Domingo, 26 Outubro, 18h00
Igreja e Convento de Santa Clara
Joris Verdin: órgão e harmónio
Maria Ferreira: soprano
Padovano e Willaert eram colegas na Basílica de São Marcos em Veneza. Padovano era organista, e assim terá trabalhado de perto com Willaert. Ambos os homens foram proeminentes no desenvolvimento da música instrumental, cada um no seu campo. As tocatas de Padovano foram publicadas no volume póstumo Toccate et Ricercari d'Organo por Gardano em Veneza em 1604. Willaert não compôs obras espeficamente para órgão, mas é óbvio que os seus ricercar pertencem ao principal repertório para órgão da época. O Recercar I foi publicado na colectânea Musica Nova em 1540. O Recercar X é tirado das Fantasie ricercari contrapunti a tre você, editadas por Gardano em 1559 e entabulado para órgão. A estrutura polifónica faz com que as peças em estilo vocal pareçam o registo “principal” italiano do órgão.
Abraham van de Kerckhoven foi organista na corte em Bruxelas e, a partir de 1656 o sucessor de Jakob Kerll. A sua música é expressiva e bem construída, com influências de Itália e Espanha, mas numa interpretação muito pessoal. Kerckhoven é a personalidade mais significante na música belga para órgão do século XVII. Nenhuma obra dele foi publicada durante a sua vida, mas ac composições sobrevivem em muitos manuscritos.
Codex un poco Faenza inspira-se claramente numa das mais antigas fontes da música para tecla. O Codex Faenza é um manuscrito italiano do século XIV que contém adaptações e versões ornamentadas de obras vocais profanas e sacras, italianas e francesas, do Ars Nova. O órgão usado pelos executantes do Codex Faenza era constituído dos elementos básicos do órgão; poucos registos e teclas organizadas segundo o tom num teclado. Os organistas da época tinham um instrumento simples. Quando ouvimos tais peças hoje em dia, somos influenciados por muitos outros estilos de música que nos impedem de ouvir esta música do passado com os ouvidos de seis séculos atrás. Codex un poco Faenza é uma expressão desta nostalgia sem resolução.
Joseph Hector Fiocco, de ascendência italiana, era activo em Bruxelas e promoveu o estilo moderno italiano na Bélgica, bem como o clássico idioma francês. As suas obras em geral têm títulos em francês, mas o estilo é italiano, com uma inspiração melódica vivaz e um tratamento idiomático do teclado, incluindo acordes quebradas e escalas.
Não há um único instrumento musical com uma história tão claramente definida como o harmónio. A sua existência deve-se exclusivamente aos idiomas musicais do período 1830-1930. Perto do fim do século XVIII, começou uma nova onda de desenvolvimentos no mundo dos instrumentos de tecla, a medida que, pela Europa toda, as pessoas foram procurando soluções novas para a questão cada vez mais problemática de combinar sons contínuos com expressão dinâmica. Construtores de órgãos como Sébastian Erard experimentaram com registos especiais, construtores de pianos desenvolveram novos tipos de pianoforte, e o cravo e o clavicórdio pouco a pouco foram desaparecendo totalmente. Nenhum dos construtores de instrumentos encontrou uma solução que fosse prático e compacto num instrumento relativamente forte que pudesse ser produzido em grandes quantidades. Também não encontraram maneira de fazer o órgão, ou o piano forte, verdadeiramente “expressivo”. Após várias formas do chamado “orgue expressif”, desenvolvido durante as primeiras décadas do século XIX, finalmente Alexandre François Debain inventou um instrumento que mudava radicalmente o mundo do teclado. Em 1842, tirou um patente num instrumento de tecla que chamou de “harmónio”. Desta maneira, um instrumento de tecla foi inventado que correspondeu ao desejo maior da época: um som tão flexível que todas as variedades de expressão musical eram possíveis. O harmónio veio a existir para satisfazer o desejo da época de um instrumento de tecla expressivo, e não para substituir o órgão, embora fosse frequentemente utilizado nesse papel. Isto é um fenómeno assaz notável: o harmónio encontrou-se na igreja à conta de características como a sua afinação estável, pequenas dimensões, um som flexível para acompanhar um coro, e o baixo nível de manutenção. Este programe apresenta uma selecção de repertório original para o harmónio para o “salon” ou concerto, junto com peças sacras para solista e acompanhamento.
Joris Verdin
I - Órgão
Annibale Padovano (c.1527-c.1575)
Toccata del ottavo tono (Toccate et Ricercari d'Organo, 1604)
Adriaan Willaert (1490-1562)
Recercar I (Musica Nova, 1540)
Recercar X
Abraham van de Kerckhoven (1627-1702)
Fantasia primi toni
Joris Verdin (1952)
Codex un poco Faenza (1987)
Joseph Hector Fiocco (1703-1741)
L'Italienne
Vivace
II - Harmónio
César Franck (1822-1890)
Andantino - Offertoire (5 Pièces pour harmonium)
Ave Maria
Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Barcarolle Op. 1 nº 2
Ave Maria
Joseph Leybach (1817-1891)
Les Bateliers de Venise
Alexandre Guilmant (1837-1911)
Recueillement Op. 23 nº 1
Lefébure-Wely (1817-1869)
Rhapsodie espagnole (Trois Suites pour Harmonium)
Dernière espérance (Nuits Napolitaines, Op. 183)
O salutaris
Participantes
Joris Verdin Joris Verdin ao mesmo tempo organista e musicólogo. Esta combinação é a razão da sua preferência por fazer reviver música esquecida, ao mesmo tempo que cria música nova. Gravou mais de quarenta CD´s como solista abrangendo muitos estilos e períodos musicais. Após diversas atividades como acompanhador, arranjador e produtor, concentra-se atualmente no órgão e no harmónio, sendo reconhecido internacionalmente como um especialista. Ensina órgão no Conservatório Real de Antuérpia e é professor de Organologia na Universidade de Leuven (Bélgica). Masterclasses, edições musicais e artigos são uma parte importante das suas atividades. Entre elas, a primeira edição completa das obras de César Franck para harmónio e o primeiro manual de técnica para harmónio. Os seus artigos foram publicados em revistas como Het Orgel (Holanda), The Diapason (USA), La Tribune de l’Orgue (Suíça), ROC Bulletin (Japão), L’Orgue (França) Orgelkunst (Bélgica), Ars Organi (Alemanha). A cidade espanhola de Torre de Juan Abad (Ciudad Real) nomeou Joris Verdin organista honorário do órgão histórico construído por Gaspar de la Redonda in 1763. |
Maria Ferreira Iniciou a sua formação musical aos doze anos no Conservatório de Música da Madeira Frequentou a Escola Superior Música de Lisboa e Escola Superior Educação de Beja, sendo Licenciada em Formação Musical pelo Instituto Superior de Ciências Educativas. Frequentou diversas ações de formação em Portugal e no Estrangeiro sobre Pedagogia Musical onde trabalhou, entre outros, com J. Peixinho, Pierre van Hauwe, J. Wuytack, E. Gordon, Helena Rodrigues e Charles Chapuis. No domínio da Direção Coral participou nos Cursos Internacionais de Sines sob orientação de Edgar Saramago e Anton de Beer, e Vianey da Cruz na técnica vocal. Frequentou as Jornadas Internacionais da Sé de Évora, onde trabalhou com Peter Phillips, Francisco d’Orey e José Robert. Na área do Canto estudou com Ana Leonor Pereira, participando como cantora solista em diversos espetáculos promovidos pela DSEAM / S.R.E. da Madeira, com destaque para as óperas de Jorge Salgueiro Orquídea Branca e O Salto - Ópera Rewind, entre outros. Desde Dezembro de 2010 é executante na Associação Cultural e Artística Imperatriz Sissi desempenhando diversos espetáculos nas principais salas do Funchal, sendo frequentemente a solista convidada. Paralelamente é cantora residente do grupo The Blue Danube Trio. Para além de ter integrado vários coros em Portugal continental, foi membro do Ensemble Vocal Regina Pacis e colabora no Coro de Câmara da Madeira. Desde Novembro de 2005 é diretora artística do Grupo Coral do Estreito de Câmara de Lobos. |
Notas ao Órgão
Igreja e Convento de Santa Clara, Funchal
A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.
Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.
Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima
Decimanona
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)