Sexta-feira, 17 de Outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista (Colégio)
Pieter Van Dijk: órgão
Foi principalmente durante os primeiros anos da sua carreira que Johann Sebastian Bach trabalhou como organista. As sua primeiras posições em Arnstadt, Mühlhausen e Weimar respectivamente deram-lhe a oportunidade de tocar regularmente durante celebrações e concertos, e de compor muitas obras diferentes para o órgão. Os seus anos em Weimar (1708-1717) em particular foram nesse aspecto um período muito frutífero. Embora Bach nunca tivesse viajado além da Alemanha do Norte, era muito bem informado acerca dos estilos musicais diferentes em outros países como a Itália e a França. Através dos seus contactos diretos com os grandes mestres Johann Adam Reincken e Dietrich Buxtehude, aprendeu os princípios composicionais da Alemanha do Norte. A música francesa chegou a Weimar através de publicações impressas, como o Livre d’Orgue de Nicolas de Grigny. Os Concerti Grossi de Antonio Vivaldi foram trazidas para Weimar pelo Príncipe Johann Ernst von Weimar, que estudou a lei em Utreque e visitou Amesterdão.
A virtuosa Pièce d’orgue constitui um exemplo único no repertório para órgão de Bach. O título e as indicações de tempo mostram claramente já a influência francesa. A parte do meio, com o seu forte desenvolvimento harmónico, lembra o Plain Jeu. Crescentes linhas nos pedais ajudam a manter a tensão durante um largo período. Na terceira parte, o motivo descendente em meios-tons no pedal termina num ponto de órgão repetido em Ré.
O Orgelbüchlein é uma coleção de quarenta-e-seis breves prelúdios corais, baseados em hinos provenientes do cancioneiro de Weimar. Todos os prelúdios têm uma parte obrigatória para pedal. Cada coral possui um carácter claro no qual a tonalidade, o motivo musical e o andamento estão num equilíbrio único, expressando o texto em relação ao tempo litúrgico.
Bach exigiu que o organista fosse um verdadeiro “multitasker”. Nas suas seis Sonatas em Trio esperava que o músico dividisse a sua personalidade em três partes independentes: as duas mãos imitam um violino enquanto os pés executa um baixo que parece um violoncelo. A sonata originou-se em Itália e é fortemente ligada ao compositor Arcangelo Corelli.
Os monumentais Prelúdio e Fuga em Si menor foram compostos em Leipzig no fim da vida extremamente produtiva de Bach. A tonalidade da obra e a expressão dos motivos musicais sugerem que esta composição é relacionada com o tema da Paixão. Bach até ficou o registo: “pro Organo Pleno”, “para grande órgão”. A Fuga é dupla, com dois temas; o primeiro é um motivo gradativo em oito notas, sem ritmo específico. O segundo tema é completamente contrastante, começando no cimo do teclado, descendendo em saltos e tendo um forte perfil rítmico.
Pieter van Dijk
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Pièce d’Orgue BWV 572
Tres Vitement
Gravement
Lentement
Prelúdio de coral Mit Fried und Freud ich fahr dahin BWV 616
Prelúdio de coral Herr Gott nun schleuss den Himmel auf BWV 617
Prelúdio de coral O Lamm Gottes unschuldig BWV 618
Prelúdio de coral Christe, du Lamm Gottes BWV 619
Sonata em ré menor BWV 527
Andante
Adagio
Vivace
Prelúdio de coral Christus, der uns selig macht BWV 620
Prelúdio de coral Da Jesus an dem Kreuze stund BWV 621
Prelúdio de coral O Mensch, bewein’ dein’ Sünde gross BWV 622
Prelúdio de coral Wir danken dir, Herr Jesu Christ BWV 623
Prelúdio de coral Hilf Gott, das mir’s gelinge BWV 624
Prelúdio e Fuga em si menor BWV 544
Participantes
Pieter van Dijk nasceu em 1958 e estudou órgão com Bert Matter no Conservatório de Arnhem. Continuou os seus estudos com Gustav Leonhardt, Marie-Claire Alain e Jan Raas e foi laureado nos concursos internacionais de Deventer em 1979 e de Innsbruck em 1986. É organista do famoso órgão Van Hagerbeer/Schnitger da St. Laurenskerk em Alkmaar e organista da cidade de Alkmaar. Na St. Laurenskerk é também director artístico, tendo vindo a organizar os ciclos de órgão desde 1997. É também diretor artístico do Organfestival Holland que organiza de dois em dois anos um festival que inclui um concurso e uma academia. Pieter van Dijk é o representante artístico da cidade de Alkmaar na associação ECHO (European Cities of Historical Organs). É também membro da comissão para o órgão da Katharinenkirche em Hamburgo. Para além da sua atividade concertística na Europa, Estados Unidos e Japão, Pieter van Dijk é professor de órgão no Conservatório de Amesterdão e Hochschule für Musik und Theater em Hamburgo. As suas publicações incluem artigos sobre Matthias Weckmann, Jan Pieterszoon Sweelinck, J. S. Bach e Karl Straube e fez várias gravações em instrumentos históricos em Espanha, Holanda e Itália. |
Notas ao Órgão
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.
I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)
II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)
Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)
Acoplamento
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais