ING1PT1

D 04Quarta-feira, 26 de outubro, 21h30 
Igreja e Recolhimento do Bom Jesus (Funchal) 


Norte contra Sul: Sweelinck e Cabezón 
Jesús Gonzálo López, orgão 
Frank van Wijk, órgão 


Norte contra Sul: Sweelinck e Cabezón 

Jan Pieterszoon Sweelinck (nascido em 1572 em Deventer, organista da vila na Oude Kerke, Amesterdão), é largamente considerado o mais importante compositor na história da Holanda. Alcunhas tais como “o Orfeu de Amesterdão” e “Fabricador de organistas” testemunham a sua reputação de músico e professor. Embora nunca publicasse as suas obras para tecla, a sua produção nesta área foi cuidadosamente copiada por alunos e admiradores estrangeiros, e foi assim preservada em fontes autógrafas geralmente de con ança. A seleção para este programa visa dar uma impressão dos géneros nos quais Sweelinck se distinguiu como compositor para tecla: a toccata, inspirada em exemplos italianos tais como Claudo Merulo; variações sobre hinos, que tocava diariamente no órgão na Oude Kerke em Amesterdão; a fantasia de eco – nesta obra o efeito produz-se tocando o eco na oitava mais baixo; as variações sobre melodias profanas – o tema das variações sobra a Pavana Hispanica na verdade veio das Obras de musica de Antonio Cabezón (nas quais se intitulava Pavana Italiana!); e, por m, a fantasia polifónica, na qual um tema é trabalhado em quatro vozes. A maneira viva (e nunca previsível) em que Sweelinck trata o estilo estrito e as técnicas contrapontísticas (como a diminuição e a aumentação do tema) testemunham a sua mestria absoluta.

Frank van Wijk


Após a morte de Antonio de Cabezón, em 1566, o seu filho Hernando, também na primeira linha do serviço musical da realeza espanhola, procura dar importância à figura do pai através da edição de parte da sua obra polifónica instrumental, o que leva a termo passados doze anos do falecimento do progenitor. Mas foi em plena vida de Antonio, quando contava quarenta e sete anos, que vêm à luz as primeiras obras de tecla, harpa ou vihuela do cego tocador de Burgos, pela mão do comerciante Venegas, que se dedica a pôr como anónima boa parte da solfa dos vihuelistas do momento, editando-a junto à dos tocadores de tecla, entre eles, e principalmente, Antonio Cabezón, a quem na edição foi su ciente referir como Antonio, dada a sua já reconhecida fama... As diferenças entre a música do Antonio em Venegas e do Antonio em Hernando são importantes. Venegas apresenta-nos obras renascentistas de ascendência medieval e Hernando mostra-nos obras que, provavelmente passadas pelo crivo da sua mão, são de pleno Renascimento... Para este momento de música escolhi o Antonio mais medieval, de quem se edita a obra cinco anos antes de que veja a luz em Deventer, Jan Pieterszoon Sweelinck, e pensei a sua música, tão alheia ao concerto e própria do serviço de Deus e do homem, como seria uma jornada do seu quotidiano ao lado do seu imperador: da missa à mesa entre hinos e danças, do cantochão clerical ao popular romance e da chanson francesa aos cantos cortesãos de um cavaleiro e de uma dama, tocando antes de se deitar um tiento ao estilo da fantasia de vihuela para descanso de sua senhoria imperial e de todos nós...

Jesus Gonzálo López

Jan pieterszoon Sweelinck (1562-1621)
¬ Toccata in C SwWV 283
¬ Allein Gott in der Höh sey Ehr (4 variações) SwWV 299
¬ Fantasia auf die manier eines Echo SwWV 275
¬ Pavana hispanica (4 variações) SwWV 372
¬ Fantasia a 4 in F SwWV 264

Antonio de Cabezón (1510-1566)
SOBRE HINOS
¬ o Lux beata trinitas
¬ Te lucis ante terminum

SOBRE DANÇAS
¬ Rugier
¬ Pavana
¬ Gallarda milanesa
¬ Pavana italiana

SOBRE UN CANTOCHÃO
¬ Dic nobis María

SOBRE UMA CHANSON FRANCESA
¬ Malherur me bat

SOBRE ROMANCES E CANTOS
¬ Para quien crié yo cabellos
¬ Vacas
¬ Canto del Cavallero
¬ La Dama le Demanda

COMO UNA FANTASIA DE VIHUELA
¬ Tiento III
(Venegas de Henestrosa, Libro de cifra nueva, Alcalá de Henares, 1557; Antonio de Cabezón, Obras de Música, Madrid, 1578)


Participantes


 

Jesus Gonzalo LopesJesús Gonzálo López

Ao longo de mais de vinte e cinco anos de carreira, percorreu uma boa parte do mundo tocando o órgão e, entre CDs e livros, editou umas trinta publicações. Iniciou-se na música com D. Bienvenido García, cónego organista da Catedral de El Burgo de Osma, absorvendo a antiga tradição do ensino da música nas catedrais espanholas. Os apelidos Riaño, Uriol, Jansen, Kastner, Prensa ou Calahorra foram referências de maestria e arte. Desde a sua formação busca um perfil profissional que será o que guia a sua carreira – o património musical ibérico, principalmente órgãos – orientando o seu esforço e labor em quatro vertentes: interpretação de música em instrumentos históricos, investigação sobre os instrumentos, edição de música e difusão dos seus valores estéticos. Desde há muitos anos assessora os governos regionais de Aragão e de Castela e Leão para o restauro de órgãos históricos. Dirige duas colecções na Institución “Fernando el Católico” (Governo Provincial de Saragoça), uma de gravações em órgãos históricos e outra sobre o património musical aragonês. É professor do Conservatorio Profesional de Música de Saragoça. Como executante, a solo ou em colaboração com outros músicos, tem difundido a música ibérica desde o Uruguai ao Líbano passando pela Estónia ou o arquipélago dos Açores, percorrendo quatro continentes e quase todos os cantos de boa parte de Espanha. Assim, ao longo de vinte cinco anos de carreira, tem reforçado a sua ideia primogénita de que, através do estudo e difusão do património musical antigo, se pode contribuir para que todos tenhamos um maiorentendimento do mundo, da vida e do Homem.

Frank van Wijk Jan ZwartFrank van Wijk

Frank van Wijk nasceu em Alkmaar em 1964, e estudou de 1983 a 1991 no Conservatório de Amesterdão. Aí diplomou-se em órgão (com Piet Kee, Jacques van Oortmerssen e Hans van Nieuwkoop respectivamente), cravo (com Bob van Asperen and Kees Rosenhart) e música sacra (com Klaas Bolt, entre outros). É ativo como professor de órgão, cravo e clavicórdio, como músico eclesiástico (organista da Ruïnekerk em Bergen NH e da Kapelkerk em Alkmaar, com o seu órgão Christian Müller de 1762) e mantém uma extensa atividade como músico de concerto. Além disso está envolvido com as actividades organísticas da Igreja de St Laurens em Alkmaar, com os seus famosos órgãos históricos. Com o organista Pieter can Dijk constitui a direção artística do Festival de Órgão da Holanda. Gravou vários CDs e DVS, e publica regularmente artigos, sobretudo sobre a história do órgão. Em 2012 as obras completas em 32 volumes do compositor, organista e pioneiro de Bach, Johannes Gijsbertus Bastiaans (1812-1875) foram publicadas pela Donemus, Frank van Wijk sendo responsável pelas obras para órgão.


Notas ao Órgão


 

D 11Igreja e Recolhimento do Bom Jesus, Funchal

Este pequeno órgão positivo foi construído em 1781 por Leandro José da Cunha (n. 1743 – m. após 1805), natural de Lisboa e um dos três construtores identificados desta família de organeiros. Leandro era filho do organeiro João da Cunha (n. 1712 – m. 1762), igualmente natural de Lisboa, que construiu o órgão da igreja de Nossa Senhora da Luz, de Ponta do Sol.

O órgão representa um tipo de instrumento muito característico para o conceito da organaria portuguesa da primeira metade do século XVIII. O facto de o instrumento não ter possuído – originalmente e à semelhança com muitos outros positivos daquela época – um registo base de 8’ (q. d. de 12 palmos) mas apenas de 6 palmos, parece indicar uma prática musical que contava com o reforço da região grave por meio de um outro instrumento.

Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’)
Flautado de 6 tapado (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena (1 1/3’)
22ª e 26ª
Sesquialtera II (c#´-d´´´)