Terça-feira, 21 de Outubro, 11h00 Visita comentada aos órgãos por João Vaz e Dinarte Machado Visita comentada a órgãos históricos: o mais antigo e o mais recente A Diocese do Funchal contou, desde o século XV, com a presença do órgão nas suas celebrações litúrgicas. Muitos foram os instrumentos que, desde então, enriqueceram as igrejas da capital madeirense e muitos foram os que, com o passar do tempo, se perderam. Apesar disso, a cidade possui ainda hoje um número de instrumentos que permite uma panorâmica da sua vida organística nos últimos três séculos. Esta visita pretende dar a conhecer o mais antigo órgão atualmente existente no Funchal - o órgão do Convento de Santa Clara, com características ítalo-lusitanas da primeira metade do século XVIII - e o mais recente - o grande órgão da Igreja de São João Evangelista (Colégio), construído por Dinarte Machado e inaugurado em 2007. A visita permitirá desvendar algumas das caraterísticas do funcionamento destes dois instrumentos, assim como a audição de obras a eles especialmente adaptadas. João Vaz |
Participantes
João Vaz Natural de Lisboa, João Vaz é doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido a tese A obra para órgão de Fr. José Marques e Silva (1782-1837) e o fim da tradição organística em Portugal no Antigo Regime, sob a orientação de Rui Vieira Nery. É diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatório Superior de Música de Aragão em Saragoça, tendo trabalhado com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, sendo também licenciado em Arquitetura pela Universidade Técnica de Lisboa. Tem mantido uma intensa atividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente, em cursos de aperfeiçoamento organístico. Efetuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo, salientando-se as efectuadas em órgãos históricos portugueses. Como executante e musicólogo tem dado especial atenção à música sacra portuguesa, fundando em 2006 o grupo Capella Patriarchal, que dirige. As suas publicações incluem artigos que incidem sobretudo na música de tecla portuguesa. Lecciona atualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo também exercido funções docentes no Instituto Gregoriano de Lisboa, Universidade de Évora e Universidade Católica Portuguesa (Escola das Artes). Fundador do Festival Internacional de Órgão de Lisboa em 1998, é atualmente diretor artístico das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997). |
Dinarte Machado Desde muito jovem, esteve ligado á música, surgindo o primeiro contacto com os órgãos de tubos ainda com vinte anos de idade, por necessidade imperiosa de restauro no órgão da Igreja Matriz de S. Jorge, no Nordeste, ilha de S. Miguel, lugar que o vira crescer. Em 1987 monta atelier em Ponta Delgada, dedicando-se exclusivamente ao trabalho de organaria, efetuando o seu primeiro restauro: órgão da Igreja Matriz da Ribeira Grande, em S. Miguel. Depois vão-se sucedendo outros restauros em órgãos dos Açores, Madeira, Continente e Espanha e até à data realizou setenta e sete restauros em órgãos históricos, na sua maioria da escola de organaria portuguesa, da segunda metade do século XVIII, em cuja área é especialista. No campo da construção tem feito alguns órgãos de pequena dimensão para estudo e construiu nove instrumentos de maior envergadura, como o que se destinou à Igreja do Colégio do Funchal. Realizou os inventários dos órgãos dos Açores e da Madeira, cujos trabalhos já se encontram publicados. Em 1993, trabalhou em Espanha, com o Mestre Organeiro, Gerhard Grenzing, no restauro do órgão histórico do Palácio Real de Madrid. No Congresso Internacional realizado em Mafra, no ano de 1994, demonstra a existência de diferenças entre os órgãos espanhóis e portugueses a partir da segunda metade do século XVIII. Foi responsável pelo restauro dos seis órgãos da Basílica de Mafra, construídos no reinado de D. João VI, conjunto único no mundo e que representa o expoente da escola de organaria portuguesa, cujo trabalho foi inaugurado em 15 de Maio de 2010. Foi este trabalho reconhecido com o Prémio Europa Nostra em 1 de Junho de 2012. Em Julho de 2010 foi condecorado com a comenda da Ordem de Mérito, por Sua Exa. Senhor Presidente da República. Terminou este ano o restauro do maior órgão construído em Portugal, o Órgão Histórico do Mosteiro de Lorvão. |
Notas ao Órgão
Igreja e Convento de Santa Clara, Funchal
A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.
Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.
Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima
Decimanona
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.
I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)
II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)
Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)
Acoplamento
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais