litúrgica) entrou em decadência a partir de 1834, como consequência da implantação do regime liberal (expropriação da Igreja, extinção das ordens religiosas e encerramento compulsivo do Seminário da Patriarcal).
Sorte bem diferente teve a música sacra nos países de onde provém o repertório do presente concerto. De facto, em países como Alemanha, França e Reino Unido manteve-se, ao longo dos últimos séculos, a prática sistemática de excelente música litúrgica, tanto no âmbito da composição como no da execução. O programa do presente concerto é sobretudo um programa retirado do culto e expressão de uma grande corrente europeia da qual Portugal se tem mantido ausente.

O motete Ave Verum Op. 2, Nr. 1 (1887-1902), de Elgar, constitui uma meditação sobre a Eucaristia: destinava-se à liturgia da missa, ao momento da elevação do Santíssimo Sacramento. Edward Elgar (1857-1934) terá sido o compositor britânico mais famoso do seu período. O repertório sacro para coro e para órgão representa apenas uma parte diminuta, mas relevante, da sua produção. Os onze andamentos das Vesper Voluntaries Op. 14 (1890), para órgão solo, terão servido para iniciar e finalizar as orações da tarde (evening prayers) no templo.

Josef Gabriel Rheinberger (1839-1901) foi professor de órgão, de piano, e de Composição no Conservatório de Munique. As influências estilísticas no seu estilo são várias: Johannes Brahms, Franz Schubert e Johann Sebastian Bach. Compositor prolífico, é recordado principalmente pela extensa produção para órgão, que superou uma centena de peças. O seu repertório sacro compreende doze missas, um Requiem e um Stabat Mater. Na Missa Puerorum Op. 62 (1871-1872) a mestria e o estilo do compositor expressam-se bem: a harmonia é própria da época, usando recorrentemente cromatismos e acordes alterados, as melodias são cantabile.

Flor Peeters (1903-1986), nascido na Bélgica, não pretendeu perseguir a vanguarda oficial europeia, preferindo escrever música numa linguagem familiar e adotando formas clássicas. Colaborou com Jules Van Nuffel na produção da Nova Organi Harmonia – acompanhamentos ao órgão para o repertório de canto gregoriano de todo o ano litúrgico. Foi organista-mor da catedral de S. Romualdo em Mechelen, para cujo coro e órgão compôs o seu repertório sacro. Os seus grandes modelos foram os organistas e compositores Marcel Dupré, Charles Tournemire, e César Franck, cuja influência pode ser apreciada no uso do canon e no desenvolvimento temático. Peeters tinha uma predileção por linhas melódicas fluídas, influenciado pela tradição do canto gregoriano e da polifonia franco-flamenga.

César Franck (1822-1890), nasceu na atual Bélgica. As peças Panis Angelicus (1860) e Ave Maria FWV 62 (1863) pertencem ao período em que foi organista na Église de Sainte-Clotilde, em Paris, o momento em que finalmente encontra o seu estilo pessoal, iniciando uma revolução na perceção do que deveria ser a música sacra, afastando-a do estilo operático e marcial. A partir deste momento, os compositores e organistas já não poderiam escrever, tocar e improvisar como antes. Panis Angelicus é um andamento da Missa a três vozes em fá menor Op. 12 FWV 61; a sua posição entre os andamentos Sanctus e Agnus Dei, indica que, à semelhança da peça Ave Verum de Elgar, seria destinada ao momento da elevação.

John Rutter nasceu em Londres em 1945 e estudou música no Clare College, em Cambridge, tendo-se tornado no mais proeminente compositor britânico de música coral, sobretudo sacra, das últimas décadas. A Clare Benediction, com texto do próprio Rutter, revela a capacidade do autor em, fazendo jus às mais tradicionais características britânicas da arte da composição, conseguir deleitar o auditório mediante uma aparente simplicidade rítmica e harmónica; nesta peça, o paradigma musical é o da união entre a excelência formal e a utilidade prática, bem diferente do paradigma em que a arte dos sons aparece como auto-referente e concebida como um fim em si mesma.

David Paccetti Correia


 

Música litúrgica europeia para Coro Infantil e Órgão

Edward Elgar (1857-1934)
Ave Verum, Op. 2, nº 1
The Vesper Voluntaries Op. 14, nº 26 (órgão solo / organ solo)
Introduction. Adagio
Andante (I)
Allegro (II)
Andantino (III)
Poco allegro (VIII)
Coda. Adagio come prima
Ave Maria, Op. 2, nº 2

Joseph Gabriel Rheinberger (1839-1901)
Missa Puerorum, Op. 62
Kyrie
Gloria
Graduale
Credo
Sanctus
Benedictus
Agnus Dei

Flor Peeters (1903-1986)
Heures Intimes - Intieme Stonden (órgão solo)
Introduction - Aanvang
Adoration - Aanbidding
Prière du Soir - Avondgebed
Prière enfantine - Kinderbede
Méditation - Overweging
Interlude - Tusschenspel
Sortie - Naspel
Cortège - Feeststoet

César Franck (1822-1890)
Ave Maria, FWV 62
Panis Angelicus, Op. 12, FWV 61

John Rutter (n.1945)
A Clare Benediction


Participantes


 

David paccetti correiaDavid Paccetti Correia

Iniciou os estudos de Órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa. Em 1995, recebe o prémio de Órgão dos concursos da Juventude Musical Portuguesa. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, ingressou no Conservatório Superior de Música de Saragoça, onde obteve o Título de Profesor Superior, sob a orientação de José Luís González Uriol. Em 2008 termina a Licenciatura em Música da Universidade de Évora, como aluno de João Vaz. Em Lisboa, é organista titular da Igreja Católica de Língua Alemã e organista colaborador na Basílica da Estrela, além de diretor artístico da Schola Cantorum da Basílica da Estrela. Em Santarém, desempenha os cargos de gestor dos órgãos históricos, diretor artístico do Ciclo de Órgão, organista titular da Sé Episcopal e da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, assim como diretor artístico dos Pequenos Cantores de São Francisco. Tem realizado recitais em Portugal, Espanha e Áustria. Participou no Ciclo de Concertos a 6 Órgãos de Mafra 2011.

