ING1PT1

D 09Domingo, 27 de outubro, 18h00 
Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Machico) 


Edite Rocha: órgão 
Mariana Pimenta: soprano 


Constituído por música setecentista composta em Portugal, este concerto oferece um panorama variado entre compositores nacionais e italianos que serviram a corte portuguesa. Dividido estilisticamente por duas partes, este programa une-se pela predominância e afirmação de uma italianização da linguagem musical em Portugal. Assim, são apresentados compositores cuja predominância se firmaram mais na primeira metade do século XVIII, como Carlos Seixas, Rodrigues Esteves ou Giovanni Giorgi, e compositores que foram mais representativos na segunda metade do século XVIII e inícios de XIX, como Silva Leite e Marcos de Portugal.

Num quadro de serviço à Corte Real, o coimbrense José António Carlos Seixas, considerado exímio intérprete e destacado como o mais representativo compositor de música para tecla da primeira metade do séc. XVIII, abre esta caminhada com uma das 118 sonatas identificadas atualmente. Já o napolitano David Perez (1711-1778), era já um conceituado compositor, particularmente de Ópera, quando foi contratado em 1752 tendo servido como compositor e mestre de Suas Altezas Reais. As duas peças selecionadas fazem parte da Missa de Santa Joana para um grupo vocal de cinco vozes e baixo contínuo,provavelmente para as cerimónias religiosas do Convento de Santa Joana de Lisboa ou comemorativas da elevação de Aveiro a bispado no ano de 1774.

Manuel de Santo Elias, que se destaca particularmente pela quantidade da sua música religiosa, foi frade na Ordem de São Paulo em Lisboa e a partir de 1767 na Irmandade de Santa Cecília, nos quais exerceu funções de mestre de música e organista. Também proveniente do Convento de São Paulo, Frei Jacinto do Sacramento, de quem são ainda escassas as referências, registou-se como um dos melhores organistas e tangedores de tecla lisboetas.

João Rodrigues Esteves (1700-1751) foi um dos bolseiros enviados por D. João V para estudar em Roma tendo posteriormente sido nomeado Mestre do Real Seminário da Patriarcal, instituição que se distinguiu pela sua elevada formação. Também com proveniência de Roma, Giovanni Giorgi (fim do séc. XVII-1762), foi contratado pela corte real portuguesa no ano de 1725, onde prosseguiu a sua composição maioritariamente de música sacra.

António da Silva Leite (1759-1833), cultivou diversos géneros musicais, como a ópera, a música de câmara e a modinha, mas é da sua música sacra (composta principalmente para o Mosteiro de São Bento, no Porto), que se conhece a maior parte da sua produção.

O bloco final é dedicado ao compositor português de maior êxito neste período, Marcos António da Fonseca Portugal (1762-1830), que se destaca com mais de 70 obras dramáticas, incluindo cerca de 40 óperas, e mais de 140 obras religiosas cuja variedade se vê refletida na escolha das obras que finalizam este concerto.

Edite Rocha


Carlos Seixas (1704-1742) 
Sonata em Sol menor * (órgão solo) 
Allegro 
Adagio 
Allegro 

David Perez (1711-1778) 
"Domine Deus" (da Missa Santa Joana) 

Anónimo (séc. XVIII)
Discurso de 1º Tom (órgão solo)

David Perez
"Quoniam" (da Missa Santa Joana)

Fr. Manuel de Santo de Elias (séc. XVIII)
Sonata em Ré menor (órgão solo)
Allegro

João Rodrigues Esteves (1700-1751)
"Fac me vere" (do Stabat Mater)

Fr. Manuel de Santo de Elias
Sonata em Ré menor (órgão solo)
Adagio

Giovanni Giorgi (fim do séc. XVII-1762)
"Esurientes" (do Magnificat)

Fr. Manuel de Santo de Elias
Sonata em Ré menor (órgão solo)
Allegro

António da Silva Leite (1759-1833)
"Paratur Nobis Mensa Domini"

Marcos Portugal (1762-1830)
"Et incarnatus est" (da Missa Grande)

Fr. Jacinto do Sacramento (séc. XVIII)
Tocata em Ré menor (órgão solo)

Marcos Portugal
"Laudamus te"(da Missa Grande)
Andante com variações (órgão solo)
"Teneri e cari affetti" (da ópera La Morte di Mithridate)


Participantes


 

 

Edite RochaEdite Rocha

Edite Rocha é licenciada em Ensino de Música (1999) pela Universidade de Aveiro sob orientação de João Pedro de Oliveira e Domingos Peixoto, realizou estudos de Órgão no Conservatoire National de Région de Musique, Danse et Art Dramatique de Perpignan (França) com Jean-Christoph Revel, mestrado em Música Antiga (2004) na Schola Cantorum Basiliensis (Basileia, Suíça) sob orientação de Jean-Claude Zehnder e Andrea Marcon - com o apoio do Gabinete das Relações Internacionais do Ministério da Cultura - e o Doutoramento em Música pela Universidade de Aveiro (2010) - com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Tem realizado vários concertos de órgão (solo, com ensembles e orquestras) em diversos países da Europa e Brasil, Master classes de órgão e, paralelamente, tem realizado várias conferências e publicações relacionadas à teoria e prática da interpretação historicamente informada da música para instrumentos de tecla dos séculos XVI a XVIII, nomeadamente relacionadas à vida e obra de Manuel Rodrigues Coelho, tendo sido galardoada com o Prémio de Investigação Histórica de Elvas “D. Manuel I” (2011). Actualmente é investigadora no Instituto de Etnomusicologia - Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md), realiza investigação pós-doutoramento (FCT) na Universidade de Aveiro e Universidade de Oxford; é presidente da direcção da Associação Musical Pro-Organo (AMPO) e lecciona a disciplina de Órgão na Universidade de Aveiro.

Mariana PimentaMariana Pimenta

É natural da Ilha da Madeira. Iniciou a sua formação musical no GCEA (Gabinete Coordenador de Educação Artística) aos 7 anos, com aulas de coro e piano. Fez o curso profissional de canto no Conservatório Escola Profissional das Artes da Madeira. No projecto Leonardo Da Vinci, trabalhou com o barítono Leonard Mroz, no conservatório de Varsóvia. Teve masterclasses de canto com os professores António Salgado, Pat Mcmahon, Laura Sarti, Susan Waters, Fernanda Correia e o grupo vocal Capella Pratensis. Foi solista no musical Madeira, de Jorge Salgueiro. É elemento do coro juvenil, do grupo vocal Regina Pacis do GCEA, e do Coro de Câmara da Madeira, com direcção de Zélia Gomes. Foi elemento do coro das óperas Amor de Perdição de João Arroyo, Ópera dos Três Vinténs de Kurt Weil e Don Giovanni de Mozart,dirigidas por António Saiote, pelo estúdio de ópera OperaNorte. Integrou o Ensemble Joanna Musica dirigido por Mário Trilha, numa digressão nacional, com música de David Perez. Foi solista no Te Deum de Lully e de Charpentier, nas Vesperas de Monteverdi e Rquiem de Tomás Victoria. É membro do grupo Vocal Ensemble, com direcção de Vasco Negreiros, onde cantou programas integrados nos Dias da Música do CCB. Foi solista do projecto Camerata Antiqua, dirigido por Vasco Negreiros. Licenciou-se em canto na Universidade de Aveiro, com os professores António Salgado e Joaquina Ly. Frequenta o Mestrado em Música para o Ensino Vocacional, na Universidade de Aveiro.


Notas ao Órgão


 

D 08Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Machico

Na documentação histórica anterior ao século XX constam observações que se referem a dois instrumentos: um foi oferecido, segundo a tradição historiográfica, em 1499, à Igreja de Nossa Senhora da Conceição pelo rei D. Manuel, e um outro adquirido em 1746. No que diz respeito ao órgão manuelino podemos deduzir que ele foi colocado no arco que se abre sobre o cadeiral do lado do Evangelho da capela-mor. No século XVIII, o estado de conservação deste órgão terá deixado muito a desejar, verificando-se a aquisição do segundo instrumento em 1746. O órgão chegou à Madeira em 1752, tendo o Conselho da Fazenda contribuído, inicialmente, nas despesas da sua compra e, posteriormente, nos custos da sua instalação.

O recente restauro, da responsabilidade de Dinarte Machado, teve como objectivo principal restituir, na medida do possível, a sua constituição original, seguindo as indicações dadas pelas próprias peças durante a desmontagem. Assim, no decorrer do restauro optou-se por uma filosofia de intervenção que tivesse sempre em conta as particularidades das peças originais, desde à configuração da caixa e policromia, à reposição da registação, tubaria, folaria, e até à colocação do instrumento no seu local original – a capela-mor. Ainda em relação à composição do instrumento, reintroduziu-se o meio-registo da mão direita, de palheta, que o órgão indicava possuir originalmente e que, de certa forma, o caracteriza. O teclado original, encontrado a monte e que se conseguiu recuperar, mantém a extensão da época com Oitava curta. Ficou completada, com grande rigor, a nova tubaria de acordo com as características que os poucos tubos originais conservados evidenciavam, comparada com as próprias indicações e dimensões do someiro, que também foi minuciosamente estudado e documentado.

Não há dúvidas que se trata de um dos mais belos órgãos da Ilha da Madeira, sendo um dos instrumentos que conserva algumas das mais relevantes características da organaria do século XVII em Portugal. É de salientar ainda que o trabalho de restauro desencadeado nesta peça exigiu o estudo de muita documentação, assim como comparações com outros órgãos da época. Uma vez que tais instrumentos não existem em Portugal, teve de se recorrer a dados em outros países.

Manual (C, D, E, F, G, A-c’’’)
Flautado de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Flauta doce
Dozena (2 2/3’)
Voz humana (c#’-c’’’)
Quinzena (2’)
Composta de 19ª e 22ª
Sesquialtera II (c#’-c’’’)
Clarim* (c#’-c’’’)

* palhetas horizontais