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D 03Domingo, 22 de outubro, 18h00 
Igreja de Nossa Senhora da Conceição 


Música italiana e ibérica 
Francesco di Lernia, órgão 


Música italiana e ibérica 

A Toccata e a Canzona, atribuídas por Salvatore Pintacuda a Alessandro Scarlatti, são extraídas de um manuscrito do Conservatório «Niccolò Paganini» de Génova. Trata-se de duas peças de alta qualidade musical que, na nova edição das obras de Alessandro Scarlatti, embora atribuídas a um autor anónimo, entraram de pleno direito na história da receção do corpus teclístico de Alessandro Scarlatti.

A Pavana alla Venetiana e o Tenor di Napoli são variações sobre um baixo ostinato com caráter de dança, usadas sobretudo na literatura para harpa e vihuela. A segunda peça é testemunho da estreita relação entre Nápoles e Espanha. Ascanio Mayone nasceu em Nápoles e estudou com Giovanni Domenico di Nola e com o organista flamengo Jean de Macque, que era Mestre de Capela do Vice-Rei espanhol em Nápoles. Com a morte de Jean de Macque, Mayone passa a ser primeiro organista com Giovanni Maria Trabaci, Mestre de Capela. O Ricercar primo é tirado do Primo Libro di diversi capricci de 1603, que parece ter sido a primeira publicação de música de tecla no novo estilo italiano, associado particularmente às tocatas de Girolamo Frescobaldi. Bernardo Pasquini, célebre organista romano, era considerado na época o maior virtuoso da tecla após Frescobaldi.

Compôs, para além de várias oratórias, muita música para órgão e cravo, que chegou até nós sob a forma de manuscritos. Nas Tre Arie e nas Variazioni per il Paggio Todesco é evidente o recurso a figurações típicas da música violinística da época, num contexto harmónico sempre mais orientado no sentido das funções e núcleos tonais.

Pablo Bruna foi um dos maiores compositores espanhóis para tecla do seu tempo. Dotado de grande talento musical, obteve, ainda adolescente, o cargo de organista da Colegiada de Santa Maria em Daroca, cargo oficializado em 1631 e que manteria para o resto da sua vida. Da sua produção, subsistem trinta e duas composições, nomeadamente uma vintena de tientos, entre os quais o Tiento de falsas del 2° Tono, composição plena de dissonâncias que, para a época, representavam uma verdadeira surpresa. Flores de Música é o título dado pelo frade Antonio Martín y Coll (c. 1660-c. 1740) a um manuscrito que contém uma miscelânea de peças para tecla. Esta coleção, organizada em dois volumes, contém obras do período barroco espanhol, italiano e francês. Martin y Coll, autor de importantes tratados da época, passou uma grande parte da sua vida no Mosteiro de São Francisco, o Grande, em Madrid, com a função de primeiro organista. Em quatro anos (entre 1706 e 1709) completou a sua vasta antologia, que hoje representa um importante documento daquela época.

Domenico Zipoli foi um jesuíta, missionário e compositor italiano que viveu um longuíssimo tempo na América do Sul. Deste compositor será executada a sugestiva Elevazione. Em Itália, na primeira metade do século XIX, a ópera era a principal fonte de entretenimento musical. Os músicos de qualquer estilo e nível transcreviam para banda ou para piano as árias mais populares do repertório operístico. Os organistas não eram exceção, pois começaram a adaptar as estruturas formais da ópera às necessidades litúrgicas e, ao mesmo tempo, os organeiros começaram a construir efeitos especiais incríveis como tambores e percussão. Giovanni Morandi compôs mais de oitocentas peças para órgão. A sua música sacra é quase exclusivamente escrita na linha operística. Publicou também coleções de sonatas, num estilo vivaz e brilhante que recorda Mozart.


Anónimo Annonym
(Ms. A.7b.63, Conservatório «Niccolò Paganini», Génova)

¬ Toccata

¬ Canzona

Joan Ambrosio Dalza (séc. XV-1508)

¬ Pavana alla venetiana

Anónimo
(Ms. ADP 250/B, Arquivo Doria Panphilj)

¬ Tenor di Napoli

Ascanio Mayone (c. 1510-1627)

¬ Ricercar primo
(Primo libro dei diversi capricci, 1603)

Bernardo Pasquini (1637-1710)

¬ Três árias

¬ Variazioni sopra il Paggio Todesco

Pablo Bruna (séc. XVII)

¬ Tiento de falsas de 2° tono

Anónimo Annonym
(Antonio Martín y Coll, Flores de música)

¬ Chacona

¬ Toccata italiana de 1er tono

Domenico Zipoli (1688-1726)

¬ All’Elevazione

João de Sousa Carvalho (1745-1795)

¬ Allegro

Giovanni Morandi (1777-1856)

¬ Benedizione del Venerabile


Participantes


 

Francesco di LerniaFrancesco di Lernia

Francesco di Lernia estudou órgão em Itália (Foggia e Bolonha) e na Alemanha, na academia de música de Lübeck Academy of Music, de 1987 a 1992, com Martin Haselböck. Graduou com o diploma de concerto com distinção. Ativo como concertista, tem tocado nos mais prestigiados festivais e centros de música da Europa, dos EUA e da Ásia, como organista e com conjuntos instrumentais (Wiener Akademie, Wiener Philharmoniker, etc.), gravando para várias redes de televisão e rádio. Di Lernia tem tocado nalguns dos festivais e centros de música mas prestigiados do mundo, como Orgelkunst International Festwochen (Viena), Sala Musashino (Tóquio), Sala Glinka (São Petersburgo), L’Europe & L’Orgue (Maastricht), St Bavokerk (Haarlem), Sala Gallus (Llubljana), Ossiach Charintischer Sommer, Festival de Órgão na Oude Kerk (Amesterdão), Academia Sibelius (Helsínquia), St Jacobi (Hamburgo), Semana Internacional da Arte Organística (Rio de Janeiro), Festival Internacional de Órgão (Treviso), Semana Internacional de Órgão (Granada), Festival Santander, etc. Editou as obras completas para órgão de Johann Kaspar Kerll e Antonio Caldara para Universal Edition em Viena. Reitor e Professor de órgão no Conservatório de Música “U. Giordano” em Foggia, é convidado a dar master classes e conferências pela Europa toda, nos EUA e na Ásia. Tem sido membro de júri para concursos internacionais de órgão. As suas gravações em CD tem recebido prémios internacionais.


Notas ao Órgão


 

D 091Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Machico)

Na documentação histórica anterior ao século XX constam observações que se referem a dois instrumentos: um foi oferecido, segundo a tradição historiográfica, em 1499, à Igreja de Nossa Senhora da Conceição pelo rei D. Manuel, e um outro adquirido em 1746. No que diz respeito ao órgão manuelino podemos deduzir que ele foi colocado no arco que se abre sobre o cadeiral do lado do Evangelho da capela-mor. No século XVIII, o estado de conservação deste órgão terá deixado muito a desejar, verificando-se a aquisição do segundo instrumento em 1746. O órgão chegou à Madeira em 1752, tendo o Conselho da Fazenda contribuído, inicialmente, nas despesas da sua compra e, posteriormente, nos custos da sua instalação.

O recente restauro, da responsabilidade de Dinarte Machado, teve como objectivo principal restituir, na medida do possível, a sua constituição original, seguindo as indicações dadas pelas próprias peças durante a desmontagem. Assim, no decorrer do restauro optou-se por uma filosofia de intervenção que tivesse sempre em conta as particularidades das peças originais, desde à configuração da caixa e policromia, à reposição da registação, tubaria, folaria, e até à colocação do instrumento no seu local original - a capela-mor. Ainda em relação à composição do instrumento, reintroduziu-se o meio-registo da mão direita, de palheta, que o órgão indicava possuir originalmente e que, de certa forma, o caracteriza. O teclado original, encontrado a monte e que se conseguiu recuperar, mantém a extensão da época com Oitava curta. Ficou completada, com grande rigor, a nova tubaria de acordo com as características que os poucos tubos originais conservados evidenciavam, comparada com as próprias indicações e dimensões do someiro, que também foi minuciosamente estudado e documentado.

Não há dúvidas que se trata de um dos mais belos órgãos da Ilha da Madeira, sendo um dos instrumentos que conserva algumas das mais relevantes características da organaria do século XVII em Portugal. É de salientar ainda que o trabalho de restauro desencadeado nesta peça exigiu o estudo de muita documentação, assim como comparações com outros órgãos da época. Uma vez que tais instrumentos não existem em Portugal, teve de se recorrer a dados em outros países.

Manual (C, D, E, F, G, A-c’’’)
Flautado de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Flauta doce
Dozena (2 2/3’)
Voz humana (c#’-c’’’)
Quinzena (2’)
Composta de 19ª e 22ª
Sesquialtera II (c#’-c’’’)
Clarim* (c#’-c’’’)

* palhetas horizontais