ING1PT1

D 091Sábado, 29 de outubro, 21h30 
Igreja de Nossa Senhora de Conceição (Machico) 


Música nos conventos espanhóis do Barroco 
Jesús Gonzálo López, órgão 


Música nos conventos espanhóis do Barroco 

Este programa abarca um século de música espanhola para órgão, desde os princípios do século XVII até aos princípios do século XVIII, o que vem a ser o pleno Barroco. A coleção de Fray Antonio Martín i Coll, compilada entre 1706 e 1709, e a morte de Juan Bautista Cabanilles, ocorrida em 1712, marcam o m de uma época e de um repertório, coincidindo em Espanha com a mudança dinástica (1700-1713). A obra de autores como Joseph Elias (m. 1749), junto com a de outros organistas de aqui ou de ali, extingue-se entre a solfa cravística imperante até ao meio do século (Albero, Scarlatti, Seixas, Soler, etc.), servindo de ponte entre o barroco e a receção do classicismo que se sucede na Penísula Ibérica. O tiento é a forma básica e principal do barroco musical organístico ibérico, mas nas últimas décadas do século XVII o «molde» tiento (como dizia o meu Mestre Kastner) começa a evoluir vertiginosamente assim que começa a sentir-se a influência musical de além-Pirinéus. O termo «obra» surge como um novo «molde» em que cabem melhor as formas da nova música para órgão – a mais moderna – além de englobar o tradicional tiento e as suas variantes. Mas, ao longo deste século de música espanhola de órgão que hoje aqui apresentamos, há um resquício formal que foge ao convencional e que é aquele em que nos fixámos, levando indiscutível marca monacal. A tonada pertence à cena setecentista, às corralas e ao teatro com participação musical, convertendo-se em tono humano ou divino consoante o seu lugar ou texto. Na sequência dos exemplos renascentistas e maneiristas, a canção adquire uma dupla vertente no barroco espanhol, segundo se entenda como forma musical de certa influência italo-francesa (as de Torrellas ou de Torrijo) com influência dos modelos da Renascença mas com linguagem barroca, ou como melodia própria, concreta e caraterística e de certo gosto popular (as de Martín i Coll) que vêm partilhar os temas das antigas tonadillas de que se nutrem. Tonadas e canções, salpicadas de danças, são os ingredientes com que se faz esta sopa de solfa monacal, oferecendo um repertório de alta qualidade musical presente nos conventos espanhóis do barroco, tão afastado do repertório organístico ibérico mais comum. Que desfrutem!

Jesús Gonzálo López


Fray Christóbal de San Jerónimo (professou em 1605)
¬ Tiento de tonadas, 8º tono

Anónimo (Séc. XVII, Mosteiro do El Escorial)
¬ Obra sobre la tonada del desmayo

Fray Bartholomé de Olagüe(Séc. XVII)
¬ obra de 8º tono (tonada)
¬ Xácara de 1º tono

Fray Antonio Martín i Coll (colectânea) (1680-1734)
¬ Folías
¬ Diferencias sobre gayta

Fray Joseph Torrellas (Séc. XVII)
¬ Canción de 1º tono
¬ Canción de 8º tono

Fray Antonio Martín i Coll (colectânea)
¬ Chacona
¬ Obra de 3º tono, canción

Fray Diego de Torrijos (1653-1691)
¬ Canción de 6º tono por Delasolre

Fray Antonio Martín i Coll (colectânea)
¬ Obra de clarín


Participantes


 

Jesus Gonzalo LopesJesús Gonzálo López

Ao longo de mais de vinte e cinco anos de carreira, percorreu uma boa parte do mundo tocando o órgão e, entre CDs e livros, editou umas trinta publicações. Iniciou-se na música com D. Bienvenido García, cónego organista da Catedral de El Burgo de Osma, absorvendo a antiga tradição do ensino da música nas catedrais espanholas. Os apelidos Riaño, Uriol, Jansen, Kastner, Prensa ou Calahorra foram referências de maestria e arte. Desde a sua formação busca um perfil profissional que será o que guia a sua carreira – o património musical ibérico, principalmente órgãos – orientando o seu esforço e labor em quatro vertentes: interpretação de música em instrumentos históricos, investigação sobre os instrumentos, edição de música e difusão dos seus valores estéticos. Desde há muitos anos assessora os governos regionais de Aragão e de Castela e Leão para o restauro de órgãos históricos. Dirige duas colecções na Institución “Fernando el Católico” (Governo Provincial de Saragoça), uma de gravações em órgãos históricos e outra sobre o património musical aragonês. É professor do Conservatorio Profesional de Música de Saragoça. Como executante, a solo ou em colaboração com outros músicos, tem difundido a música ibérica desde o Uruguai ao Líbano passando pela Estónia ou o arquipélago dos Açores, percorrendo quatro continentes e quase todos os cantos de boa parte de Espanha. Assim, ao longo de vinte cinco anos de carreira, tem reforçado a sua ideia primogénita de que, através do estudo e difusão do património musical antigo, se pode contribuir para que todos tenhamos um maior entendimento do mundo, da vida e do Homem.

 


Notas ao Órgão


 

D 08Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Machico)

Na documentação histórica anterior ao século XX constam observações que se referem a dois instrumentos: um foi oferecido, segundo a tradição historiográfica, em 1499, à Igreja de Nossa Senhora da Conceição pelo rei D. Manuel, e um outro adquirido em 1746. No que diz respeito ao órgão manuelino podemos deduzir que ele foi colocado no arco que se abre sobre o cadeiral do lado do Evangelho da capela-mor. No século XVIII, o estado de conservação deste órgão terá deixado muito a desejar, verificando-se a aquisição do segundo instrumento em 1746. O órgão chegou à Madeira em 1752, tendo o Conselho da Fazenda contribuído, inicialmente, nas despesas da sua compra e, posteriormente, nos custos da sua instalação.

O recente restauro, da responsabilidade de Dinarte Machado, teve como objectivo principal restituir, na medida do possível, a sua constituição original, seguindo as indicações dadas pelas próprias peças durante a desmontagem. Assim, no decorrer do restauro optou-se por uma filosofia de intervenção que tivesse sempre em conta as particularidades das peças originais, desde à configuração da caixa e policromia, à reposição da registação, tubaria, folaria, e até à colocação do instrumento no seu local original - a capela-mor. Ainda em relação à composição do instrumento, reintroduziu-se o meio-registo da mão direita, de palheta, que o órgão indicava possuir originalmente e que, de certa forma, o caracteriza. O teclado original, encontrado a monte e que se conseguiu recuperar, mantém a extensão da época com Oitava curta. Ficou completada, com grande rigor, a nova tubaria de acordo com as características que os poucos tubos originais conservados evidenciavam, comparada com as próprias indicações e dimensões do someiro, que também foi minuciosamente estudado e documentado.

Não há dúvidas que se trata de um dos mais belos órgãos da Ilha da Madeira, sendo um dos instrumentos que conserva algumas das mais relevantes características da organaria do século XVII em Portugal. É de salientar ainda que o trabalho de restauro desencadeado nesta peça exigiu o estudo de muita documentação, assim como comparações com outros órgãos da época. Uma vez que tais instrumentos não existem em Portugal, teve de se recorrer a dados em outros países.

Manual (C, D, E, F, G, A-c’’’)
Flautado de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Flauta doce
Dozena (2 2/3’)
Voz humana (c#’-c’’’)
Quinzena (2’)
Composta de 19ª e 22ª
Sesquialtera II (c#’-c’’’)
Clarim* (c#’-c’’’)

* palhetas horizontais