ING1PT1

D 06Domingo, 20 de outubro, 18h00 
Igreja de Nossa Senhora da Luz, (Ponta do Sol) 

Segunda, 21 de outubro, 21h30 
Recolhimento do Bom Jesus 


 

Giovannimaria Perrucci: órgão 
Peppe Consolmagno: voz e percussão 


 

A Inglaterra elisabetana é certamente um dos períodos mais fascinantes da história cultural europeia. Um tempo do teatro de Shakespeare e de Marlowe, mas também de música incrível, como aquela que se encontra no Fitzwilliam virginial book, que contém também obras de Gibbons, Byrd, Farnaby e Bull. Música fascinante de grande encanto e carácter, este tipo de composição é caracterizado pelo material contrapontístico refinado e ao mesmo tempo por uma extraordinária vitalidade melódica, particularmente mostrada nas composições baseadas em temas populares.

A ideia deste concerto é combinar o rigor da escrita musicais do chamado estilo virginalista inglês, com a espontaneidade e extemporaneidade típicas do teatro elisabetano, inspirado por William Kemp, actor, palhaço, músico e dançarino das mais importantes óperas de Shakespeare. Para conseguir este difícil equilíbrio, a ideia tem sido a de não olhar apenas para a recuperação filológica das combinações de timbres, prováveis da época, mas também para os sons experimentais de Peppe Consolmagno, que intervêm livremente com os seus instrumentos étnicos (graças à sua pesquisa musicológica feita na América do Sul, África e Ásia) e com a voz.

O tapete sobre o qual Peppe Consolmagno coloca os seus instrumentos parece-se com uma oficina do ritmo e dos sonhos, um espaço livre da cacofonia da vida moderna dedicado ao prazer do som. Peppe Consolmagno constrói objetos sonoros para si e para Nana Vasconcelos, um de seus muitos apreciadores. A maioria dos objetos são construídos com materiais recuperados a partir das suas viagens pelo mundo, outros são imaginados combinando sua voz à sinfonia de timbres e cores que se originam a partir desta singular orquestra formada por uma pessoa: grandes cucurbitáceas convertidas em tambores de água, um gongo birmano, potes africanos de terracota, flautas pigmeu e muitos mais. Alguns instrumentos são provenientes de tradições mais heterogéneas como a América do Sul, África, Ásia e regiões imaginárias, e outros são totalmente inventados ou reinventados por ele. Musicólogo estimado, animador brilhante de seminários e workshops, Peppe Consolmagno constrói as suas performances como contos curtos numa dimensão deliciosamente mágica.

Giovannimaria Perrucci e Peppe Consolmagno


Anónimo (Inglaterra, séc. XVI)
La bell Fyne

Arthur Phillips (1605-1695)
A Ground

Orlando Gibbons (1583-1625)
Fantasie

Hug Aston (1480-1552)
A Hornpype

Orlando Gibbons
Italian ground

John Bull (1562-1628)
In Nomine

Henry Purcell (1659-1695)
A Ground

Anónimo (Inglaterra, séc. XVI)
Upon La Mi Re

Henry Purcell
Rondó


Participantes


 

Giovannimaria PerruciGiovannimaria Perrucci

Estudou órgão, cravo e composição no Conservatório «Rossini», em Pesaro, tendo prosseguido os estudos em França, na classe de Xavier Darasse (Órgão) e de Jan Willem Jansen (Cravo) no Conservatoire National Superieur de Lyon. Realiza concertos, tanto como solista como em colaboração com solistas e conjuntos, participando de festivais em toda a Europa. Gravou para a RAI, italiana, Rádio Montebeni e a Hessischer Rundfunk de Frankfurt. Gravou CD’s gravações para as editoras Discantica (Milão), Bongiovanni (Bolonha), Clavis (Roma) e Opera 3 (Madrid). Sensível ao património do órgão histórico italiano, tem contribuído para o inventário dos órgãos históricos da Região das Marche, financiado pela Regione Marche e é atualmente vice-presidente da rede organística Marche & organi. É autor de textos sobre a organaria daquela região, incluindo o catálogo de órgãos históricos em algumas dioceses das Marche e um texto para o Instituto de Órgãos Históricos Italianos em Roma. Preparou também a edição moderna das obras para tecla de Francesco Basilj (1765-1850) e de órgão de Mezio Agostini (1875-1944). É professor no Conservatório «G. B. Pergolesi», em Ancona, no Instituto Diocesano de Música Sacra em Fano e é organista da Basílica de São Paterniano mesma cidade.

Peppe ConsolmagnoPeppe Consolmagno

Peppe Consolmagno, nasceu em Rimini em 1958 e cresceu na Itália. Utiliza em grande parte instrumentos construídos por ele mesmo, com material colhido nas suas viagens, como a cabaça, bambu, madeira e metal. A sua música exprime-se através de instrumentos que pertencem a culturas extraeuropeias como a do Brasil (a sua principal fonte de inspiração), da África e da Ásia, mas que têm uma linguagem comum. O gong Birmano, a conchinha, as taças de meditação, os vasos africanos, as flautas de uma nota só dos pigmeus, os tambores de água e o berimbau, unidos à sua voz e a íntima relação com estes, criam uma dimensão única onde predomina o som natural, o silêncio, o timbre e o ritmo. Consolmagno escreve para revistas especializadas e jornais como "World Music" e "Percussioni", "Strumenti Musicali", "Jazz", "DrumClub", "Il Manifesto", "Jazzitalia", "CiaoJazz", "CupaCupa", "Musicando", e outros. Foi convidado para ir a Salvador-Bahia como o único europeu ao III e IV Perc Pan (Panorama Mundial da Percussão). Através do seu trabalho como jornalista e as suas entrevistas a músicos famosos, ele pretende dar voz ao estilo e à sua forma de pensamento, que o faz comum a estes artistas. Tem colaborado com outras formas artísticas como teatro, pintura, escultura, poesia e dança. Deu seminários em universidades e escolas, participando também em programas de rádio e televisão.


Notas ao Órgão


 

D 01Igreja de Nossa Senhora da Luz, Ponta do Sol

Este instrumento é um órgão positivo de armário e encontra-se instalado no coro alto. O seu autor foi o organeiro João da Cunha (n. 1712 – m. 1762) que o construiu no ano de 1761, em Lisboa, conforme consta da inscrição no interior do secreto. João da Cunha, natural de Lisboa, era pai de Leandro José da Cunha (n. 1743 – m. após 1805), construtor do órgão positivo da Igreja do Recolhimento do Bom Jesus, no Funchal. Tendo sofrido algumas intervenções de menor importância, o instrumento manteve em grande parte o seu carácter original e foi restaurado em 2005-06 por Dinarte Machado que lhe restituiu o diapasão e o temperamento original, bem como o sistema primitivo da alimentação do ar.

Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’)

Flautado tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena (1 1/3’)
Vintedozena (1’)
Sesquialtera de II

D 05Recolhimento do Bom Jesus, Funchal

Este pequeno órgão positivo foi construído em 1781 por Leandro José da Cunha (n. 1743 – m. após 1805), natural de Lisboa e um dos três construtores identificados desta família de organeiros. Leandro era filho do organeiro João da Cunha (n. 1712 – m. 1762), igualmente natural de Lisboa, que construiu o órgão da igreja de Nossa Senhora da Luz, de Ponta do Sol.

O órgão representa um tipo de instrumento muito característico para o conceito da organaria portuguesa da primeira metade do século XVIII. O facto de o instrumento não ter possuído – originalmente e à semelhança com muitos outros positivos daquela época – um registo base de 8’ (q. d. de 12 palmos) mas apenas de 6 palmos, parece indicar uma prática musical que contava com o reforço da região grave por meio de um outro instrumento.

Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’)
Flautado de 6 tapado (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena (1 1/3’)
22ª e 26ª
Sesquialtera II ( )