Pequenos CantoresSchola Cantorum da Basílica da Estrela (Pequenos Cantores)

Fundada em 2009 por David Paccetti Correia, é composta por dois coros: Pequenos Cantores e Grupo Vocal. Tem por missão reativar a grande tradição das capelas musicais existentes na igrejas do nosso país até 1834 e reúne as principais características perdidas há dois séculos: atuação conjunta de um coro de pequenos cantores com um grupo vocal de cantores profissionais; participação regular na liturgia; execução de música de excelência adequada a cada época litúrgica; criação de uma escola de música sacra que dá formação aos pequenos cantores. No seu breve historial, contam-se mais de vinte atuações em missa na Basílica da Estrela, o Concerto de Encerramento do 1º Ciclo de Órgão de Santarém, um Concerto de Ano Novo 2011 na Basílica da Estrela, um Concerto de Natal 2010 para a Administração da Brisa e uma atuação em missa transmitida pela RTP1. É seu diretor musical, desde setembro de 2010, Pedro Rollin Rodrigues.

Rollin Rodrigues

Pedro Rollin Rodrigues

Foi aluno do Instituto Gregoriano de Lisboa. Estudou Canto com Ana Leonor Pereira, Elsa Cortez e Armando Possante. É licenciado em Direção Coral e Formação Musical pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde foi aluno de Vasco Pearce Azevedo e Paulo Lourenço (Direção Coral) e de Maria Helena Pires de Matos (Direção e Modalidade Gregorianas). Frequenta atualmente a Licenciatura em Direção de Orquestra, na classe de Jean-Marc Burfin, na Academia Nacional Superior de Orquestra - Orquestra Metropolitana de Lisboa. Frequentou cursos de Direção Coral com os maestros Stephen Cocker, Peter Phillips, Owen Rees, entre outros. É coralista do Coro Gulbenkian, do Ensemble Lusiovoce e do Coro Gregoriano de Lisboa. É membro fundador e diretor artístico do Ensemble Studio Contrapuncti. Integrou o corpo docente do Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa. Desde 2010, tomou a cargo a direção musical dos Pequenos Cantores da Basílica da Estrela.


Notas ao Órgão


 

D 07Sé do Funchal

Na Sé do Funchal, a presença de um órgão surge documentada pela primeira vez no alvorecer do século XVI. Em 1739, D. João V ofereceu à Sé um novo órgão, construído em Lisboa pelo organeiro Francisco do Rego Matos. Em 1740, o Cabido mandou colocar este instrumento na primitiva tribuna, situada à esquerda da capela-mor. Encontrando-se num estado não funcional, em 1925 o órgão foi desarmado e, onze anos depois, oferecido à Igreja do Colégio. Em sua substituição, o Cabido da Sé optou por comprar o órgão então pertencente à Igreja Anglicana. A ata da sessão do Cabido da Sé, lavrada a 5 de janeiro de 1937, refere “que por ordem de Sua Ex.ma Reverendíssima, o Senhor Bispo havia comprado o atual órgão que pertencia à Igreja Anglicana, cujo custo foi de trinta e quatro contos e quinhentos escudos, acrescidos das despesas de transporte, montagem, etc”, sendo colocado no coro alto à entrada da porta principal da Sé. Este instrumento, desde então várias vezes intervencionado, foi construído em Inglaterra no ano de 1884, por encomenda de um médico inglês que residia na Madeira e que também se dedicava à arte organística. A dada altura, este médico decidiu oferecê-lo à Igreja Anglicana.

O órgão resultara da colaboração de vários organeiros, tendo sido o responsável pela montagem T. A Samuel no ano de 1884 (Organ Builder, Montague Road, Dalston-London). Os tubos – ou uma parte dos tubos – foram construídos pela firma Charles S. Robson (1861), os someiros pela firma Wilson Gnnerson, os teclados pela firma S. W. Browne e uma parte dos tubos metálicos pela empresa A. Speneir (1884).

Originalmente munido de uma tração mecânica, há três décadas o instrumento sofreu consideráveis modificações, tendo-se alterado partes do mecanismo e acrescido alguns registos palhetados “em chamada”. Estas intervenções acabaram por descaracterizar completamente o órgão, sem lhe conferir maior qualidade musical. Em consequência disto e com a intenção de proporcionar à Sé Catedral um instrumento adequado para fins litúrgicos e concertísticos, realizaram-se nos anos de 1995/96 importantes obras de restauro que foram levadas a bom termo por Dinarte Machado.

I Manual (C-g’’’)

Open Diapason 8’
Flöte 8’
Holz Bourdon 8’
Principal 4’
Waldflöte 4’
Nazard 2 2/3’
Super Octave 2’
Mixture 1 1/3’ de 4 filas
Dulçaína
Trompette 8’

II Manual (C-g’’’)

Voix Celeste 8’
Gamba 8’
Gedeckt 8’
Principal 4’
Spitzflöte 4’
Octave 2’
Simbala 1’ de 4 filas
Krummhorn 8’
Tremblant

Pedal (C-g’’’)

Subbass 16’
Open Diapason 16’
Octave 8’
Bombarde 16’
Trompette 8’

Acoplamentos / Couplers

I/II
I/Pedal
II/Pedal