Sexta, 25 de outubro, 17h00
Auditório da Reitoria da UMa
Cón. António Ferreira dos Santos: Conferência
O órgão na Igreja, hoje
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), numa carta escrita a seu pai, em 1777, escreveu: “o órgão de tubos é para os meus olhos e ouvidos o Rei dos Instrumentos”. O génio de Salzburg pode conhecer, de facto, o órgão de tubos num patamar de amadurecida maturidade e em pleno florescimento.
A partir do século XV, uma plêiade de compositores de música para órgão naturais de regiões geográficas que, hoje, fazem parte da Áustria, da Alemanha, da França, da Itália, da Holanda, da Espanha, de Portugal, da Inglaterra, foi compondo, segundo as formas musicais então conhecidas, obras cujos temas, numa percentagem muito elevada, estavam relacionadas, ostensivamente, com a liturgia (Missa, Ofício e melodias religiosas conhecidas e praticadas pelo povo, nas suas devoções), com uma surpreendente criatividade e com uma reverência pelo sagrado que impressiona.
Sabe-se que Johann Sebastian Bach (1685-1750) estudou, com profundidade, as composições para órgão dos compositores do norte da Europa, da Itália e da França: Sweelinck (1562-1621), Frescobaldi (1583-1643), Froberger (1616-1667), Buxtheude (1637-1707), Couperin (1668-1733), para referirmos alguns dos nomes mais ilustres.
Sobre uma síntese perfeita que construiu, baseado no que de melhor foi composto para órgão, antes dele, o génio incomparável de Leipzig edificou uma monumental e inexcedível obra de música para órgão que constitui uma referência, indiscutivelmente incontornável e válida, quer para compositores de música para órgão, quer para organistas, quer para organeiros, até aos nossos dias. Eis porque Bach é, justamente, chamado “o pai da música de órgão”. Foi ele quem consagrou o órgão de tubos.
As Igrejas cristãs (católica e evangélica) olharam para o órgão de tubos, como o instrumento cósmico, por excelência, que “fala para o céu e para a terra”, uma espécie de interpretação, ao vivo, do Salmo 150.
Muitos são os documentos da Igreja Católica, através dos séculos, a elegerem o órgão de tubos como o instrumento próprio da liturgia, ao lado da voz humana, a legislarem sobre a formação cuidadosa (técnica e litúrgica) dos organistas e a defenderem a promoção de concertos de órgão, sobretudo nas Catedrais e Igrejas maiores.
É evidente que, para se levar a cabo tais desideratos repetidamente expressos, torna-se necessário que se avance, com ritmo acelerado, para uma salutar, inteligente e fecunda articulação de esforços entre a Igreja e as competentes autoridades do Estado. Portugal dispõe de um património organístico impressionante que é urgente continuar a estudar, a restaurar e a pôr a dar a sua música. A Igreja e o Estado devem dar-se as mãos, formalmente, penso.
Muito se tem feito. Mas... há muito mais a fazer.
Cón. António Ferreira dos Santos
Participantes
António Ferreira dos Santos
Cónego, maestro e compositor português, António Ferreira dos Santos nasceu a 26 de Junho de 1936, em Guidões, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto.
Concluiu os estudos teológicos no Seminário Maior do Porto (1959) e, revelando um natural gosto e uma finíssima sensibilidade pela música, que o ambiente familiar alimentou, frequentou o Conservatório de Música do Porto. Em 1962, obtendo uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, foi estudar para Salzburgo e Munique com o objectivo de aperfeiçoar os seus conhecimentos musicais. Frequentou a Escola Superior de Música de Munique onde, em 1970, concluiu os Cursos de Música Sacra, de Órgão, de Direcção de Coros e de Composição. Nesse mesmo ano de 1970, regressado a Portugal, iniciou, com uma equipa formada pelos Pe. Agostinho Pedroso e Pe. Manuel Amorim, várias actividades para dinamizar a vida musical portuense e renovar a música litúrgica e a liturgia na diocese do Porto. Nesse sentido, Ferreira dos Santos fundou vários coros dos quais se destaca o Coro da Sé do Porto (1971). Fundou também várias instituições de ensino, como a Escola Diocesana de Música Sacra e Liturgia, a Escola das Artes da Universidade Católica do Porto (1996) da qual foi director (1996-2001). Desde 1988, organiza anualmente temporadas de concertos sobretudo nas quadras do Natal e da Páscoa, na Igreja N. Sra. da Lapa, no Porto, da qual é reitor desde 1982. De referir também o seu trabalho pedagógico pela música, não só junto da população, educando e sensibilizando na tradição musical da Igreja Católica, como também em acções pedagógicas, nas universidades e em estabelecimentos de ensino musical. Ferreira dos Santos recebeu várias condecorações nacionais e estrangeiras, tais como a Grande Cruz de Mérito Cultural da Alemanha, o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, a Medalha de Ouro da Cidade do Porto e a Medalha de Mérito Cultural da Cidade de Santo Tirso.