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D 41Quinta, 24 de outubro, 21h30 
Igreja de São João Evangelista (Colégio) 


Hans-Ola Ericsson: órgão 


O Jovem Bach 

Já na sua juventude, Johann Sebastian Bach, foi reconhecido como artista e músico virtuoso, embora inicialmente tenha sido simplesmente um estudioso e executante entusiasmado e curioso. A mistura de um alto nível de talento musical, curiosidade e trabalho árduo criou num único músico um génio musical que queria viver segundo o ditado de Buxtehude, “Non hominibus, sed Deo” (Não para os homens, mas para Deus”). Quando falamos do “jovem Bach”, falamos da sua infância em Eisenach (1685-1695), a sua juventude em Ohrdruf (1695-1700), o seu tempo como estudante em Lüneburg (1700-1702) e a sua primeira posição como organista em Arnstadt (1703-1707).

Prelúdio e fuga em Dó maior, BWV 531 – Nesta obra ouvem-se o entusiasmo de um jovem, o temperamento forte, a figuração virtuosa nos manuais e nos pedais, quase uma exibição de virtuosismo, como se quisesse provocativamente distanciar-se do passado.

Canzona em ré menor, BWV 570 - O jovem Bach também era capaz de compor nesta maneira contida, sensível e meditativa. Escolheu o género da canzona, originalmente da tradição sul-alemã/italiana.

Fantasia em ré menor, BWV 570 – Esta obra extremamente calma e bela é na realidade um estudo para conseguir “uma maneira de tocar muito ligada e cuidadosa, e uma leveza quando levantando o dedo da tecla.” (Philip Spitta)

Prelúdio e fuga em Dó maior, BWV 531 e Prelúdio e fuga em Ré menor, BWV 549a - Se BWV 531 era furioso, virtuoso e extrovertido, então os Prelúdio e fuga em Ré menor são introvertidos, contidos e auto-contemplativos. Foram compostos na tonalidade mais subtil de Ré menor, contrastando com o majestoso Dó maior de BWV 531. Nesse sentido há uma complementaridade óbvia entre as duas obras.

Prelúdio e fuga em Dó maior, BWV 566 – Esta é uma obra no estilo grandioso, com fortes ligações a obras posteriores. Deixe de lado todos os sinais de imaturidade que foram ligados a esta obra; mostra o jovem Bach como virtuoso, bem como compositor que abrange as formas composicionais mais largas e assim antecipa as suas obras mais tardias.

Prelúdio e fuga em Lá menor, BWV 551 - Aqui encontramos o Bach sistemático dentro da forma simétrica da obra: Prelúdio - Interlúdio - Fuga - Interlúdio - Postlúdio. Bach goza em particular com as cores cromáticas diferentes.

Passacaglia em Dó menor, BWV 582 - A mestria composicional de Bach é especialmente evidente na Passacaglia. A obra ultrapassa largamente modelos existentes. As 21 variações “demonstram um controle absoluto sobre princípios composicionais, forma musical, material figurativo, técnicas fugais e estratégias harmónicas.” (Christoph Wolff)

Prelúdio em Lá menor, BWV 569 - Este prelúdio é um estudo no uso de todas as tonalidades, que também passa por todas as possíveis sequências descendentes.

Prelúdio e fuga em Sol menor, BWV 535a – Esta obra inacabada é reconhecida como uma das primeiras obras do jovem Bach. Talvez tenha sido composta em 1707. A obra é composta no stylus phantasticus, um estilo normalmente usado para os prelúdios e tocatas da época.

Tocata e fuga em Ré menor, BWV 565 – Esta é uma obra furiosa, dramática e avassaladora, e talvez a mais conhecida de Bach. Suspeita-se de que era originalmente uma peça para violino solo, já que tanto do seu material é de carácter violinístico.

Hans-Ola Ericsson


Johann Sebastian Bach (1685-1750) 

Prelúdio e fuga em Dó maior, BWV 531 
Canzona, BWV 588
Fantasia em Dó maior, BWV 570
Prelúdio (fantasia) e fuga em ré menor, BWV 549a
Prelúdio e fuga em Dó maior, BWV 566
Prelúdio e fuga em lá menor, BWV 551
Passacalha em dó menor, BWV 582
Prelúdio em lá menor, BWV 569
Prelúdio e fuga em sol menor, BWV 535a (fragment)
Tocata e fuga em ré menor, BWV 565


Participantes


 

Hans Ola EricssonHans-Ola Ericsson

Hans-Ola Ericsson estudou música em Estocolmo e Friburgo e mais tarde nos EUA e na Veneza. É ativo como organista de concerto, compositor e pedagogo. Em 1988 foi nomeado professor na Escola de Música da Universidade de Tecnologia Piteå/Luleå, e desde 2011 é também professor e organista universitário na Schulich School of Music na Universidade McGill em Montreal, Canadá. Deu também concertos por toda a Europa, bem como no Japão, na Coreia, no Canadá e nos EUA. Fez inúmeras gravações, incluindo uma gravação completa, muito bem recebida, da música para órgão de Messiaen. Tem trabalhado extensivamente com, entre outros, John Cage, György Ligeti, Bengt Hambraeus e Olivier Messiaen sobre a execução da música dos mesmos para órgão. Em 1996 Hans-Ola Ericsson foi nomeado professor convidado permanente na Hochschule für Künste em Bremen, Alemanha. Na primavera de 2000 foi nomeado membro da Real Acadmia Sueca de Música. Em anos recentes, várias obras de Ericsson tem sido estreadas: uma ópera eclesiástica, várias obras para órgão e electrónica, uma peça para orquestra de câmera e obras para coro.

Notas ao Órgão


 

D 14Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal

Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.

I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)

Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda / bass)
Clarim* (mão direita / treble)
Fagote* (mão esquerda / bass)
Clarineta* (mão direita / treble)

II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)

Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)

Pedal (C-f’)

Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)

Acoplamentos

II/I
I/Pedal
II/Pedal

* palhetas horizontais