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orgao grande3Terça-feira, 25 de outubro, 21h30 
Igreja de São João Evangelista (Colégio - Funchal) 


I – Mestres holandeses do séc. XVII ao séc. XX 
II – Vierne: Messe Solennelle 
Frank van Wijk, órgão 
Coro de Câmara da Madeira 
João Vaz, órgão 
Halyna Stetsenko, órgão de coro 
Zélia Gomes, direção 


I – Mestres holandeses do séc. XVII ao séc. XX 
II – Vierne: Messe Solennelle 

Uma ouverture festiva (na realidade um prelúdio e fuga) pelo famoso organista da vila de Alkmaar Gerhardus Havingha abre este programe dedicado a mestres holandeses. Havingha’s orientação norte-alemã re ecte-se nesta composição bem como o restauro controverso que iniciou do “seu” famoso órgão Van Hagerbeer construído pelo organeiro Schnitger em 1723-25. O violinista e compositor Willem de Fesch, nascido em Alkmaar, trabalhou em Amesterdão, Antuérpia e Londres. A sua música de câmara e os concertos foram publicados em Amesterdão durante a sua vida, onde, segundo o musicógrafo alemão Johann Mattheson, os organistas locais tocavam transcrições dos “sonatas e concertos mais novos nos seus órgãos”. O aluno holandês de Mendelssohn Johannes Gijsbertus Bastiaans foi organista em Amesterdão (Zuiderkerk) e Haarlem (St Bavo). Foi o primeiro organista holandês que se atreveu a fazer um recital de órgão unicamente de Bach (1850) e a gura pioneira da redescoberta de Bach na Holanda. Compôs muito, sobretudo para o seu instrumento, o órgão. Neste arranjo de um coral, o ambiente do texto é retratado nos interlúdios entre as linhas corais. O organista e compositor Hendrik Andriessen foi uma gura-chave na vida musical holandesa durante décadas. A sua grande produção testemunha a sua orientação pela estética francesa romântica de compositores tais como César Franck e Louis Vierne. A Sonata da Chiesa (1927) é uma da suas composições para órgão mais conhecidas. A obra consiste num tema com cinco variações, coroada pelo retorno do tema inicial, tocado no órgão pleno.

Frank van Wijk


Louis Vierne, parcialmente cego desde a infância devido a cataratas, tornou-se numa das guras centrais do órgão romântico francês. Aluno de César Franck e de Charles-Marie Widor, foi a este último que mostrou em 1899 o esboço de uma missa para coro e orquestra. Widor recomendou-lhe então que destinasse a obra a coro e dois órgãos. O resultado nal foi apresentado pela primeira vez em 1900 na Igreja de Saint Sulpice, com o compositor ao órgão de coro e Widor no grande órgão. Nesse mesmo ano, Vierne ganhava o concurso para titular do grande órgão da Catedral de Notre-Dame. Tal como o seu mestre, Louis Vierne sabia tirar partido dos grandes instrumentos e dos grandes espaços onde estavam inseridos. A Messe Solenelle é admiravelmente concebida para a disposição das catedrais francesas, onde o coro, no altar, acompanhado pelo órgão de coro, dialoga através da nave com o grande órgão. O problema da distância entre os dois instrumentos, que poderia criar grandes dificuldades na execução, foi habilmente contornado pelo compositor que con ou o papel de acompanhamento ao órgão de coro, deixando ao grande órgão espaço para intervenções a solo ou para pontuar momentos mais intensos. Exemplo deste procedimento é o Kyrie, onde os efeitos de antifonia entre os dois órgãos atingem a máxima expressão. No Agnus Dei nal, a cada uma das intervenções suplicantes do coro, segue-se uma intervenção solística do grande órgão, o qual termina a Missa num ambiente de absoluta serenidade. A 2 de Junho de 1937, aos teclados do seu instrumento de Notre-Dame, Vierne sucumbia a uma apoplexia, enquanto tocava num concerto. Mais de um século após a sua estreia, as emocionantes sonoridades da Messe solenelle vêm hoje encher pela primeira vez o espaço da Igreja do Colégio no Funchal.

João Vaz


I - MESTRES HOLANDESES

Gerhardus Havingha (1696-1753)
¬ ouverture octava in F

Willem de Fesch (1687-1861)
¬ Concerto em lá menor, op. 3 n.o 6
› Allegro
› Adagio
› Vivace

Johannes Gijsbertus Bastiaans (1812-1875)
¬ Coral e variação sobre Nun ruhen alle Wälder

Hendrik andriessen (1892-1981)
¬ Sonata da Chiesa (1927)
› Tema con Variazioni
› finale

II - LOUiS VIERNE, MESSE SOLENNELLE

Louis vierne (1870-1937)
¬ Missa solene em dó sustenido menor, para coro e dois órgãos, op. 16 (1900)
› kyrie
› Gloria
› Sanctus
› Benedictus
› Agnus dei

KYRIE

Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison.

Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós.
GLORIA

Glória in excélsis Deo
et in terra pax homínibus bonæ voluntátis.
Laudámus te,
benedícimus te,
adorámus te,
glori cámus te,
grátias ágimus tibi propter magnam glóriam tuam,
Dómine Deus, Rex cæléstis,
Deus Pater omnípotens.
Dómine Fili unigénite, Jesu Christe, Dómine Deus, Agnus Dei, Fílius Patris,
qui tollis peccáta mundi, miserére nobis;
qui tollis peccáta mundi, súscipe deprecatiónem nostram.
Qui sedes ad déxteram Patris, miserére nobis.
Quóniam tu solus Sanctus, tu solus Dóminus, tu solus Altíssimus,
Jesu Christe, cum Sancto Spíritu: in glória Dei Patris. Amen.

Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens
de boa vontade.
Nós Vos louvamos,
nós Vos bendizemos,
nós Vos adoramos,
nós Vos glorificamos,
nós Vos damos graças,
por vossa imensa glória,
Senhor Deus, Rei dos céus,
Deus Pai todo-poderoso.
Senhor Jesus Cristo,
Filho Unigénito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai:
Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós;
Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica;
Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós.
Só Vós sois o Santo;
só Vós, o Senhor;
só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo; com o Espírito Santo,
na glória de Deus Pai. Amén.

SANCTUS

Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth.
Pleni sunt cæli et terra gloria tua. Hosanna in excelsis.

Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo.
Os céus e a terra proclamam
a Vossa glória.
Hossana nas alturas!

BENEDICTUS

Benedictus qui venit in nomine Domini. Hosanna in excelsis.

Bendito o que vem em nome do Senhor.
Hossana nas alturas!

AGNUS DEI

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi: miserere nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi: miserere nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi: dona nobis pacem.

Cordeiro de Deus,
que tirais o pecado do do mundo
tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus,
que tirais o pecado do mundo
tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus,
que tirais o pecado do mundo
dai-nos a paz.


Participantes


 

Frank van Wijk Jan ZwartFrank van Wijk

Frank van Wijk nasceu em Alkmaar em 1964, e estudou de 1983 a 1991 no Conservatório de Amesterdão. Aí diplomou-se em órgão (com Piet Kee, Jacques van Oortmerssen e Hans van Nieuwkoop respectivamente), cravo (com Bob van Asperen and Kees Rosenhart) e música sacra (com Klaas Bolt, entre outros). É ativo como professor de órgão, cravo e clavicórdio, como músico eclesiástico (organista da Ruïnekerk em Bergen NH e da Kapelkerk em Alkmaar, com o seu órgão Christian Müller de 1762) e mantém uma extensa atividade como músico de concerto. Além disso está envolvido com as actividades organísticas da Igreja de St Laurens em Alkmaar, com os seus famosos órgãos históricos. Com o organista Pieter can Dijk constitui a direção artística do Festival de Órgão da Holanda. Gravou vários CDs e DVS, e publica regularmente artigos, sobretudo sobre a história do órgão. Em 2012 as obras completas em 32 volumes do compositor, organista e pioneiro de Bach, Johannes Gijsbertus Bastiaans (1812-1875) foram publicadas pela Donemus, Frank van Wijk sendo responsável pelas obras para órgão.

