ING1PT1

D 09Domingo, 29 de outubro, 18h00 
Convento de Santa Clara 


Manuel Rodrigues Coelho - Flores de Música (1620) 
André Ferreira, órgão 
Ensemble São Tomás de Aquino 
João Andrade Nunes, direção 


Manuel Rodrigues Coelho: 
Flores de Música (1620) 

Manuel Rodrigues Coelho (1555-1635) foi tangedor da Capela Real portuguesa até 1609. Em 1620, publicou Flores de Música, a primeira obra para tecla impressa em Portugal, que contém um conjunto de 24 tentos e de 109 pequenas composições de diversos géneros: kirios, versos nos oito modos, quatro suzanas (inspirada na chanson Susanne un jour de Orlando di Lassus), quatro Pange Lingua, quatro Ave maris stella, versos de Magnificats, e ainda cinco versos sobre os passos do cantochão do Ave Maris Stella. Coelho destinava a obra ao uso litúrgico.

Apesar de Flores de Música ser uma obra para tecla e não conter nenhuma composição de polifonia vocal, a prática litúrgica envolvia igualmente o coro. O órgão e o coro executavam intercaladamente os versos de cantochão ou polifonia, chamando-se alternatim a esta prática. Os Cinco versos sobre os passos do cantochão de Ave maris stella destacam-se na obra de Coelho por se assemelharem com os tentos, obras mais longas e complexas do que os versos de Magnificat ou os kirios. O cantochão é dividido ao longo dos cinco versos, tendo o último uma secção binária e ternária: excluindo os tentos, é caso único nos versos existentes em Flores Música. Os versos de Magnificat apresentam uma disposição diferente dos kirios ou dos versos nos oito modos, pois o compositor inclui uma voz superior, assumindo o órgão a função de acompanhamento.

Frei Manuel Cardoso (1566-1650), organista e prolífico compositor de polifonia, residiu grande parte da sua vida no Convento do Carmo em Lisboa. A sua autorização foi necessária para a publicação de Flores de Música, onde o seu testemunho surge no conjunto de licenças da obra de Coelho. É possível especular se, ainda durante a vida dos dois compositores portugueses, não teriam usado obras complementares, como acontece neste programa: as secções polifónicas de Kyrie da missa Tradent enim vos, de Cardoso, correspondem aos versos pares de Kyrie, e os versos de Coelho correspondem aos versos ímpares.

Embora Flores de Música não contenha nenhuma intabulação – transcrição e arranjo de uma peça vocal para instrumento de tecla – essa seria uma arte indispensável a qualquer organista. A intabulação do motete Domine tu mihi lavas pedes pretende unir a obra de Cardoso com diminuições e glosas ao estilo de Coelho. O segundo tento por b mol é a demonstração de toda a riqueza estilística e variedade temática presente em Flores de Música.


Manuel Rodrigues Coelho (ca. 1555-ca. 1647)

¬ Cinco versos sobre os passos do cantochão de Ave maris stella

Frei Manuel Cardoso (1560-1650)

¬ Kyrie
(Missa «Tradent enim vos»)

alternado com

Manuel Rodrigues Coelho

¬ Kirios do 3º tom por a la mi re

Frei Manuel Cardoso

¬ Motete «Domine tu mihi lavas pedes»

Frei Manuel Cardoso / André Ferreira (1989)

¬ Intabulação sobre o motete «Domine tu mihi lavas pedes»

Manuel Rodrigues Coelho

¬ Magnificat do 1º tom

¬ Segundo tento do 2º tom


Participantes


 

Andre FerreiraAndré Ferreira

André Ferreira é licenciado em Órgão pelo Real Conservatório de Amesterdão, onde estudou com Jacques van Oortmerssen, tendo igualmente a oportunidade de trabalhar com Pieter van Dijk. Concluiu o mestrado em Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), sob a orientação de João Vaz. Iniciou os seus estudos de órgão com António Esteireiro no Instituto Gregoriano de Lisboa, continuando posteriormente com Jos van der Kooy no Conservatório de Haia. O gosto pela Música Antiga levou-o ao estudo de oboé barroco, com Maria Petrescu, sendo presentemente aluno de licenciatura da classe de Pedro Castro, na ESML. Como solista ou integrado em diversos agrupamentos musicais, já efetuou recitais em Portugal, Espanha, Itália e Holanda. Colabora como organista com a Paróquia de São Tomás de Aquino e com a Paróquia de Santa Maria de Belém (Mosteiro dos Jerónimos) em Lisboa. No ano lectivo 2016/2017 lecionou no Conservatório Regional de Ponta Delgada, Açores. É professor de Órgão na Escola Diocesana de Música Sacra do Patriarcado de Lisboa. É licenciado em Matemática Aplicada e Computação pelo Instituto Superior Técnico.

Ensemble S. Tomas AquinoEnsemble São Tomás de Aquino

Residente na Igreja de São Tomás de Aquino, em Lisboa, o Ensemble São Tomás de Aquino constitui-se como um grupo de composição variável formado por jovens músicos profissionais. Criado em Setembro de 2015 por João Andrade Nunes, o Ensemble São Tomás de Aquino tem procurado apresentar, em âmbito litúrgico – momento por excelência da execução de repertório sacro – diversas obras de Marc Antoine Charpentier, Wolfgang Amadeus Mozart, Joseph Haydn, entre outros. O repertório interpretado abrange desde o canto gregoriano até ao século XXI. O Ensemble, em paralelo com a sua função litúrgica, apresenta-se regularmente em concerto, tendo recentemente, executado a Missa em si menor BWV 232 de Johann Sebastian Bach.

Joao Andrade NunesJoão Andrade Nunes

Nascido no Sabugal, em 1990, iniciou os seus estudos em saxofone no Conservatório de Música Pedro Álvares Cabral - Belmonte, em 1999, com apenas 9 anos de idade, na classe do professor Carlos Canhoto. Finalizou o curso supletivo complementar de saxofone no Conservatório de Música São José, na Guarda, com a classificação de 19 valores. Como saxofonista e em música de câmara trabalhou, em regime masterclass com Mario Marzzi, Claude Delangle, Christian Lauba, Richard Ducros, Marialena Fernandes, João Vaz, Nuno Inácio, Pavel Gomziakov, Olga Prats, entre outros. Foi-lhe atribuído o 3º Prémio na Categoria Juvenil no Concurso Internacional de Saxofones de Palmela, 2005. Participou em diversos projetos de divulgação de música contemporânea, nomeadamente nos projetos Peças Frescas e Festival de Música de S. Luiz. É membro fundador do grupo Entre Madeiras Trio, grupo de música contemporânea com discografia lançada. Desde janeiro de 2008 que integra os quadros da Banda da Armada Portuguesa. É licenciado em Música, desde 2011 – variante saxofone –, pela Escola Superior de Música de Lisboa. Foi o primeiro professor de saxofone no projeto “Orquestra Geração” – Escola de Música do Conservatório Nacional. Como compositor, tem desenvolvido a sua obra, sobretudo, no âmbito de Música Sacra. Como maestro, colabora na Igreja de São Tomás de Aquino, em Lisboa, onde fundou o Ensemble São Tomás de Aquino, em 2015.


Notas ao Órgão


 

D 12

Igreja e Convento de Santa Clara (Funchal)

A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.

Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.

Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima (2´)
Decimanona (1 1/3´)
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)