Terça, 22 de outubro, 21h30
Igreja e Convento de Santa Clara
Giovannimaria Perrucci: órgão
Pamela Lucciarini: soprano
Viva Vivaldi!
Hoje, como no seu tempo, a fama de Antonio Vivaldi, um dos mais célebres compositores do Barroco italiano, ultrapassa os limites do seu palco original.
Nascido em Veneza a 4 de Março de 1678, foi ordenado em 1703. Este facto, unido à sua selvagem cabeleira ruiva (que sobressai também em alguns retratos célebres, juntamente com o seu perfil decidido), valeu-lhe a alcunha de Prete rosso (Padre ruivo), uma designação derivada também do tipo de música extremamente vivaz, contagiosa e altamente virtuosística que Vivaldi sempre soube exprimir. De 1703 a 1740 é mestre de violino e de composição, e depois maestro dei concerti e maestro di coro no Seminario musicale dell'Ospedale della Pietà, uma das quatro famosas escolas venezianas de música para raparigas órfãs, bastardas ou abandonadas.
Vivaldi ausenta-se de Veneza de 1718 a 1722 para dirigir a capela do príncipe de Hasse-Darmstadt em Mântua e em 1723 e 1724 para fazer representar óperas em Roma (onde toca diante do Papa). Visita também numerosas cidades italianas e estrangeiras (sobretudo na Alemanha e na Holanda), seja na qualidade de violinista, seja na de empresário das suas próprias óperas (recrutando os cantores, dirigindo os ensaios, controlando as receitas). As suas obras instrumentais eram agora célebres em toda a parte, sobretudo as celebérrimas Quatro stagioni e o soberbo Estro armonico. Em 1740 decide deixar Veneza e chega a Viena, onde morre a 28 de Julho do ano seguinte, pobre e solitário, arruinado – diz-se – pela sua excessiva prodigalidade. A sua fama, por outro lado, é destinada à imortalidade.
O fascínio que emana da obra de Antonio Vivaldi induz músicos de todas as épocas a usá-la como material vivo e inspiração. São disso testemunho as inúmeras transcrições realizadas já na sua época, as quais demonstram o interesse que a sua arte suscitou em toda a Europa.
O presente concerto é uma recolha de pérolas vivaldianas, apresentadas sob a forma de transcrições, quer se tratem de obras instrumentais – os concertos do Estro armonico – quer de obras vocais sacras. A prática da transcrição é amplamente documentada também em Itália durante todo o século XVIII. A ideia de transcrever para órgão o acompanhamento instrumental das belíssimas páginas deste programa deriva da investigação musicológica desenvolvida nos arquivos musicais, que evidenciou uma enorme produção de música sacra, realizada em partitura para uma ou mais vozes e órgão concertado, que permite todavia, de uma forma rápida, a realização de uma instrumentação da mesma composição para um efectivo mais alargado. E aplicando inversamente a mesma técnica a algumas composições do Settecento italiano, o resultado é extraordinário!
Giovannimaria Perucci
Antonio Vivaldi (1678 - 1741)
Ária «Jucundus homo» (Salmo Beatus Vir, RV 795)
Ária «Quia respexit» (Magnificat, RV 611)
Concerto Op. 3 Nº 3 em Fá maior, RV 310 ( l’Estro armonico - Johann Sebastian Bach, BWV 978)
Allegro
Largo
Allegro
Antifona Salve Regina, RV 617
Andante
Allegro
Allegro
Andante
Concerto Op. 3 Nº 7 em ré menor , RV 230 ( l’Estro armonico – Anne Dawson’s book)
Allegro
Larghetto
Allegro
Mottetto In furore iustissime irae, RV 626
Allegro
Recitativo
Largo
Allegro
Participantes
Giovannimaria Perrucci Estudou órgão, cravo e composição no Conservatório «Rossini», em Pesaro, tendo prosseguido os estudos em França, na classe de Xavier Darasse (Órgão) e de Jan Willem Jansen (Cravo) no Conservatoire National Superieur de Lyon. Realiza concertos, tanto como solista como em colaboração com solistas e conjuntos, participando de festivais em toda a Europa. Gravou para a RAI, italiana, Rádio Montebeni e a Hessischer Rundfunk de Frankfurt. Gravou CD’s gravações para as editoras Discantica (Milão), Bongiovanni (Bolonha), Clavis (Roma) e Opera 3 (Madrid). Sensível ao património do órgão histórico italiano, tem contribuído para o inventário dos órgãos históricos da Região das Marche, financiado pela Regione Marche e é atualmente vice-presidente da rede organística Marche & organi. É autor de textos sobre a organaria daquela região, incluindo o catálogo de órgãos históricos em algumas dioceses das Marche e um texto para o Instituto de Órgãos Históricos Italianos em Roma. Preparou também a edição moderna das obras para tecla de Francesco Basilj (1765-1850) e de órgão de Mezio Agostini (1875-1944). É professor no Conservatório «G. B. Pergolesi», em Ancona, no Instituto Diocesano de Música Sacra em Fano e é organista da Basílica de São Paterniano mesma cidade. |
Pamela Lucciarini Diplomada em Piano, Música de Câmara e Canto em Pesaro, graduou-se cum laude em Vicenza em Canto Barroco com Gloria Banditelli. Interpretou Elvira em DonGiovanni, Cassandra e Giunone em La Dinone de Cavalli, Belinda em DidoandAeneas, Tisbe, em LaCenerentola de Rossini, Amore e Valletto ne L’incoronazione di Poppea, Demétrio em Antigono di Mazzoni, Fauno em Ascanio in Alba. Foi dirigida por Fabio Biondi, Riccardo Muti, Onofri Enrico, Claudio Cavina, William Frederick, Faldi Paulo, Nemeth Pal. Colaborou com Europa Galante, La Venexiana, Divino Sospiro, L’Arte dell’Arco, Accademia del Santo Spirito, Cantar Lontano, Stavanger Symfoniorkester, Orchestra Cherubini, esibendosi in Italia e all’estero: Parco della Musica (Roma), Opera Garnier (Paris), Teatro Carignano di Torino; Fondazione Pergolesi-Spontini (Jesi); Al Bustan Festival (Beirute), Cité de la Musique (Paris), MITO (Milão), Spazio e Musica (Vicenza), Israel Festival, Teatro Rossini (Pesaro), Ravenna Festival, Festival Galuppi (Veneza) e CCB de Lisboa. Interpretou IlDemofoonte de Jommelli, em Paris e Ravenna, sob a direcção de Riccardo Muti e LaFenice sul Rogo de Pergolesi, com Europa Galante em Jesi. Tem participado em várias emissoras de rádio da Rádio Vaticano e Rádio RAI 3 e Eurorádio direta. Ensina canto barroco na Accademia Marchigiana di Musica Antica. Gravou para a Cactus, Glosa, Clavis, Classic Antiqua e Amadeus. |
Notas ao Órgão
Igreja e Convento de Santa Clara, Funchal
A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.
Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.
Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima
Decimanona
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)