Sábado, 26 de outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista (Colégio)
Martin Haselböck: órgão
Na figura de Jacobus Buus encontramos o primeiro de um série de músicos flamengos que trabalharam na capela da corte vienesa. Após alguns anos de serviço na Áustria, Buus trasladou-se à Veneza, onde os seus dois volumes de Ricercari foram publicados. Na sua forma extensa e elaborada, oferecem um novo estilo, monumental e até então inédito, de música para órgão.
Sob o Imperador Leopoldo I, a Capela da Corte de Viena atingiu o seu maior tamanho e importância entre 1650 e 1700. Leopoldo, que também era um compositor dotado, atraiu grandes músicos à Áustria. Dois organistas de renome foram empregues ao mesmo tempo: Johann Jakob Froberger e Johann Kaspar Kerll. Kerll é representado aqui por duas das suas composições “bizarras”: uma Battaglia (estranhamente, publicada mais tarde com o nome de Cabanilles) e um Capricho imitando o canto do cuco.
Georg Muffat, organista nas catedrais de Salzburgo e Passau, é o autor de uma das colecções mais importantes de música para órgão no “estilo misto”. A sua Sétima Tocata é um bom exemplo desta combinação de influências francesas e italianas: começa com uma abertura francesa, seguida por duas canzonas italianas, e termina com uma fuga dupla.
György Ligeti, um dos grande nomes da música do século XX, escreveu várias obras para órgão que abrem portas novas, num encruzilhado importante da história moderna da música. O segundo Etude pede movimento muito rápido nas duas mãos, tão rápido que o som já não se distingue por notas individuais, mas é ouvido como se fosse uma série de acordes harmónicos. A música torna-se cada vez mais complexa e complicada, e finalmente não pode ser mais distinguida pelo ouvinte: les extremes se touchent – a extrema complexidade é transformada em som sustentado. Este é o tópico de Volumina, a primeira obra para órgão escrita em notação gráfica, e uma obra-prima de uma nova linguagem musical.
Alguns dos mais populares prelúdios de coral de Bach foram escritos originalmente não para órgão, mas são transcrições de andamentos de cantatas, os chamados “Corais Schübler”, o nome vindo do editor, e são entre as poucas obras para órgão que foram publicadas durante a vida do compositor.
O Tocata, Adagio e Fuga de Bach é uma das obras-primas do seu tempo na Corte de Weimar. Parece que Bach se interessou em experiências nestas obras: partes contrastantes são combinadas para formarem um novo todo, um andamento lento no estilo de um concerto instrumental é adicionado à forma original de Tocata e Fuga.
Enquanto a Tocata combina trechos virtuosos, um grande solo para pedal com um andamento tutti, ao estilo de um concerto, a Fuga é um pináculo de efeitos instrumentais até então inéditos.
A improvisação, uma arte anteriormente praticada por muitos instrumentalistas, é reservada hoje em dia quase exclusivamente a músicos de jazz e organistas. Com um tema dado durante o concerto de hoje, o organista desenvolverá as suas formas e explorará os seus aspectos melódicos e rítmicos.
Martin Haselböck
Jacobus Buus (ca. 1500-1550)
Ricercare secundi toni
Johann Kaspar Kerll (1627-1693)
Battaglia
Capriccio Cucu
Georg Muffat (1653-1704)
Toccata VII (de Apparatus musico-organisticus)
György Ligeti (1923-2006)
Etude II «Coulée»
Volumina
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Prelúdio de coral "Wachet auf, ruft uns die Stimme"; BWV 645
Prelúdio de coral "Kommst du nun Jesu, vom Himmel herunter", BWV 650
Toccata, Adagio e Fuga em Dó maior, BWV 564
Martin Haselböck (1954)
Improvisação sobre temas dados
Participantes
Martin Haselböck O maestro austríaco Martin Haselböck vem de uma família famosa de músicos. Cedo na sua carreira, a seguir a estudos de Viena e Paris, e recebendo numerosos prémios e fellowships, ganhou uma reputação internacional como solista de órgão, trabalhando com maestros como Claudio Abbado, Lorin Maazel, Wolfgang Sawallisch, Riccardo Muti e muitos outros. Vários compositores dos nossos dias, incluindo Ernst Krenek, Alfred Schnittke, Cristobal Halffter and Gilbert Amy escreveram obras para Martin Haselböck. As suas gravações como organista tem-lhe valido numerosos prémios, incluindo o Deutscher Schallplattenpreis, o Diapason d'Or e o Prémio Húngaro Liszt. Gravou mais de 50 CD’s como solista, incluindo o recente lançamento importante das obras completas para órgão de Franz Liszt. Actualmente tem uma carreira muito preenchida como maestro convidado com umas das orquestras mais preeminentes do mundo. Digiru a Wiener Symphoniker, a Leipzig Gewandhaus, a Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, a Dresdner Philharmonie, a Orquestra Giuseppe Verdi Milano, as Orquestras Nacionais Filarmónicas de Espanha, da Hungria, da República Checa, da Estónia, da Eslováquia e da Eslovénia, a Orchestre National de Lyon, e a Real Orquestra Filarmónica de Flandres, entre muitas outras, e dirige um ciclo anual de obras clássicas vienesas com a Sinfónica de Hamburgo. Na América do Norte tem dado concertos com a Filarmónica de Los Angeles, a Orquestras de Filadélfia, Pittsburgh, Washington, San Francisco, Detroit e Toronto e a Saint Paul Chamber Orchestra. |
Notas ao Órgão
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.
I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda / bass)
Clarim* (mão direita / treble)
Fagote* (mão esquerda / bass)
Clarineta* (mão direita / treble)
II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)
Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)
Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais