Sábado, 19 de outubro, 21h30
Sé Catedral
António Esteireiro: órgão
Coro Gregoriano de Lisboa: Armando Possante direção
Comum da Dedicação da Igreja
O ritual da dedicação da Igreja é um dos mais antigos de que há registo, remontando provavelmente aos primeiros tempos do Cristianismo e sendo sempre revestido de grande solenidade e importância. Será esta a missa interpretada pelo Coro Gregoriano de Lisboa, celebrando assim a passagem de mais um aniversário da dedicação do altar da Sé Catedral do Funchal (dedicada a 18 de Outubro de 1517). Os textos cantados referem-se a este lugar tremendo como a casa de Deus e a porta do Céu, e serão intercalados por comentários improvisados pelo órgão.
A tradição musical do canto litúrgico alternado com a improvisação continua a ser parte integrante da prática musical regular das principais catedrais, onde o rito e a liturgia são muitas vezes pontuados por enquadramentos musicais improvisados pelo organista, adequados ao simbolismo e à duração de cada momento. A inclusão dos textos litúrgicos nestas notas de programa propõe o enriquecimento da experiência auditiva do ouvinte, permitindo-lhe interligar possíveis contextualizações para as várias improvisações.
A concluir o concerto teremos uma transcrição duma improvisação gravada por Charles Tournemire, proeminente organista e compositor francês, sobre o hino litúrgico católico Te Deum. Esta obra faz parte dum conjunto de cinco improvisações gravadas por Tournemire em 1930 e posteriormente transcritas pelo seu aluno Maurice Duruflé (1902-1986). Apesar de ser uma transcrição duma improvisação e não uma composição original, tornou-se uma das obras mais executadas daquele compositor, sendo não só testemunho da prática musical litúrgica da época, mas também fonte de inspiração para inúmeros improvisadores até aos nossos dias.
António Esteireiro
COMMUNE DEDICATIONIS ECCLESIAE
Proprium da Dedicação duma Igreja (Canto Gregoriano e improvisações ao órgão)
Canto Gregoriano
Introitus (Gen. 28: 17, 22 / Ps. 83, 2-3)
Kyrie XIV
Gradual
Offertorium (I Cr. 29 : 17, 18)
Communio (Mt. 21: 13)
Te deum
Charles Tournemire (1870-1939)
Improvisation sur le Te Deum
INTROITUS (Gen. 28: 17, 22 / Ps. 83, 2-3)
Terribilis est locus iste : hic domus Dei est, et porta cæli : et vocábitur aula Dei.
Quam dilécta tabernácula tua, Dómine virtútum! concupíscit, et déficit ánima mea in átria Dómini. Glória Patri, et Filio, et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum. Amen. Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos céus.
Porque eis que teus inimigos fazem tumulto, e os que te odeiam levantaram a cabeça. Tomaram astuto conselho contra o teu povo, e consultaram contra os teus escondidos. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espirito Santo, assim como era no principio, agora e sempre. Amen
KYRIE
Kyrie eléison.
Christe eléison.
Kyrie eléison Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
GRADUAL
Locus iste a Deo factus est, inæstimábile sacraméntum, irreprehensíbilis est. V/. Deus, cui stat Angelórum chorus, exáudi preces servórum tuórum. Este lugar foi feito por Deus, Sacramento inestimável, Obra irrepreensível. V/.
Ó Deus, diante de quem está o coro dos anjos, ouvi as orações dos vossos servos.
OFFERTORIUM (I Cr. 29 : 17, 18)
Domine Deus, in simplicitáte cordis mei lætus óbtuli univérsa; et pópulum tuum, qui repértus est, vidi cum ingénti gáudio : Deus Israel, custódi hanc voluntátem, Domine Deus. Eu sei, meu Deus, que perscrutas os corações e amas a rectidão; por isso, é na rectidão e na espontaneidade do meu coração que te ofereço tudo isto, e é com alegria que vejo agora o teu povo aqui presente trazer-te, voluntariamente, as suas oferendas.
COMMUNIO (Mt. 21: 13)
Domus mea, domus oratiónis vocabitur, dicit Dóminus : in ea omnis qui petit, áccipit : et qui quærit, ínvenit : et pulsánti aperiétur. A minha casa será chamada casa de oração, diz o Senhor: porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á.
TE DEUM
Te Deum laudamus: te Dominum confitemur.
Te aeternum Patrem omnis terra veneratur.
Tibi omnes Angeli; tibi Caeli et universae Potestates;
Tibi Cherubim et Seraphim incessabili voce proclamant:
Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth.
Pleni sunt caeli et terra maiestatis gloriae tuae.
Te gloriosus Apostolorum chorus,
Te Prophetarum laudabilis numerus,
Te Martyrum candidatus laudat exercitus.
Te per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia,
Patrem immensae maiestatis:
Venerandum tuum verum et unicum Filium;
Sanctum quoque Paraclitum Spiritum.
Tu Rex gloriae, Christe.
Tu Patris sempiternus es Filius.
Tu ad liberandum suscepturus hominem, non horruisti Virginis uterum.
Tu, devicto mortis aculeo, aperuisti credentibus regna caelorum.
Tu ad dexteram Dei sedes, in gloria Patris.
Iudex crederis esse venturus.
Te ergo quaesumus, tuis famulis subveni: quos pretioso sanguine redemisti.
Aeterna fac cum sanctis tuis in gloria numerari.
Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic hereditati tuae.
Et rege eos, et extolle illos usque in aeternum.
Per singulos dies benedicimus te.
Et laudamus nomen tuum in saeculum, et in saeculum saeculi.
Dignare, Domine, die isto sine peccato nos custodire.
Miserere nostri, Domine, miserere nostri.
Fiat misericordia tua, Domine, super nos, quemadmodum speravimus in te.
In te, Domine, speravi: non confundar in aeternum. Nós te louvamos, ó Deus:
Nós te glorificamos, Senhor.
Eterno Pai, a terra inteira te venera.
Todos os Anjos, céus e potestades do universo,
Todos os Querubins e Serafins,
Em vozes incessantes te aclamam:
Santo, Santo, Santo
É o Senhor Deus dos exércitos.
Os Céus e a terra estão cheios da sua glória.
O coro glorioso dos Apóstolos,
A falange imensa dos profetas,
O exército dos mártires te louvam.
Por toda a terra te celebra
A tua santa Igreja,
Pai de majestade infinita,
E venera o teu único e verdadeiro Filho,
E o Espírito Santo consolador.
És tu o rei da glória, ó Cristo.
És tu o Filho do Pai eterno.
Tu que para remissão dos homens,
Não recusaste o ventre da Virgem.
Tu que, quebrando o aguilhão da morte,
Aos fiéis abriste o reino dos céus.
Tu que, à direita de Deus tens assento,
Na glória do Pai,
És o Juiz que acreditamos nos há-de julgar.
A ti, por isso, nós pedimos: salva o teu povo,
Que por teu precioso sangue foi redimido.
Que na eternidade nos possamos contar entre os Santos.
Salva o teu povo, Senhor,
Abençoa a tua herança.
E guia-os até à eternidade.
Em cada dia te louvamos,
Bendizendo o teu nome
Pelos séculos dos séculos.
Senhor, digna-te hoje
Guardar-nos sem pecado.
Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade.
Desça tua misericórdia, Senhor, sobre nós,
Segundo a esperança que em ti depositamos.
Em ti, Senhor, eu confiei:
Que não seja confundido para sempre.
Participantes
António Esteireiro Natural de Lisboa, é licenciado em Órgão pela Escola Superior de Música e Teatro de Munique, e em Música Sacra pela Escola Superior de Música Sacra de Regensburg (Órgão e Improvisação com Franz Josef Stoiber). Posteriormente frequenta a classe de Órgão de Hans-Ola Ericsson na Escola Superior de Música de Bremen. Tem realizado concertos tanto como solista, como integrado em várias formações corais e orquestrais, em vários países europeus e no Brasil. Além de convidado regular dos principais ciclos de concertos e festivais de órgão nacionais, coordenou também os Ciclos de Concertos de Órgão na Basílica dos Mártires em Lisboa, e a Integral da Obra para Órgão de Olivier Messiaen. Professor de Órgão nos Cursos Nacionais de Música Litúrgica organizados pelo Santuário de Fátima, é também colaborador regular do Serviço de Música Sacra da Paróquia de Santa Maria de Belém. No âmbito dessa colaboração assume também a programação do primeiro Ciclo de Concertos de Órgão no Mosteiro dos Jerónimos. Actualmente lecciona no Instituto Gregoriano e na Escola Superior de Música de Lisboa as disciplinas de Órgão e Improvisação. |
Coro Gregoriano de Lisboa Fundado em 1989 por Maria Helena Pires de Matos e dirigido por Armando Possante desde 2011, tem por objectivo divulgação do Canto Gregoriano através de uma intensa actividade de concertos em Portugal e no estrangeiro. Da sua actividade destaca-se a participação na Lisboa 94, Capital Europeia da Cultura, Jornadas de Música Antiga da Fundação Calouste Gulbenkian, Concertos de Páscoa na Casa da Música, digressão nacional dos 300 anos da morte do Padre António Vieira, Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, organização do Festival Internacional de Canto Gregoriano de Tomar, a participação no filme Quem és tu de João Botelho, a 1ª apresentação em Portugal da obra de Messiaen, Et exspecto resurrectionem mortuorum, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa sob a direcção de Michael Zilm e nos 20 anos do Festival Música em São Roque. Participação em programas de TV e rádio como, Percursos da Música Portuguesa da RTP, editou cinco discos: uma gravação ao vivo da Missa pela Chuva editada pela EPAL em 1999 e os restantes editados pela DECCA - Liturgia de Santo António (1993) que recebeu o CHOC do Le Monde de la Musique, Missa pela Paz (1997) - contemplado com o Diapason d'Or da revista Diapason, Liturgias de Santos Europeus do 1º Milénio (2004) e Os Apóstolos (2011), nomeado para o prémio Autores da SPA como melhor trabalho de Música Erudita. |
Armando Possante Estudou no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Superior de Música de Lisboa, onde concluiu o Bacharelato em Direção Coral e as Licenciaturas em Canto Gregoriano. Estudou Canto em Viena com a Professora Hilde Zadek e frequentou masterclasses de Canto com Christianne Eda-Pierre, Christoph Prégardien, Siegfried Jerusalem e Jill Feldman. Frequentou cursos de Canto Gregoriano em Itália e Portugal com Nino Albarosa, Johannes Göschl, Alberto Turco e Luigi Agustoni. Lecciona no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Superior de Música de Lisboa. Orientou workshops de Canto e música coral em Portugal, Inglaterra, Canadá e Singapura. É director musical e solista do Grupo Vocal Olisipo e do Coro Gregoriano de Lisboa apresentado-se em concertos por toda a Europa, Ásia, América e África e gravado mais de uma dezena de CDs. Conquistou com o Grupo Vocal Olisipo quatro primeiros prémios e vários prémios de interpretação em concursos internacionais na Bulgária, Finlândia e Itália. Conquistou o 3º prémio no Concurso Vozes Ibéricas, o 3º prémio no Concurso Luisa Todi e o 1º prémio no Concurso de Interpretação do Estoril. Apresentou-se como solista nas principais obras do repertório de concerto e em ópera e nas óperas Così fan Tutte, L’Amore Industrioso, As Variedades de Proteu, Dido and Aeneas, The Fairy Queen, Venus and Adonis, La déscente d’Orphée aux Enfers, La Donna di Génio Volubile, La Dirindina, A Floresta, Corpo e Alma, Jeremias Fisher, O Sonho e L’Elisir d’Amore. |
Notas ao Órgão
Sé do Funchal
Na Sé do Funchal, a presença de um órgão surge documentada pela primeira vez no alvorecer do século XVI. Em 1739, D. João V ofereceu à Sé um novo órgão, construído em Lisboa pelo organeiro Francisco do Rego Matos. Em 1740, o Cabido mandou colocar este instrumento na primitiva tribuna, situada à esquerda da capela-mor. Encontrando-se num estado não funcional, em 1925 o órgão foi desarmado e, onze anos depois, oferecido à Igreja do Colégio. Em sua substituição, o Cabido da Sé optou por comprar o órgão então pertencente à Igreja Anglicana. A acta da sessão do Cabido da Sé, lavrada a 5 de Janeiro de 1937, refere “que por ordem de Sua Ex.ma Reverendíssima, o Senhor Bispo havia comprado o actual órgão que pertencia à Igreja Anglicana, cujo custo foi de trinta e quatro contos e quinhentos escudos, acrescidos das despesas de transporte, montagem, etc”, sendo colocado no coro alto à entrada da porta principal da Sé. Este instrumento, desde então várias vezes intervencionado, foi construído em Inglaterra no ano de 1884, por encomenda de um médico inglês que residia na Madeira e que também se dedicava à arte organística. A dada altura, este médico decidiu oferecê-lo à Igreja Anglicana.
O órgão resultara da colaboração de vários organeiros, tendo sido o responsável pela montagem T. A Samuel no ano de 1884 (Organ Builder, Montague Road, Dalston-London). Os tubos – ou uma parte dos tubos – foram construídos pela firma Charles S. Robson (1861), os someiros pela firma Wilson Gnnerson, os teclados pela firma S. W. Browne e uma parte dos tubos metálicos pela empresa A. Speneir (1884).
Originalmente munido de uma tracção mecânica, há três décadas o instrumento sofreu consideráveis modificações, tendo-se alterado partes do mecanismo e acrescido alguns registos palhetados “em chamada”. Estas intervenções acabaram por descaracterizar completamente o órgão, sem lhe conferir maior qualidade musical. Em consequência disto e com a intenção de proporcionar à Sé Catedral um instrumento adequado para fins litúrgicos e concertísticos, realizaram-se nos anos de 1995/96 importantes obras de restauro que foram levadas a bom termo por Dinarte Machado.
I Manual (C-g’’’)
Open Diapason 8’
Flöte 8’
Holz Bourdon 8’
Principal 4’
Waldflöte 4’
Nazard 2 2/3’
Super Octave 2’
Mixture 1 1/3’ de 4 filas
Dulçaína
Trompette 8’
II Manual (C-g’’’)
Voix Celeste 8’
Gamba 8’
Gedeckt 8’
Principal 4’
Spitzflöte 4’
Octave 2’
Simbala 1’ de 4 filas
Krummhorn 8’
Tremblant
Pedal (C-g’’’)
Subbass 16’
Open Diapason 16’
Octave 8’
Bombarde 16’
Trompette 8’
Acoplamentos / Couplers
I/II
I/Pedal
II/Pedal