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orgao grande3Segunda-feira, 23 de outubro, 21h30 
Igreja de São João Evangelista 


‘The Orgelbüchlein Project’ 
Completando a obra de Bach 
William Whitehead, órgão 


The Orgelbüchlein Project 
Completando a obra de Bach 

No ano em que comemoramos o 500º aniversário da Reforma de Martinho Lutero, toco um programa centrado em Bach e o coral. Começo com o grito de batalha da Reforma, Ein feste Burg, a versão de Lutero do Salmo 46. Escolhi para hoje uma versão pouco conhecida de Bach (ou possivelmente de Walther). A seguir, um breve interlúdio com o filho de Bach, Carl Philipp Emmanuel; embora nunca teve uma posição como organista, foi assim referido por C. F. Nicolai: “Se quiser ter um exemplo de como poder combinar os segredos mais profundos da arte com tudo que é prezado pelo bom gosto, então ouça o Bach de Berlim no órgão.” É provável que estas sonatas tenham sido escritas para Anna Amalia, Princesa da Prússia, a irmã mais nova, melómana, de Friedrich II. Bach tornou-se seu mestre de capela honorário, e talvez lhe tenha dado aulas. Esta Sonata foi escrita em 1755.

A seguir, uma sequência de corais do Orgelbüchlein e do Orgelbüchlein Project, traçando um percurso através do ano eclesiástico. Este projeto pan-europeu de longa duração procura preencher as 118 páginas em branco no manuscrito do Orgelbüchlein com novas composições. Sabemos qual a melodia que Bach tencionava usar para cada uma destas páginas “fantasma”, e os melhores compositores da Europa estão empenhados em compor o que foi omitido por Bach. Em cada composição, a melodia do coral será ouvida, uma só vez, com técnicas contemporâneas substituindo o estilo de Bach. Quando estiver completo, o Orgelbüchlein Project terá todos os “-ismos” de hoje em dia representados. No concerto de hoje, ouvimos uma seleção: Grier escreve utilizando bitonalidade, com uma versão ornamentada do coral na mão direita. Oortmerssen utiliza um minimalismo tipicamente holandês. Quinney escreve um coral em trio. A obra do diretor do Festival, João Vaz, utiliza uma espécie de cromatismo obsessivo de uma maneira que Bach teria seguramente entendido. O cânone de coral do próprio Bach, tocado imediatamente antes, Christus, der uns selig macht, não é muito distante na sua intensidade cromática.

As seis sonatas de Felix Mendelssohn-Bartholdy foram encomendas da editora inglesa Coventry and Hollier, e publicadas em 1844. O primeiro andamento da Sonata nº 6 para órgão é um conjunto de variações sobre Vater unser im Himmelreich de Lutero. O segundo andamento é uma fuga sobre o mesmo coral, e o andamento final é uma doce canção mendelssohniana – talvez reminiscente de uma das árias de Elijah, “O rest in the Lord”.

Termino com um floreado celebratório, voltando a Bach e ao seu Nun danket alle Gott, dos “Dezoito” corais, ou corais de “Leipzig”, no qual se ouve a melodia exposta amplamente, sobrepondo-se a um magistral e intrincado contraponto.


Bach, pai e filho

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

¬ Prelúdio de coral «Ein feste Burg ist unser Gott», BWV Anh. 49

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788)

¬ Sonata em Fá maior, Wq 70/3
› Allegro
› Largo
› Allegretto

Prelúdios de coral do Orgelbüchelin e do Orgelbüchlein Project

Francis Grier (1955)

¬ «Wir haben schwerlich»

Johann Sebastian Bach

¬ «Nun komm, der Heiden Heiland», BWV 599

Christopher Fox (1955)

¬ «Jesu, meines Herzens Freud»

Johann Sebastian Bach

¬ «Christum wir sollen loben schon», BWV 611

Jacques van Oortmerssen (1950-2015)

¬ «Nun ruhen aller Wälder»

Johann Sebastian Bach

¬ «Das alte Jahr vergangen ist», BWV 614

Robert Quinney (1976)

¬ «Nun lob, mein Seel, den Herren»

Johann Sebastian Bach

¬ «Christus, der uns selig macht», BWV 620

João Vaz (1963)

¬ «Herr Jesu Christ, wahr Mensch und Gott»

Johann Sebastian Bach

¬ «Heut triumphiret Gottes Sohn», BWV 630

Mendelssohn e Bach

Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847)

¬ Sonata nº 6 em ré menor, Op. 65 nº 1
› Coral [e variações]: Andante sostenuto
– Allegro molto
› Fuga
› Finale: Andante

Johann Sebastian Bach

¬ Prelúdio de coral «Nun danket alle Gott», BWV 657


Participantes


 

William WhiteheadWilliam Whitehead

A carreira de William Whitehead como organista lançou-se quando ganhou o Primeiro Prémio do Concurso Internacional de Órgão de Odense na Dinamarca em 2004. Formado na Universidade de Oxford e na Real Academia de Música em Londres, os seus professores incluíram David Sanger e Dame Gillian Weir. Ganhou valiosa inspiração durante o seu ano como Organ Scholar na Westminster Abbey, onde tocou para as cerimónias e ocasionalmente dirigiu o coro. Em consequência foi nomeado Organista Assistente na Catedral de Rochester, onde acompanhou o coro da Catedral e ajudou a fundar o novo Coro Infantil Feminino. Atualmente combina uma carreira como organista de concerto, professor e escritor. Recentemente deu seis concertos a solo na Catedral de Berlim, na Laurenskerk em Rotterdam, na Catedral de Westminster, no Festival Toulouse les Orgues e em Treviso, Itália. Toca regularmente com grupos tais como o Dunedin Consort, a Academy of Ancient Music e o Gabrieli Consort, com quem gravou recentemente um dos concertos para órgão de Handel. Fez várias gravações a solo, incluindo o premiado Dances of Life and Death (música de Alain e Duruflé), as sonatas completas para órgão de Mendelssohn, e repertório inglesa no órgão histórico Abraham Jordan em Southall, Londres. Como professor, tem ensinado na Academia Real de Música e no Trinity College de Música, e agora ensina órgão tanto na Universidade de Oxford como na de Cambridge. Atualmente está à frente de um grande projeto internacional que visa completar o Orgelbüchlein com composições novas.


Notas ao Órgão


 

orgao grande4Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal

Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.

I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)

II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)

Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)

Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais