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D 13Sábado, 22 de outubro, 21h30 
Sé de Funchal 


Mozart: Sonatas de igreja 
Orquestra Clássica da Madeira 
Tiago Ferreira, órgão 
Norberto Gomes, direção 


Mozart: Sonatas de igreja

As dezassete Sonatas de Igreja (Sonate da Chiesa) de Wolfgang Amadeus Mozart foram compostas entre 1772 e 1780, durante o seu cargo como Kapellmeister na corte do Arcebispo de Salzburgo. São peças breves, autónomas, normalmente na forma A-B-A’, com caráter festivo, alegre e com andamentos rápidos (apenas uma tem caráter de Andante). É notória a in uência, nestas sonatas, da música do barroco italiano, bem como elementos temáticos e de acompanhamento (baixo de Alberti) em voga na música instrumental do séc. XVIII na Europa central. Estas Sonatas de Igreja são também exemplos interessantes que con rmam a ténue barreira existente na diferenciação entre música profana e sacra durante esse século: não se nota uma grande distinção na escrita e no estilo musical duma e outra, bem como dos seus elementos de composição intrínsecos. A nível litúrgico e segundo a opinião da maioria dos historiadores, seriam para ser executadas entre a leitura da Epístola e o Evangelho, motivo pelo qual também se chamam Sonata de Epístola e normalmente cada uma das Sonatas corresponde a uma das Missas de Mozart. As primeiras foram escritas para orquestra de cordas e órgão, tendo este apenas a função de baixo contínuo, de preenchimento harmónico. Esta atitude vai-se alterando ao longo do tempo: pouco a pouco a parte de órgão deixa de ser unicamente um acompanhamento e começa a ter um papel mais predominante com pequenas intervenções melódicas, até a assumir o papel de solista. Também a instrumentação da orquestra vai assumindo algumas alterações com a introdução de instrumentos de sopro: primeiramente com o oboé e o fagote (como reforço do baixo contínuo); em função do caráter e da instrumentação da missa para qual a Sonata de Igreja era executada, assistimos à introdução de metais (trompetes e trompas) e também tímpanos. A Fantasia em fá menor ou Adagio e Allegro Kv. 594, com o título original de “Ein Stück für ein Orgelwerk für eine Uhr” (uma peça para uma obra de órgão para um relógio) foi composta em dezembro de 1790 e é uma obra para um “órgão mecânico e automático”. Estes instrumentos tiveram o seu apogeu no séc. XVIII, fruto de um interesse da alta sociedade por instrumentos complexos que demonstravam um certo grau de tecnologia e ciência inovadoras. Segundo Jakob Adlung, numa descrição de 1768, estes instrumentos assemelhavam-se a órgãos positivos, com tubos, someiro e mecanismos inerentes a um órgão, contudo não tinham teclado, nem eram para ser tocados, funcionando sim através de um mecanismo com um rolo perfurado que continha a música previamente “gravada”. Mozart, segundo alguns testemunhos da altura, era um exímio organista e é dele a célebre expressão “... através dos meus olhos e ouvidos, o órgão é o Rei dos instrumentos”. Apesar disso, as obras de órgão de Mozart não são originais para órgão, mas sim para este tipo de instrumento, o que faz com que por exemplo a Fantasia em fá menor, originalmente escrita em quatro pautas, tenha sido alvo de uma transcrição para órgão. Várias edições disponíveis desta obra, apresentam con gurações sonoras divergentes. A Fantasia em fá menor é composta por três partes: um Adagio de caráter fúnebre e denso (Mozart tinha a intenção que esta peça pudesse também ser interpretada num contexto religioso de Exéquias) é precedido de um Allegro vibrante e virtuoso, na tonalidade de Fá maior num tempo mais rápido. No nal é retomado o Adagio inicial, sendo recapitulado o tema do mesmo.

Tiago Ferreira


Wolfgang amadeus Mozart (1756-1791)

¬ Sonata de Igreja em Dó maior, Kv 278

¬ Sonata de Igreja em Fá maior, Kv 244

¬ Sonata de Igreja em Dó maior, Kv 263

¬ Sonata de Igreja em ré maior, Kv 245

¬ Sonata de Igreja em Dó maior, Kv 328

¬ Sonata de Igreja em Si bemol maior, Kv 68

¬ Fantasia em fá menor, Kv 594 *
› Adagio
› Allegro
› Adagio

¬ Sonata de Igreja em Mi bemol maior, Kv 67

¬ Sonata de Igreja em Dó maior, Kv 329

¬ Sonata de Igreja em ré maior, Kv 69

¬ Sonata de Igreja em Dó maiorr, Kv 336

* órgão solo


Participantes


 

OCMOrquestra Clássica da Madeira

Inicialmente constituída como Orquestra de Câmara da Madeira, fundada em 1964 pelo Prof. Jorge Madeira Carneiro, a Orquestra Clássica da Madeira (OCM) é uma das mais antigas do país em atividade. Presentemente, é gerida e dinamizada pela Associação Notas e Sinfonias Atlânticas (ANSA). Ao longo do seu percurso, a OCM realizou concertos a nível nacional e internacional, designadamente, festivais em Madrid, Roma e Macau este último por ocasião de uma digressão pela Ásia. Em 1998 gravou um CD com o violinista Zakhar Bron, e em 2005, uma série de 5 CD’s com solistas portugueses, numa edição com obras de W. A. Mozart, para a EMI Classics. Foi dirigida pelos maestros titulares Zoltán Santa, Roberto Pérez e Rui Massena e por maestros convidados nomeadamente, Gunther Arglebe, Silva Pereira, Fernando Eldoro, Merete Ellegaard, Paul Andreas Mahr, Manuel Ivo Cruz, Miguel Graça Moura, Álvaro Cassuto, Jaap Schröder, Luiz Isquierdo, Joana Carneiro, Cesário Costa, Paolo Olmi, Jean-Sébastian Béreau, Maurizio Dini Ciacci, Francesco La Vecchia, David Giménez. Passados 50 anos de atividade, a Orquestra Clássica da Madeira neste momento abraça um arrojado projeto artístico proporcionando uma temporada rica em programas do período clássico, romântico e contemporâneo, onde vamos ter a oportunidade de interpretar variadas obras em estreia mundial. Nesta temporada, a Orquestra Clássica conta com a colaboração de artistas como, Martin André, António Vitorino de Almeida, Ilya Grubert, Artur Pizzarro, Phillippe Entremont, Mário Laginha, Arno Piters, Allissa Margulis, Pedro Neves, entre muitos outros.

Tiago FerreiraTiago Ferreira

Natural do Porto (1985), iniciou os seus estudos musicais aos sete anos, na Escola de Música da Igreja da Lapa e mais tarde frequentou o Curso de Música Silva Monteiro. Em 2001 ingressou na
Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos do Porto, onde inicio os seus estudos de Órgão e concluiu o III Curso Nacional de Música Litúrgica (2003-2006). É licenciado em Música Sacra pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, onde estudou Órgão e Improvisação com Giampaolo di Rosa, Composição com Eugénio Amorim e Nuno Peixoto de Pinho e Direcção de Orquestra com Cesário Costa. Realizou masterclasses de Órgão com Stefan Bayer, Luca Antoniotti, Olivier Latry, Daniel Roth, Lionel Rogg, José Uriol, Andreas Arand, Jon Laukvik, Monserrat Torrent e Ludger Lohmann. Apresentou se em concerto a solo em várias cidades de Portugal, Espanha, Alemanha, Holanda, Letónia e Itália, integrando também diversos agrupamentos instrumentais e corais. Frequentou entre 2011 e 2015 os Mestrados em Órgão-performance e em Música Sacra Católica na Escola Superior de Música de Colónia – Alemanha, tendo estudado órgão e improvisação com Winfried Bönig, direção de coro e orquestra com Reiner Schuhenn e Robert Göstl. Assumiu a Direção Artística do Coro da Sé Catedral do Porto em Setembro de 2015. Actualmente é professor convidado no V Curso Nacional de Música Litúrgica – Fátima e na Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos – Porto. É desde 2001 organista da Igreja da Lapa – Porto.

Norberto GomesNorberto Gomes

O violinista madeirense Norberto Gomes, iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música da Madeira, com sua irmã Zita Gomes, sendo suportado com uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi galardoado com vários prémios nacionais, sendo de destacar o 1o Prémio Nível Superior – Solista no Concurso Músicos RDP e prémio medalha “Mérito Artístico” atribuído pelo Governo Regional da Madeira. Em 1989 inicia um longo período de formação na Ex-URSS, sendo fortemente subsidiado pelo Governo Regional da Madeira onde teve oportunidade de estudar com vários pedagogos de mérito reconhecido, com destaque do distinto violinista, crítico musical e pedagogo A. N. Gorochov. Norberto Gomes tem-se destacado no campo da pedagogia onde com os seus alunos tem granjeado vários prémios em concursos nacionais para jovens violinistas. É Concertino e Diretor Artístico da Orquestra Clássica da Madeira. Norberto Gomes, detentor de vários graus académicos, é professor no Conservatório – Escola profissional das Artes da Madeira, onde é também Assessor Artístico da Direção.


Notas ao Órgão


 

D 07

Sé Catedral

Na Sé do Funchal, a presença de um órgão surge documentada pela primeira vez no alvorecer do século XVI. Em 1739, D. João V ofereceu à Sé um novo órgão, construído em Lisboa pelo organeiro Francisco do Rego Matos. Em 1740, o Cabido mandou colocar este instrumento na primitiva tribuna, situada à esquerda da capela-mor. Encontrando-se num estado não funcional, em 1925 o órgão foi desarmado e, onze anos depois, oferecido à Igreja do Colégio. Em sua substituição, o Cabido da Sé optou por comprar o órgão então pertencente à Igreja Anglicana. A acta da sessão do Cabido da Sé, lavrada a 5 de Janeiro de 1937, refere “que por ordem de Sua Ex.ma Reverendíssima, o Senhor Bispo havia comprado o actual órgão que pertencia à Igreja Anglicana, cujo custo foi de trinta e quatro contos e quinhentos escudos, acrescidos das despesas de transporte, montagem, etc”, sendo colocado no coro alto à entrada da porta principal da Sé. Este instrumento, desde então várias vezes intervencionado, foi construído em Inglaterra no ano de 1884, por encomenda de um médico inglês que residia na Madeira e que também se dedicava à arte organística. A dada altura, este médico decidiu oferecê-lo à Igreja Anglicana.

O órgão resultara da colaboração de vários organeiros, tendo sido o responsável pela montagem T. A Samuel no ano de 1884 (Organ Builder, Montague Road, Dalston-London). Os tubos – ou uma parte dos tubos – foram construídos pela firma Charles S. Robson (1861), os someiros pela firma Wilson Gnnerson, os teclados pela firma S. W. Browne e uma parte dos tubos metálicos pela empresa A. Speneir (1884).

Originalmente munido de uma tracção mecânica, há três décadas o instrumento sofreu consideráveis modificações, tendo-se alterado partes do mecanismo e acrescido alguns registos palhetados “em chamada”. Estas intervenções acabaram por descaracterizar completamente o órgão, sem lhe conferir maior qualidade musical. Em consequência disto e com a intenção de proporcionar à Sé Catedral um instrumento adequado para fins litúrgicos e concertísticos, realizaram-se nos anos de 1995/96 importantes obras de restauro que foram levadas a bom termo por Dinarte Machado.

I Manual (C-g’’’)
Open Diapason 8’
Flöte 8’
Holz Bourdon 8’
Principal 4’
Waldflöte 4’
Nazard 2 2/3’
Super Octave 2’
Mixture 1 1/3’ de 4 filas
Dulçaína
Trompette 8’

II Manual (C-g’’’)
Voix Celeste 8’
Gamba 8’
Gedeckt 8’
Principal 4’
Spitzflöte 4’
Octave 2’
Simbala 1’ de 4 filas
Krummhorn 8’
Tremblant

Pedal (C-g’’’)
Subbass 16’
Open Diapason 16’
Octave 8’
Bombarde 16’
Trompette 8’

Acoplamentos
I/II
I/Pedal
II/Pedal