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D 09Domingo, 30 de outubro, 21h30 
Igreja e Convento de Santa Clara (Funchal) 


António Carreira e Frei António Carreira 
Capella Patriarchal 
João Vaz, órgão e direção 


António Carreira e Frei António Carreira 

As figuras de António Carreira «o Velho» e do seu lho Frei António Carreira ocupam um lugar de indiscutível relevância na panorâmica da música portuguesa quinhentista. António Carreira, Mestre de Capela em Lisboa, foi a mais importante figura da música de órgão portuguesa de meados do século XVI. As suas obras para tecla – algumas das quais brilharão neste concerto, no precioso instrumento histórico da Igreja do Convento de Santa Clara – conservam-se na Biblioteca Geral da universidade de Coimbra (P-Cug MM 242). Esta biblioteca alberga também algumas obras vocais do compositor, como por exemplo o Stabat Mater (P-Cug MM 48), que encerrará o programa de hoje. Frei António Carreira foi eremita de Santo Agostinho e faleceu no Convento da Graça em Lisboa, vítima da peste, em 1599. Escreveu várias obras vocais destinadas à liturgia da Semana Santa, as quais se encontram no chamado «Livro de São Vicente», atualmente conservado no Arquivo da Sé Patriarcal de Lisboa (P-Lf FSVL 1P/H-6). Este manuscrito – lamentavelmente mutilado provavelmente pela venda avulso de algumas dezenas de fólios – está organizado como um livro da Semana Santa e constituí um dos mais importantes documentos da prática polifónica tardo-renascentista no nosso país. Os Responsórios de Quinta-Feira Santa e a Missa Ferial, que hoje se ouvirão, foram apresentados em primeira audição moderna nos Concertos de Ano Novo do Patriarcado de Lisboa de 2014. Frei António Carreira planeava uma edição das obras de seu pai, projecto que infelizmente não levou a cabo, provavelmente devido à sua morte prematura.

João Vaz


António Carreira (a.1540 - a.1597)
¬ Sexti toni, fantasia a quatro
¬ Canção a quatro glosada
¬ Tento com cantus rmus sobre «Con que la lavaré»*
¬ Fantasia a quatro em ré
¬ Fantasia a quatro em lá-ré

Frei António Carreira (c.1550/55 - 1599)
¬ Responsórios de Quinta-Feira Santa
› I – In monte oliveti
› II – Tristis est anima mea
› III – Ecce vidimus eum
› IV – Amicus meus
› V – Judas mercator pessimus

› VI – Unus ex discipulos
› VII – Eram quasi agnus
› VIII – Una hora
› IX – Seniores populi
¬ Missa ferial a 4

› kyrie
› Sanctus
› Benedictus

› Agnus dei

› Deo gratias

António Carreira
¬ Stabat Mater

Capella Patriarchal

Mónica Santos, soprano

Carolina Figueiredo, contralto

João Rodrigues, tenor
Manuel Rebelo, baixo

João Vaz, órgão e direcção


Participantes


 

Capella PatriarchalCapella Patriarchal

Criado recentemente, mas contando já com diversas apresentações em Portugal, Espanha e Alemanha, este agrupamento é um projeto destinado fundamentalmente à divulgação dos tesouros da música sacra portuguesa. Apresenta frequentemente obras inéditas, pautando-se por um cuidadoso trabalho prévio de investigação das fontes musicais, assim como por um intenso esforço de observação das práticas interpretativas das diversas épocas. A presença do órgão na sua formação permite não só a interpretação das obras em que o instrumento executa uma parte obrigada ou simplesmente o baixo contínuo, como também o repertório mais antigo, seguindo a tradição da polifonia vocal acompanhada pelo órgão ou por outros instrumentos. Tendo origem no trabalho de João Vaz em relação à música de órgão portuguesa dos séculos XVI a XIX, através do estudo direto das fontes, aborda a música vocal, contando para isso com a colaboração de cantores especialmente dedicados a este tipo de repertório.

Joao Vaz foto Telma VerissimoJoão Vaz

Natural de Lisboa, João Vaz é diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatório Superior de Música de Aragão, em Saragoça, onde estudou com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É também doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido, sob a orientação de Rui Vieira Nery, uma tese sobre a música portuguesa para órgão no final do Antigo Regime. Tem mantido uma intensa actividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente em cursos de aperfeiçoamento organístico, ou membro de júri de concursos de interpretação. Efetuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo, salientando-se as efectuadas em órgãos históricos portugueses. Como executante e musicólogo tem dado especial atenção à música sacra portuguesa, fundando em 2006 o grupo Capella Patriarchal, que dirige. O seu trabalho de edição musical, objecto de publicação em Portugal e em Espanha, abrange obras conservadas em diversas bibliotecas e arquivos nacionais. Leciona atualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa. É atualmente diretor artístico do Festival de Órgão da Madeira e das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997).


Notas ao Órgão


 

D 19Igreja e Convento de Santa Clara (Funchal)

A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.

Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.

Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima (2´)
Decimanona (1 1/3´)
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)