Quinta-feira, 27 de outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista (Colégio - Funchal)
Bach
Albrecht Koch, órgão
Bach
Como organista num dos órgãos mais significativos do período barroco (o grande órgão Silbermann da Catedral de Freiberg), sinto-me especialmente ligado à música de Johann Sebastian Bach. Isto é reforçado não só pelo facto de que Johann Sebastian Bach e Gottfried Silbermann terem sido contemporâneos, como por terem estabelecido contato em 1746. Conceber um programa só com obras de Bach que não seja um simples best of das peças do compositor é, no entanto, um desafio. No programa de hoje, tento retratar Bach como um jovem tempestuoso e torná-lo no Bach maduro oposto. O concerto abre com o Prelúdio e fuga em Ré maior. Com a escala de uma oitava na pedaleira no início e a muito virtuosística fuga, é uma das obras de órgão mais tecnicamente exigentes de Bach. Foi escrito por volta de 1710 em Weimar, onde Bach tinha encontrado emprego, depois de uma curta estadia em Mühlhausen como organista. A peça mostra claramente o caráter temperamental do jovem Bach, então com vinte e cinco anos mas já na plena posse das suas capacidades técnicas enquanto organista – uma base não insignificante para suas composições. Os dois prelúdios de coral BWV 713 e 709 foram escritos provavelmente já em 1708 e são igualmente atribuídos ao período de Weimar. Ambas as peças são referidas na coleção do teórico e compositor Johann Philipp Kirnberger. O Prelúdio e fuga em Sol maior tem origem provavelmente no final dos anos de Weimar, em 1717. O prelúdio, marcado pelo estilo do concerto italiano, apresenta a indicação Vivace. A cópia autógrafa nal de Bach foi feita, no entanto, apenas em 1733 em Leipzig, provavelmente, para a admissão do seu lho Wilhelm Friedemann ao cargo de organista do órgão Silbermann da Sophienkirche em Dresden. No centro do programa encontra-se o Bach maduro, que é acima de tudo definido, quase como summa summarum, na última fuga da Arte da fuga, que chegou até nós incompleta. A fuga é construída sobre três temas, dos quais o último cita o nome do compositor através das notas si bemol - lá - dó - si natural (na nomenclatura germânica representadas pelas letras B-A-C-H). A introdução deste tema coincide com a interrupção do manuscrito. Carl Philipp Emanuel Bach adverte: «N.B.: no decorrer [da composição] desta fuga, onde o nome BACH é usado como contratema, o autor faleceu». O manuscrito surgiu durante os três últimos anos da vida de Bach e a impressão só foi levada a cabo após a sua morte. O editor integrou na publicação o prelúdio de coral Vor deinen Thron tret ich hiermit, que sob o título 75 sein pode ser encontrado nos Corais de Leipzig. Também o Trio sobre Herr Jesu Christ, dich zu uns wend pode ser encontrado nesta coletânea, elaborada por Bach nos últimos anos da sua vida. No entanto, usou nela sobretudo obras mais jovens, algumas mesmo do período de Weimar. E assim, o programa recua cronologicamente até aos anos do jovem Bach e termina com uma das suas maiores composições: a Passacalha em dó menor. Na realidade, é uma obra bipartida, com uma série de vinte variações sobre um tema, encadeada com uma fuga sobre o tema da passacalha. A obra resulta muito possivelmente do regresso de Bach de Lübeck, onde visitou Buxtehude em 1705. Pela sua complexidade contrapontística, teve significativa influência sobre obras similares dos séculos XVIII e XIX. Revela um espírito tempestuoso que já nos seus anos de juventude mostra que encontra na plena posse das suas capacidades composicionais. Passível de numerosas interpretações, a obra é hoje uma das mais conhecidas peças para órgão de Bach e coroa o programa de forma inconfundível.
Albrecht Koch
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
¬ Prelúdio e fuga em Ré maior, BWV 532
¬ Fantasia sobre Jesu meine freude, BWV 713
¬ Prelúdio de coral Herr Jesu Christ, dich zu uns wend, BWV 709
¬ Prelúdio e fuga em Sol maior, BWV 541
¬ Trio sobre Herr Jesu Christ, dich zu uns wend, BWV 655
¬ A arte da fuga / the art of Fugue, BWV 1080
XIX – fuga a 3 sogetti (incompleta)
¬ Prelúdio de coral Vor deinen Thron tret ich hiermit, BWV 668
¬ Passacalha em dó menor, BWV 582
Participantes
Albrecht Koch Albrecht Koch, nascido em 1976 em Dresden, vem da tradição do Dresdner Kreuzchoir. Estudou música e direcção coral em Leipzig, os seus professores sendo Arvid Gast, Martin Schmeding e Morten Schuldt-Jensen. Cursos com personalidades como Roy Goodman, Ewald Koiman, Lars Ulrik Mortensen e Hans Fagius complementaram os seus estudos. Desde 2008 Koch é diretor de música da Catedral e organista da Catedral de Freiburg, na Saxónia, onde é responsável pelo órgão de 1714 do atelier de Gottfried Silbermann, um dos instrumentos mais importantes do período barroco. Tem sido altamente reconhecido pela sua redescoberta de obras esquecidas da história musical da Saxónia. Desde 2010, Albrecht Koch é o presidente da Sociedade Internacional Gottfried Silbermann. É o diretor artístico do prestigiado festival de música Silbermann-Tage, que tem lugar de dois em dois anos, e do Concurso Internacional de Órgão Gottfried Silbermann. Representa a cidade de Freiburg como diretor artístico das Cidades Europeias de Órgãos Históricos (ECHO). Ao lado da sua atividade musical na Catedral, Albrecht Koch dá concertos regularmente na Alemanha e por toda a Europa. Lecciona na Universidade de Música de Leipzig, e é também convidado a ser membro do júri em grandes concursos internacionais de órgão e a dar masterclasses em vários países. As suas outras atividades englobam produções para rádio, CDs e filmes. |
Notas ao Órgão
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.
I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)
II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)
Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)
Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais