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orgao grandeQuinta-feira, 26 de outubro, 21h30 
Igreja de São João Evangelista 


Em torno de Johann Sebastian Bach 
Jan Willem Jansen, órgão 
Orquestra Clássica da Madeira 
Norberto Gomes, direção 


As obras de órgão desta noite reunem, de alguma forma, o pai Johann Sebastian Bach e dois dos seus filhos: Wilhem Friedemann (o mais velho) e o seu irmão Carl Philipp Emanuel Bach. Alguém poderá dizer: – Friedemann? Não vejo o seu nome neste programa... E terá razão. Mas ele está presente, nesta noite, pelo facto de que o seu pai escreveu muito provavelmente a parte de órgão obbligato da sua cantata BWV 35 (e, portanto, da Sinfonia) para ele e foi Wilhelm Fridemann que assegurou a primeira execução da obra em 1726. Tinha dezasseis anos...

Bach (o pai) começara a escrever e a coligir peças no seu Klavierbüchlein für Wilhelm Friedemann Bach a partir de 1720 e este primeiro filho de Johann Sebastian (como, de resto, todos os restantes) teve certamente um excelente professor. Wilhelm Friedemann tornou-se num grande virtuoso do órgão e tornou-se, enquanto intérprete, mais conhecido do que o seu pai. No entanto, talvez excessivamente protegido por este último, que o considerava como o preferido, Wilhelm Friedemann nunca chegou a adquirir uma verdadeira autonomia. Foi instável nos seus postos de trabalho e terminou a vida em Berlim na miséria.

O seu irmão Carl Philipp Emanuel teve mais oportunidades e mostrou, para além disso, vontade de ter sucesso. Embora tenha inicialmente estudado Direito em Leipzig e em Frankfurt an der Oder, não ambicionava uma carreira jurídica. Em 1738 é solicitado pelo Príncipe Frederico da Prússia (que tocava flauta) para o acompanhar ao cravo. Carl Philipp Emanuel tornou-se amigo da sua irmã, a Princesa Amália (que tinha em sua casa um órgão importante) e tornou-se seu professor. As sonatas compostas entre 1755 e 1758 em Berlim, são, como ele próprio diz «escritas para uma princesa que não sabia usar a pedaleira, nem tocar obras difíceis, embora tenha mandado construir um órgão com dois teclados e pedaleira e gostasse de tocar nesse instrumento». Assim, podemos imaginar a primeira execução do Concerto em Mi bemol maior (cujo autógrafo data de 1759) pela princesa no seu castelo. Carl Philipp Emanuel termina a sua bela carreira em Hamburgo, como Director Musicus, e pode dar um poderoso impulso à vida musical daquela cidade.

Quanto ao pai Johann Sebastian, foi provavelmente, o maior criador de música de todos os tempos. O seu Prelúdio em si menor poder-se-ia definir como uma batalha entre o bom e o mau, entre o Bem e o Mal, e poderia fazer referência à Paixão de Jesus Cristo. O seu discurso inclui guirlandas de notas repetidas, como serpentes; notas repetidas no baixo (tocado na pedaleira) como toques de sinos que nos dizem a cada segundo que o tempo avança e nos dirige inevitavelmente para a morte; de novo guirlandas serpenteantes acompanhadas por notas regulares, escritas com sinais de articulação para que sejam tocadas curtas e percutantes, de forma absolutamente inumana e desprovida de sentimentos, como as chicotadas dirigidas ao Cristo inocente. Esta obra dramática foi frequentemente ligada à Paixão segundo São Marcos, obra de Bach que chegou até nós incompleta. A fuga é mais calma e transmite o carácter da resignação.


I

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

¬ Prelúdio e fuga em si menor, BWV 544

II

Johann Sebastian Bach

¬ Suite nº 2 em si, BWV 1067
› Ouverture
› Rondeau
› Sarabande
› Bourrée I e II
› Polonaise
› Menuett
› Badinerie

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788)

¬ Concerto em Mi bemol maior, Wq. 35
› Allegro ma non troppo
› Adagio sostenuto
› Allegro assai

Johann Sebastian Bach

¬ Sinfonia
(Cantata «Geist und Seele wird verwirret», BWV 35)

 


Participantes


 

Jan Willem JansenJan Willem Jansen

Após os seus estudos com Jan Warmick, Willem Mesdag e Wim van Beek, obtém em 1977 o diploma de solista do Conservatório Real de Haia aperfeiçoando-se posteriormente em cravo com Ton Koopman em Amsterdão. Prossegue então os seus estudos em França com Xavier Darasse, de quem virá a ser colaborador pedagógico no Conservatório de Toulouse, onde ensina atualmente órgão e cravo. É, igualmente, co-fundador do Departamento de Música Antiga daquele estabelecimento e assegura, ao lado de Michel Bouvard, a responsabilidade do novo departamento superior «Orgues et Claviers». Co-fundador, em 1996, com Michel Bouvard, do Festival Internacional festival «Toulouse les Orgues», Jan Willem Jansen foi durante largos anos diretor artístico daquele evento. Por ocasião da edição de 1997, gravou para a coleção Tempéraments a obra integral de órgão de Nikolaus Bruhns, completada com cantatas do mesmo compositor, interpretadas pelo Parlement de Musique sob a direção de Martin Gester. Em 1998, ele gravou um CD dedicado a Joan Cabanilles, no órgão histórico da Igreja de San Pablo em Saragoça. A sua atividade de intérprete leva-o a tocar com os mais importantes ensembles barrocos europeus, nomeadamente La Chapelle Royale de Paris, o Collegium Vocale de Gand, Hesperion XX, Les Sacqueboutiers de Toulouse e o Ensemble Baroque de Limoges. É também titular do órgão Ahrend do Musée des Augustins assim como do instrumento histórico da Basílica Notre-Dame de la Daurade em Toulouse.

OCMOrquestra Clássica da Madeira

Inicialmente constituída como Orquestra de Câmara da Madeira, fundada em 1964 pelo Prof. Jorge Madeira Carneiro, a Orquestra Clássica da Madeira (OCM) é uma das mais antigas do país em atividade. Presentemente, é gerida e dinamizada pela Associação Notas e Sinfonias Atlânticas (ANSA). Ao longo do seu percurso, a OCM realizou concertos a nível nacional e internacional, designadamente, festivais em Madrid, Roma e Macau este último por ocasião de uma digressão pela Ásia. Em 1998 gravou um CD com o violinista Zakhar Bron, e em 2005, uma série de 5 CD’s com solistas portugueses, numa edição com obras de W. A. Mozart, para a EMI Classics. Foi dirigida pelos maestros titulares Zoltán Santa, Roberto Pérez e Rui Massena e por maestros convidados nomeadamente, Gunther Arglebe, Silva Pereira, Fernando Eldoro, Merete Ellegaard, Paul Andreas Mahr, Manuel Ivo Cruz, Miguel Graça Moura, Álvaro Cassuto, Jaap Schröder, Luiz Isquierdo, Joana Carneiro, Cesário Costa, Paolo Olmi,Jean-Sébastian Béreau, Maurizio DiniCiacci, Francesco La Vecchia, David Giménez. Passados 50 anos de atividade, a Orquestra Clássica da Madeira neste momento abraça um arrojado projeto artístico proporcionando uma temporada rica em programas do período clássico, romântico e contemporâneo, onde vamos ter a oportunidade de interpretar variadas obras em estreia mundial. Nesta temporada, a Orquestra Clássica conta com a colaboração de maestros e solistas como, Jean-Marc Burfin, Evan Christ, Francisco Loreto, Nuno Coelho Silva, Amihai Grosz, Márcio Stefano e Roby Lakatos.

Norberto GomesNorberto Gomes

O violinista madeirense Norberto Gomes, iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música da Madeira, com sua irmã Zita Gomes, sendo suportado com uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi galardoado com vários prémios nacionais, sendo de destacar o 1º Prémio Nível Superior – Solista no Concurso Músicos RDP e prémio medalha “Mérito Artístico” atribuído pelo Governo Regional da Madeira. Em 1989 inicia um longo período de formação na Ex-URSS, sendo fortemente subsidiado pelo Governo Regional da Madeira, onde teve oportunidade de estudar com vários pedagogos de mérito reconhecido, com destaque do distinto violinista, crítico musical e pedagogo A. N. Gorochov. Norberto Gomes tem-se destacado no campo da pedagogia onde com os seus alunos tem granjeado vários prémios em concursos nacionais para jovens violinistas. É Concertino e Diretor Artístico da Orquestra Clássica da Madeira. Norberto Gomes, detentor de vários graus
académicos, é professor no Conservatório – Escola profissional das Artes da Madeira, onde é também Assessor Artístico da Direção.


Notas ao Órgão


 

orgao grande5Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal

Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.

I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)

II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)

Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)

Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais