Segunda, 28 de outubro, 21h30
Igreja e Convento de Santa Clara
Capella Patriarchal:
Mónica Santos, Patrycja Gabrel, sopranos
Carolina Figueiredo, Catarina Saraiva, contraltos
João Sebastião, Pedro Cachado, tenores
Manuel Rebelo, Sérgio Silva, baixos
Marta Vicente, contrabaixo
João Vaz: órgão e direção
A acção de D. João V levou a uma profunda transformação no campo da música sacra em Lisboa e, por extensão, em todo o território português. A importação de músicos italianos (cujo exemplo mais expressivo é a contratação de Domenico Scarlatti), a concessão de bolsas de estudo em Roma para jovens músicos portugueses (como foi o caso de João Rodrigues Esteves) e a criação, em 1713, do Seminário Patriarcal, foram responsáveis por uma progressiva italianização da música sacra portuguesa.
Após a morte de D. João V, em 1750, a actividade musical na Diocese de Lisboa manteve a linha de orientação seguida ao longo décadas anteriores, embora com as limitações ditadas pela menor abundância de recursos económicos e, sobretudo, pela vaga de destruição causada pelo terramoto de 1755.
O estilo de raiz italiana permanecia dominante e era patente não só nas obras escritas na primeira metade do século, cuja execução era recorrente, mas também nas de compositores contratados já no reinado de D. José I, como terá sido o caso do napolitano Giuseppe de Porcaris, que veio a exercer as funções de Mestre de Capela da Patriarcal.
O presente programa propõe uma reconstituição da componente musical do ofício de Matinas para a Festa de São Vicente, tal como se praticaria em Lisboa por volta do ano de 1770, aliando responsórios escritos naquela data por Giuseppe de Porcaris e António Teixeira, com outros compostos anteriormente por João Rodrigues Esteves. A música de todos as obras apresentadas foi conservada até aos nossos dias no Arquivo da Sé Patriarcal de Lisboa.
João Vaz
Matinas de São Vicente - Lisboa, 1770
António Teixeira (1707-1774)
Responsório I Sacram beati Vincentii, a 4 (1770)
Responsório II Si jubes Pater sancte, a 4
João Rodrigues Esteves (1699-1755)
Responsório III Tanta grassabatur crudelitas, a 8 (1728)
Carlos Seixas (1704-1742)
Responsório V Ardebat Vincentius, a 8
Giuseppe de Porcaris (1698-1772)
Responsório VII Beatus Christi athleta, a 4 (1770)
Responsório VIII Cognito sancto eius abscessu, a 4
Domenico Scarlatti (1685-1757)
Te Deum, a 8
Matinas de São Vicente - Lisboa, 1770
Participantes
Capella Patriarchal Criado recentemente, mas contando já com diversas apresentações em Portugal, Espanha e Alemanha, este agrupamento é um projecto destinado fundamentalmente à divulgação dos tesouros da música sacra portuguesa. Apresenta frequentemente obras inéditas, pautando-se por um cuidadoso trabalho prévio de investigação das fontes musicais, assim como por um intenso esforço de observação das práticas interpretativas das diversas épocas. A presença do órgão na sua formação permite não só a interpretação das obras em que o instrumento executa uma parte obrigada ou simplesmente o baixo contínuo, como também o repertório mais antigo, seguindo a tradição da polifonia vocal acompanhada pelo órgão ou por outros instrumentos. Tendo origem no trabalho de João Vaz em relação à música de órgão portuguesa dos séculos XVI a XIX, através do estudo direto das fontes, aborda a música vocal, contando para isso com a colaboração de cantores especialmente dedicados a este tipo de repertório. |
João Vaz Natural de Lisboa, diplomou-se em Órgão pela Escola Superior de Música da mesma cidade, sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Real Conservatório Superior de Música de Saragoça, onde estudou com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É também doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora. Tem mantido uma intensa atividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente, em cursos de aperfeiçoamento organístico. Efetuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo, muitas delas em instrumentos históricos portugueses, e leciona atualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa e na Escola das Artes da Universidade Católica no Porto. É titular do órgão da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa e diretor artístico do Festival Internacional de Órgão de Lisboa e do Festival de Órgão da Madeira. Foi consultor permanente para o restauro dos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra e é (juntamente com Gustav Leonhardt) consultor para o restauro do órgão do Mosteiro do Lorvão. |
Notas ao Órgão
Igreja e Convento de Santa Clara, Funchal
A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.
Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.
Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima
Decimanona
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)