CCMCoro de Câmara da Madeira

Foi fundado em 1971 no seio da antiga Academia de Música e Belas Artes da Madeira pela professora de canto Rennate von Schenkendorff. Durante os primeiros anos levou a cabo uma intervenção concertista concentrada na cidade do Funchal apresentando-se periodicamente em récitas coral-instrumentais. Em 17 de Abril de 1986 constitui-se a Associação Cultural Coro de Câmara da Madeira e em 1991 é-lhe atribuído o estatuto de Instituição de Utilidade Pública. Foi pioneiro na organização de intercâmbios artísticos entre diversas instituições culturais participando regularmente em festivais corais, dentro e fora do país, na qualidade de embaixador da Região. Neste momento apresenta-se a solo e em colaboração performativa com diversos músicos e agrupamentos distintos interpretando repertório diversificado, desde árias e partes corais de grandes óperas, a canções de cariz ligeiro. Participa regularmente nos momentos altos da vida pública da Região integrando as comemorações oficiais, através de concertos sacros de grandes obras coral-sinfónicas de compositores clássicos. Conta no seu currículo com a participação em produções integrais de ópera, opereta e teatro musical. Desde a sua fundação teve como diretores artísticos residentes: Rufino da Silva, Amador Cortez, José Pereira Júnior, João Victor Costa, Agostinho Bettencourt e, neste momento, Zélia Ferreira Gomes. O Coro de Câmara da Madeira desenvolve também uma importante atividade pedagógica de ensino e prática do canto coral para jovens e adultos, sejam eles experientes ou inexperientes.

Joao Vaz foto Telma VerissimoJoão Vaz

Natural de Lisboa, João Vaz é diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatório Superior de Música de Aragão, em Saragoça, onde estudou com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É também doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido, sob a orientação de Rui Vieira Nery, uma tese sobre a música portuguesa para órgão no final do Antigo Regime. Tem mantido uma intensa actividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente em cursos de aperfeiçoamento organístico, ou membro de júri de concursos de interpretação. Efetuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo, salientando-se as efectuadas em órgãos históricos portugueses. Como executante e musicólogo tem dado especial atenção à música sacra portuguesa, fundando em 2006 o grupo Capella Patriarchal, que dirige. O seu trabalho de edição musical, objecto de publicação em Portugal e em Espanha, abrange obras conservadas em diversas bibliotecas e arquivos nacionais. Leciona atualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa. É atualmente diretor artístico do Festival de Órgão da Madeira e das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997).

Halyna Stetsenko 1Halyna Stetsenko

Formou-se no Conservatório Estatal Tchaikovsky de Kyiv, capital da Ucrânia, onde estudou entre 1975 e 1980 com os professores Galina Bulybenko e Mykola Suk, tendo obtido o Diploma Superior de órgão e piano. Entre 1980 e 1994 leccionou na Escola Profissional Especial para jovens músicos talentosos. Apresentou-se como solista e em grupos de música de câmara, inclusive com o Trio Stetsenko, em várias cidades da Ucrânia, como também na Bélgica e França. Em 1998 participou no Simpósio de Órgão decorrido na Região Autónoma dos Açores. Entre 1996 e 1999 foi pianista acompanhadora em várias Master-Classes de Felix Andrievsky e de Zakhar Bron em Espanha e Portugal. No Ano de 2003 participou no Congresso Internacional «O Órgão e a Liturgia Hoje» que decorreu em Fatima. No Ano 2009 participou na Master-Classe orientada pelo organista Jose Luis González Uriol em Lisboa. Apresentou-se nas Temporadas de Música de Câmara, organizadas pela Orquestra Clássica da Madeira. Desde 1995 lecciona Órgão e Piano no Conservatório-Escola Profissional das Artes da Madeira.

Zelia GomesZélia Gomes

Doutorada em Ciências do Trabalho, área da Psicologia Social, pela Universidade de Cádiz, Espanha; Diploma de Estudos Avançados em Ciências do Trabalho, área da Psicologia Social, pela Universidade de Cádiz, Espanha; Mestrado em Ensino de Educação Musical no Ensino Básico; Licenciatura em Administração e Gestão Escolar pelo Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE) de Odivelas; Profissionalização em Serviço pela Universidade da Madeira - Centro Integrado de Formação de Professores; Diplomada com o Curso Superior de Canto e Concerto pelo Conservatório de Música da Madeira. Entre 2008 e 2011, lecionou a disciplina de Técnica Vocal na Licenciatura em Educação Musical no Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE) de Odivelas; A partir de 1990/91 é Professora de Canto/Canto Coral e Diretora Artística dos Coros Infantil, Juvenil e EVRP na DSEAM; A partir de 2001 obteve o cargo Diretora Artística do Coro de Câmara da Madeira; entre 1990 a 2000 foi Diretora Artística do Grupo Coral do Estreito de Câmara de Lobos; 1998/99 a 2001/02 lecionou a disciplina de Canto no Conservatório de Música da Madeira - Ensino Artístico (CEPAM) e Diretora Artística do Coro Juvenil do CEPAM. Tem realizado numerosos concertos nomeadamente na RAM, Porto Santo, Portugal continental, Espanha e Eslovénia.


Notas ao Órgão


 

orgao grande2Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal

Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.

I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)

II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)

Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)

Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais