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D 03Sábado, 21 de outubro, 21h30 
Sé de Funchal 


La Passion de Jeanne d'Arc´ 
Filme de Carl Dreyer (1928) com improvisação ao orgão 
Karol Mossakowski, órgão 


La Passion de Jeanne d’Arc
Projeção do filme La Passion de Jeanne d’Arc de Carl Dreyer (1928), com banda sonora improvisada ao órgão.

A arte de improvisar sobre um filme exige do organista uma abordagem muito particular. A função da música no contexto de um filme é muito diferente da de um concerto a solo ou de um ofício litúrgico. No caso do «cine-concerto», ela não é autónoma, ela depende do desenvolvimento do filme. Ela deve, antes de mais, acompanhar a imagem, comentar as cenas, criar os ambientes apropriadas a cada momento do filme. Graças aos meios musicais, os efeitos ou os sentimentos criados pelo realizador ganham muito mais força e significado. É por isso que, para um organista que acompanha um filme mudo, é primordial conhecer cada segundo do filme de memória e interpretar corretamente o sentido de cada cena para guiar o ouvinte na compreensão do filme.

Uma outra particularidade da música improvisada para um filme é, no meu entender, a noção da linguagem musical. Neste contexto, não temos o constrangimento da unidade estilística, ou seja, a ligação a um contexto musical particular, como por exemplo ao improvisar uma fuga «no estilo de Bach» ou um prelúdio romântico «no estilo de Brahms», etc. Pelo contrário, todos os meios são válidos para contribuir para reforçar o sentido da imagem, assim como para conduzir a narração musical de modo a não cansar ou aborrecer o ouvinte – o que não é simples de fazer com um filme de uma hora e meia, porque nunca improvisamos tanto tempo sem interrupção num concerto! Considero que La Passion de Jeanne d’Arc se casa perfeitamente com o órgão. A grande variedade de timbres deste instrumento e a sua amplitude sonora, ressoando num local como uma igreja com a sua acústica rica em reverberação, permitem restituir justa e dignamente a temática difícil mas também profunda e rica em emoções daquela obra prima do cinema.


Participantes


 

Karol Mossakowski R. KucavikKarol Mossakowski

Karol Mossakowski é reconhecido tanto pelas suas qualidades de intérprete como de improvisador. Desenvolveu a sua profunda personalidade musical desde os três anos de idade, quando iniciou a aprendizagem do piano e do órgão com o se pai. Após os seus estudos musicais na Polónia, integrou as classes de Órgão, Improvisação e Composição no Conservatoire National Supérieur de Musique et de Danse de Paris, onde teve como professores Olivier Latry, Michel Bouvard, Thierry Escaich, Philippe Lefebvre e László Fassang. Dentre as numerosas distinções que obteve, destaca-se o primeiro prémio do Concurso Internacional da Primavera de Praga em 2013, assim como o Grande Prémio de Chartres em 2016, um dos mais prestigiados concursos internacionais. No ano letivo de 2014/2015, foi, durante seis meses «Young Artist in Residence» na Catedral de Saint Louis de New Orleans (EUA), onde deu numerosos recitais e cursos de intertpretação e improvisação. Karol Mossakowski tem a vontade de fazer viver a música através da improvisação, à qual dá um papel preponderante nos seus recitais e tem desenvolvido através do acompanhamento de filmes mudos. Assim, procurado pelo seu talento inato de improvisador, tem dado recentemente concertos no Festival Internacional do Filme de la Rochelle, ou no Festival Lumière em Lyon, onde o público o pôde escutar no acompanhamento do filme La Passion Jeanne de Arc de Carl Dreyer, versão que será editada proximamente sob a etiqueta Gaumont Pathé.


Notas ao Órgão


 

novo orgao seSé do Funchal (Choir organ)
Dinarte Machado, 2017

O novo órgão de coro da Sé do Funchal resultou de uma iniciativa Cabido da Sé, no sentido de dotar a Catedral de um instrumento fundamentalmente virado para as necessidades atuais do serviço litúrgico, mas simultaneamente apto para recitais e outros eventos de natureza não especificamente litúrgica. O órgão foi instalado no transepto sul, junto do altar e do coro (enfatizando a sua eminente vocação litúrgica), mas pode rodar sobre um eixo e ficar virado para nave central.

O desenho da caixa, da autoria do organeiro Dinarte Machado, resulta de uma interpretação livre dos arcos ogivais da Sé e a maioria dos elementos decorativos faz referência a aspectos religiosos (nomes de santos) ou tradicionais (cestos de vime).

O órgão, cuja versão final resultou do diálogo entre o organeiro e o Mestre de Capela da Sé, Pe. Ignácio Rodrigues, possui dezasseis registos, distribuídos por dois teclados e pedaleira. A harmonização de todos aqueles registos teve em conta não só as múltiplas funções do instrumento, mas sobretudo a adaptação à acústica do templo.

A conceção fónica é profundamente original, não sendo feito à imagem de outro congénere, nem identificado com uma época ou estilo. Pretendeu-se que, usando da sua diversidade tímbrica e explorando as suas capacidades, os organistas pudessem fazer ouvir este instrumento em repertório de várias épocas e compositores, assim como incentivar os compositores atuais para usarem da sua criatividade e novas obras. Esta foi a visão do seu construtor, Dinarte Machado, que considera que o órgão «oferece toda a liberdade a um organista, enquanto improvisador».

I Manual – Órgão principal (C – g’’’)
Flautado 12 aberto [8’]
Flauta em 12 [8’]
Oitava real [4’]
Quizena [2’]
Mistura III vozes

II Manual – Órgão expressivo (C – g’’’)
Flautado 12 tapado [8’]
Viola da gamba [8’]
Flauta de chaminé [4’]
Dozena [2 2/3’]
Quinzena nazarda [2’]
Dezassetena [1 3/5’]
Dezanovena [1 1/3’]
Clarinete [8’]

Pedal (C – f’)
Flautado de 24 tapado [16’]
Flauta [8’]
Baixão [16’]

Acoplamentos
I - P
II - P
II - I