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D 04 1Sexta-feira, 18 de outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista (Colégio)


Filipe Veríssimo: órgão
Yevgen Gertsev: trompete


 

O programa deste concerto é constituído por três peças para órgão solo de Dieterich Buxtehude, Johann Sebastian Bach e Felix Mendelssohn-Bartholdy, que são intercaladas por três peças para trompete e órgão de Enjott Schneider. Propomos uma viagem por mais de três séculos e meio de música através da qual podemos experimentar toda a fantasia, criatividade e, ao mesmo tempo, rigor formal presentes na generalidade das composições germânicas de música para órgão, desde o barroco até aos nosso dias.

Praeludium (no período barroco, no norte da Alemanha) é uma peça que combina secções livres com outras secções baseadas em motivos. Normalmente apresentam cinco partes: secção livre (Toccata) – Fuga – secção livre (Toccata ou Recitativo) – Fuga – secção livre (Toccata). Contudo, poderiam existir mais secções livres ou, como é o caso da peça de hoje, duas secções de carácter fugado sem secção livres entre elas. O Praeludium em Fá sustenido menor, Bux WV 146 é considerado como uma das obras-primas de Buxtehude. Está escrito numa tonalidade que era raramente utilizada no período barroco: fá sustenido menor. Refira-se apenas que Bach nunca utilizou esta tonalidade nas suas composições para órgão.

YinYang é a unificação dos polos extremos. O autor inspirou-se em dois nomes imaginários Maluma e Takate. Maluma é descrita como redonda e macia, enquanto que Takete duro e angular. O mesmo acontece com a Toccata que é uma peça forte, estável e angular, em staccato, enquanto que Melisma, em legato, é uma peça graciosa e redonda. Essa polaridade é tão elementar como o “homem e a mulher”. A ligação ao símbolo YinYang deve-se à forma como o melisma e a tocata se interligam e unificam.

A evidência sugere que Bach apresentou a Fantasia e Fuga em sol menor, BWV 542 num teste para uma posição de organista em Hamburgo, em 1720. Bach não conseguiu o emprego mas, felizmente, deixou escrita esta peça para a posteridade. Desde então, várias gerações de organistas tê-la-ão considerado uma das joias da coroa do seu repertório. Fantasia e Fuga foram escritas separadamente: a fuga é atribuída anos de Bach em Weimar (1708-1717) e a fantasia do seu tempo em Cöthen (1717-1723). Podemos estabelecer um paralelo entre a Fantasia e Fuga em sol menor (BWV 542) e a obra de Buxtehude: apresenta cinco secções bastante equilibradas entre si. Secções de grande intensamente dramática alternam com secções mais suaves de carácter contrapontístico. A Fantasia, sob o ponto de vista harmónico, tem fascinado mais de dois séculos de músicos. Quando algum tipo de estabilidade harmónica parece chegar, Bach troca-nos as voltas com uma surpreendente cadência que transporta a música para um reino completamente novo. Depois da Fantasia, surge a Fuga que, sendo também ela harmonicamente ambiciosa, é uma espécie de feito final de Bach na área do contraponto para órgão. De carácter contrastante com a Fantasia, a Fuga pode ser vista como uma resposta estável e pacificadora à intensidade dramática expressa na Fantasia.

Gethsemane é uma meditação a partir de versículos dos Evangelhos segundo S. Mateus e S. Lucas que relatam os acontecimentos e o ambiente vivido em torno da última aparição de Jesus antes de sua captura no jardim do Getsêmani. Os Evangelhos relatam que esses acontecimentos foram acompanhados por orações suplicantes, repetidas três vezes, que eram como que uma espécie de aviso para se manter acordado, em guarda, preparado para as últimas horas. Tendo como base uma série de 12 tons, os motivos e uma chaccone são criados. Através deles pode ser imaginada a oração repetitiva e desesperada. As linhas fluentes da trompete referem-se à espiritualidade presente em todas as acções levadas a cabo por Jesus na Terra. Jesus que naquele momento se apercebe da sua singularidade e solidão no meio de seus discípulos.

Mendelssohn escreveu seis sonatas para órgão. A Sonata nº 3 em Lá maior é a única que apresenta dois andamentos: Con moto maestoso e Andante tranquillo. A abertura e o final do primeiro andamento são constituídos pela peça de entrada que Mendelssohn escreveu para o casamento da sua irmã Fanny. No meio, uma dupla Fuga tendo como base o coral luterano “Aus tiefer Not schrei ich zu dir” (Das profundezas clamo por Ti).

Exclamatio é uma obra que explora o “grito” de uma forma multifacetada: no início o grito é como uma fanfarra, grita por atenção, torna-se num grito de raiva, em seguida, um grito de saudade, um grito por amor que em crescendo se transforma num grito de combate. No Adagio final, os motivos de sonoridade agressiva tornar-se num lamento ou apelo silencioso. Com uma recaída em silêncio, o grito é mais eficaz – a Exclamatio mais intensa.

Filipe Veríssimo


Dieterich Buxtehude (1637-1707)
Prelúdio e fuga em fá sustenido menor, BuxWV 146

Enjott Schneider (1950)
YINYANG, Toccata e Melisma para trompete e órgão (2009)

Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Fantasia e Fuga em sol menor, BWV 542

Enjott Schneider
Gethsemane para trompete e órgão (2008)

Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847)
Sonata nº 3 em Lá maior
Com moto maestoso
Andante tranquillo

Enjott Schneider
Exclamatio para trompete e órgão (1999)


Participantes


 

Filipe VerissimoFilipe Veríssimo

Filipe Veríssimo (Porto, 1975) é licenciado em Música Sacra pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa onde estudou órgão e improvisação com M. Bernreuther, J. Blasby e F. Lehrndorfer, direcção de coro com Eugénio Amorim, Jorge Matta e Jorg Straube e direcção de orquestra com Cesário Costa. Frequentou diversos cursos de aperfeiçoamento e masterclasses de órgão com L. Antoniotti, O. Latry, E. Lebrun, P. Planiavsky, D. Roth e F. Stoiber, e de direcção coral com H. Velten. Em 2002, foi nomeado Organista Titular e Mestre Capela da Igreja da Lapa (Porto). Desde então tem desenvolvido, em estreita colaboração com o Cónego Dr. Ferreira dos Santos, um intenso trabalho como director de coro e orquestra, tendo preparado e dirigido algumas das mais importantes obras do repertório coral sinfónico. Como organista, tem realizado várias tournées de concertos, a maior parte das vezes integrados em Festivais nacionais e internacionais de órgão, em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Bélgica e Polónia. Integra uma equipa internacional de organistas que está a realizar, desde 2009, uma tournée europeia de concertos com a obra La Révolte des Orgues para Grande Órgão, oito órgãos positivos, percussão e maestro, do célebre organista e compositor francês, Jean Guillou. É detentor do 1º prémio do 1º Concurso Nacional de Órgão. Tem-se dedicado à apresentação, em primeira audição, de algumas obras do P. Ferreira dos Santos.

Yevgen GetsevYevgen Gertsev

Em 1989 começou os estudos da música, entrando n’uma escola básica da música, tendo trompete como instrumento principal.

Em 1994, concluindo o curso básico, entrou no Colégio Estatal de Música do Kiev R.M. Glier, faculdade-instrumentos de sopro. Classe de trompete do professor Yuriy Kornilov (trompete principal na Orquestra Sinfónica do Kiev).

Em 1997 acabou o curso do Colégio, recebendo o diploma de artista de orquestra, professor de trompete e regente de orquestra de sopros.

No mesmo ano entrou na Universidade Estatal de Cultura e Artes do Kiev.

Em 1999 foi convidado para exercer funções de professor de trompete em Portugal na Academia de Música da ilha Graciosa.

Desde 2000 e até a atualidade esta a trabalhar no Conservatório-Escola das Artes da Madeira Luiz Peter Clode.
Participou em vários cursos e masterclasses relacionados com ensino artístico com artistas e professores famosos, tais como Alen Vizzutti, Zakhar Bron, Radovan Vlatkovic, Niklas Eklund, Jorge Almeida entre outros.

Participou em muitos concertos e eventos musicais em Portugal, Hungria, Polónia, Ucrânia, Alemanha, integrando diferentes orquestras e agrupamentos, entre eles Orquestra de Solistas “Camarata de Kiev”, Orquestra Sinfónica do Colégio R.M. Glier, Orquestra de Sopros da Universidade Estatal de Cultura e Artes do Kiev, Orquestra Clássica da Madeira, Orquestra do Festival J.S. Bach, MAD-Brass, Pestana Big Band, etc.


Notas ao Órgão


 

D 31Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal

Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.

I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)

Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda / bass)
Clarim* (mão direita / treble)
Fagote* (mão esquerda / bass)
Clarineta* (mão direita / treble)

II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)

Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)

Pedal (C-f’)

Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)

Acoplamentos

II/I
I/Pedal
II/Pedal

* palhetas horizontais