ING1PT1

DSC07081Sexta, 25 de outubro, 21h30 
Igreja de Santa Luzia 


John Kitchen: órgão 

A Fantazia of foure parts é a melhor obra para tecla de Gibbons, publicada em 1612/13 na célebre colecção Parthenia, “a primeira música que alguma vez foi impressa para virginals”. É um andamento substancial que trabalha habilmente seis pontos imitativos, tornando-se mais animado na medida em que avança, mas terminando solenemente, tal como começa.

O Voluntary in D minor de Henry Purcell chegou até aos dias de hoje em duas formas: uma para execução num instrumento com um só teclado manual (como ouvimos hoje) e outra para “órgão duplo”, isto é, com dois manuais. A obra é notavelmente extrovertida e “barroca” no sentido verdadeiro. A primeira secção do Voluntary in G, com os seus acordes cromáticos em moção lenta, deve algo ao estilo durezze e ligature de Frescobaldi; a isto segue uma secção rápida em estilo de canzona.

Stanley era um dos organistas mais célebres de Londres de todo o tempo. Ouvimos hoje um dos concertos para órgão, um gênero que foi estabelecido em Londres por Handel. Os concertos de Stanley apareceram em 1775 num formato que permitiu tanto a execução com orquestra de cordas como a solo. O Concerto em Dó menor é geralmente considerado o melhor; mostra Stanley a afastar-se do estilo handeliano e a aproximar-se ao idioma galant de J.C. Bach e outros.

William Russell publicou dois conjuntos de voluntaries para órgão, cada contento doze: o primeiro em 1804 e o segundo em 1812, apenas um ano antes da sua morte prematura. A música de Russell – ainda pouco conhecida – é sempre atraente, cheia de cor e de energia, e às vezes genuinamente surpreendente. No Voluntary no. X in G minor (1804), o breve larghetto estabelece o ambiente, antes de uma fuga vigorosa cujo belo sujeito trabalha muito com o intervalo do sétimo, e que se desenvolve hábil- e agradavelmente. O Voluntary no. VII in A (1812) é uma obra pastoral em dois andamentos, começando com um siciliano de carácter rústico.

O allegro moderato, tocado num coro ligeiro, é elegante e bem equilibrado. O Voluntary no. O X in B flat é em forma de um grande prelúdio, seguido por uma fuga robusta que recorda o coro de Haydn “Achieved is the glorious work”, da Criação, andamento que seria do conhecimento de Russell.

Os célebres Air and Gavotte são os melhores andamentos das Twelve Short Pieces (na verdade são treze!) de Samuel Wesley, de 1816. São charmosos e elegantes, sem grandes pretensões. Sebastian (o filho ilegítimo de Samual) é representado pelo Andante in E flat, dos anos 1870, num estilo romântico plenamente desenvolvido, devendo algo a Mendelssohn, mas também mostrando sinais da característica idiossincrasia de Sebastian.

O próprio Handel fez arranjos das suas aberturas, mas não da de Samson, que foi uma de várias publicadas por John Walsh; é uma abertura esplêndida. O andante energia inicial é em tempo ternário e com duas secções repetidas; uma breve cadenza, adágio, conduz a uma fuga enérgica (baseada em parte em Telemann e Muffat). Handel termina-a com um minueto elegante em forma ABA, o seu tema emprestado a Reinhard Keiser, mas, nas palavras de Winton Dean, “melhorado e desenvolvido... para muito além”.

John Kitchen


Orlando Gibbons (1583-1625)
Fantazia of foure parts (Parthenia)

Henry Purcell (1659-1695)
Voluntary Ré menor / in D minor
Voluntary em Sol maior

John Stanley (1712–1786)
Concerto no. 4 em dó menor, Op. 10
Vivace
Andante affetuoso
Presto

William Russell (1777–1813)
Voluntary VII em Lá maior / in A major (1812)
Siciliano
Allegretto moderato
Voluntary IX em Si bemol maior
Maestoso
Allegro

Samuel Wesley (1766–1837)
Air
Gavotte (Twelve Short Pieces, 1816)

Georg Friedrich Haendel (1685–1759)
Abertura de Samson
Andante
Allegro
Minuet

 


Participantes


 

John KitchenJohn Kitchen

John Kitchen foi educado nas universidades de Glasgow e Cambridge, e em 1976 assumiu a posição de Docente de Música e Organista na Universidade de St Andrews na Escócia. Desde 1988 é Professor de Música e Organista da Universidade na Universidade de Edimburgo. Dirige também os Edinburgh University Singers, é Director de Música em Old Saint Paul’s Episcopal Church e Organista da Cidade de Edimburgo, com obrigações no Usher Hall. Dá muitos recitais a solo no Reino Unido e nos estrangeiro, e toca também com vários agrupamentos, abrangendo um vasto leque de estilos musicais. É também muito ativo como músico de baixo contínuo, acompanhador, docente, juiz, escritor e crítico. Fez muitas gravações tanto para a Priory como para a Delphian Records em Edimburgo. Estas incluem uma célebre gravação das obras completas para órgão de William Russell, tocadas no órgão Bishop de 1829, na igreja de St James’s, Bermondsey em London, e um CD de aberturas e suites de Handel tocadas em dois dos cravos da renomada Raymond Russell Collection of Early Keyboard Instruments, da St Cecilia’s Hall na Universidade de Edimburgo.


Notas ao Órgão


 

0005 santa luzia 06 aIgreja de Santa Luzia, Funchal

De acordo com os registos de despesas relativamente aos anos 1839 e 1841, verifica-se que foram efectuadas remunerações a cantores e organistas (ARM Con­fraria L.º 44: 44-45), facto que nos permite admitir, à partida, que a Igreja de Santa Luzia já dispunha de um órgão de tubos, provavelmente bem antigo, que viria a ser substituído com a chegada do instrumento proveniente do extinto Convento de São Francisco.

Este segundo órgão foi adquirido no ano de 1834; no entanto, a sua deslocação para a Igreja de Santa Luzia só veio a acontecer em 1842, tendo o Padre Joaquim António Português anotado no Livro da Fábrica, a 15 de Janeiro desse ano, uma quantia extra para pagamento do seu transporte definitivo para a igreja: “50.000 réis que dei a quem diligenciou o órgão de S. Francisco para esta freguesia por não ter recebido e do diligenciador Fr. António das Dores ter falecido” (Matos 1996: 16).

No decorrer do século XX, este instrumento foi sujeito a inúmeras intervenções de manutenção, cujas despesas foram pagas em alguns momentos através de do­nativos atribuídos por diversos paroquianos. Segundo o registo do Livro da Fábri­ca, em 20 de Dezembro de 1902, o órgão era consertado pela quantia de 300$00 (réis ?) a expensas do Sr. Augusto Camarrinha, residente no Pará (Matos 1996: 44); em 1936 e em 1940 eram gastos 320$00 e 150$00 (escudos), respectivamente, para outros dois consertos do instrumento (Matos 1996: 88). Entre 1950, altura em que decorriam as obras de reparação do soalho e do coro, e 1963 seguiu-se uma nova, mas inadequada, intervenção que foi levada a cabo pelo mestre António Gomes Jardim, natural da Ribeira da Janela.

Não foi possível identificar o construtor do órgão. Manuel Valença (1997:59) descreve-o como um “órgão Positivo de fabrico inglês com características muito peculiares – um só manual, com sete registos inteiros e três partidos, considera­do, no seu género, um dos melhores da Diocese” e Christopher Kent, professor do Departamento de Música da Universidade de Reading, na Inglaterra, regista a sua feitura em Inglaterra, datando-o, segundo a inscrição encontrada nos tubos, de 1815-1820. Acrescenta que é “um dos órgãos famosos, como alguns outros da mesma fábrica e época, que existem em Inglaterra” (Matos 1996: 16).
Foi restaurado em 2013 pelo organeiro Dinarte Machado .

Composição
Open Diapason 8’
Stop Diapason (Sol1-si / GG-b)
Stop Diapason (dó1-fá3 / c’-f’’’)
Bourdon 8’ (Sol1-si / GG-b)
Flute 4’ (dó1-fá3 / c’-f’’’)
Principal 4’
Fifteenth 2’
Cornet (Sol1-si / GG-b)
Sesquialtera (dó1-fá3 / c’-f’’’)
Trumpet (fá1-fá3 / f’-f’’’)