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orgao grande3Sexta-feira, 21 de outubro, 21h30 
Igreja de São João Evangelista (Colégio - Funchal) 


De Roma a Leipzig: mestres e discípulos 
Ludger Lohmann, órgão 


De Roma a Leipzig: mestres e discípulos 

Além do seu contemporâneo Jan Pieterszoon Sweelinck de Amesterdão, Girolamo Fescobaldi foi a gura dominante da música para tecla do primeiro barroco. O seu aluno Froberger (que nasceu em Estugarda) compôs um corpo substancial de música para tecla que era bem conhecida e frequentemente copiada não só em Viena, mas por toda a Alemanha e em França. In uenciou claramente compositores do Norte da Alemanha, como Buxtehude, profundamente. Entre este último e Bach há, mais uma vez, uma relação direta de professor-aluno. Esta linhagem histórica de quatro gerações é exempli cada por quatro tocatas, um dos géneros mais importantes no repertório para tecla até Bach. Enquanto as primeiras tocatas se tentaram diferenciar o mais possível de outras formas polifónicas de música para tecla, ao evitar grande uso de técnicas contrapontísticas ou imitativas e apoiando-se, em vez, em passagens improvisatórias e progressões harmónicas elaboradas, Froberger já deve ter achado a resultante inconsistência formal problemática, e inseriu partes fugadas dentro das suas tocatas, normalmente dois deles baseadas no mesmo material motívico em compasso duplo e depois triplo. Este procedimento tornou-se quase uma norma nas tocatas da Alemanha do Norte. A Tocata em Fá de Buxtehude, porém, deve ser um exemplar primitivo, pois a forma ainda é bastante colorida, com muitas secções pequenas e uma relação apenas distante entre os temas dos dois episódios fugados principais. Bach, no desenvolvimento da forma toccata, clari cou as coisas muito mais, dividindo até as partes fugadas e livres em duas obras separadas. BWV 564 é um caso especial, pois tenta integrar o início tipicamente norte-alemão, com passagens manuais e para pedal solo, com uma secção principal no estilo concertante italiano. O Adagio poderia facilmente fazer parte de um concerto para violino, enquanto a fuga demostra o caráter de uma giga. As quatro tocatas são acompanhadas por obras de vários géneros. O Capricho de Fescobaldi, sobre uma canção popular amenga então muito conhecida, é uma composição tipicamente polifónica em sete secções em compassos e tempos diferentes. O conceito da Fantasia de Froberger é semelhante, e também tem sete secções. A diferença nos títulos é causada pela natureza mais sóbria do soggetto, o chamado hexacórdio. A Passacalha de Buxtehude é uma outra espécie de forma de variação, sobre um baixo ostinato. A particularidade desta obra é que consiste de quatro partes de sete variações cada, mas em três tonalidades diferentes: ré menor, Fá maior, lá menor e ré menor de novo (um caso único na história da passacalha antes do século XX), que levou à especulação de que poderia representar o ciclo lunar, que era tradicionalmente associado com os quatro temperamentos humanos. Numa apresentação de música para órgão da Alemanha do Norte, o coral deve ser incluído. BWV 663 de Bach é provavelmente o coral mais famoso, o Gloria luterano, com o cantus rmus ornamentado no tenor, que se pode associar claramente com o terceiro quadro, que é a equivalente ao verso latino “Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis”.

Ludger Lohmann


ROMA
Girolamo Frescobaldi (1583-1643)
¬ Toccata sesta sopra i pedali (Secondo Libro di Toccate, Roma 1637)
¬ Capriccio sopra la bassa ammenga (Primo Libro di Capricci, veneza 1626)

VIENA
Johann Jakob Froberger (1616-1667)
¬ Toccata in a (1649)
¬ Fantasia sopra Ut, re, Mi, Fa, Sol, la (1649)

LÜBECK
Dieterich Buxtehude (1637-1707)
¬ Toccata em Fá maior BuxWv 156
¬ Passacaglia in ré menor BuxWv 161

WEIMAR-LEIPZIG
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
¬ Prelúdio de coral Allein Gott in der Höh’ sei Ehr BWv 663
¬ Toccata, adagio e fuga em Dó maior BWv 564


Participantes


 

Ludger Lohmann Palmer Projekt 1Ludger Lohmann

Ludger Lohmann nasceu em Herne (Alemanha) em 1954. Estudou música e musicologia na Musikhochschule e Universidade de Colónia, órgão com Marie-Claire Alain, Anton Heiller e Wolfgang Stockmeier, e cravo com Hugo Ruf. Ganhou vários concursos internacionais de órgão, nomeadamente o concurso da ARD (Associação de Corporações Alemães de Radiodifusão) Munique 1979 e o Grand Prix de Chartres 1982. De 1979 a 1983 foi professor de órgão na Musikhochschule de Colónia. Desde 1983 é professor de órgão na Staatliche Hochschule für Musik und Darstellende Kunst, Estugarda. Foi também organista titular da Catedral Católica de S. Eberhard durante 25 anos, professor convidado na Hartt School of Music, Universidade de Hartford, Connecticut (EUA) e investigador sénior no Centro da Arte do Órgão de Göteborg na Universidade de Göteborg (Suécia). Tem dado tournées de concerto por toda a Europa, a América do Norte e do Sul, Japão e Coreia, e fez várias gravações de música dos séculos XVI – XX. É membro do júri para muitos concursos internacionais. Uma parte central das suas actividades é o ensino de estudantes talentosos de todas as partes do mundo na sua aula de órgão de Stuttgart. Como professor convidado e professor de masterclasses, visita academias de música e universidades em muitos países.


Notas ao Órgão


 

orgao de coroIgreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal

Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.

I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)

II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)

Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)

Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais