Sexta-feira, 20 de outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista
Um órgão, dois organistas
João Vaz, órgão
Filipe Veríssimo, órgão
Um órgão, dois organistas
Por motivos de saúde, o organista convidado para o Concerto Inaugural do VIII Festival de Órgão da Madeira teve de cancelar a sua viagem.
O novo programa do concerto que terá lugar sexta-feira, dia 20 de outubro, pelas 21.30 horas, na Igreja do Colégio, encontra-se abaixo.
O novo órgão da Igreja do Colégio, construído por Dinarte Machado em 2008, foi concebido com o propósito de dotar esta igreja – e toda a Região Autónoma da Madeira – de um instrumento adequado à execução de uma vasta faixa de repertório. Este instrumento tornou-se no epicentro do Festival de Órgão da Madeira, desde a sua primeira edição. Ao longo dos últimos anos, organistas de todo o mundo tocaram aqui obras de Cabezón, Coelho, Couperin, Bach, Mendelssohn, Ligeti e muitos outros compositores do século XVI à atualidade.
Apesar da sua ampla versatilidade, o órgão foi desenhado e harmonizado basicamente com dois diferentes ideais estéticos em mente: a tradição ibérica (e portuguesa) e a escola norte-alemã. As impressionantes trombetas horizontais e as tipicamente portuguesas palhetas de ressoador curto soam lado a lado com as brilhantes misturas germânicas e as potentes palhetas da pedaleira. O objetivo desta conceção híbrida foi criar um instrumento onde tanto o repertório central europeu, como as obras dos mestres ibéricos soassem de forma convincente.
O programa desta noite explora esta dupla personalidade. Música de Portugal e Espanha, abrangendo desde o final de quinhentos ao início de oitocentos, fará uso da larga paleta tímbrica do órgão, desde o delicado flautado tapado de 6 palmos, à potência máxima da palhetaria horizontal. A parte central do programa é dedicada a duas figuras-chave da história do órgão: Dieterich Buxtehude e Johann Sebastian Bach. O concerto termina com uma sonata do compositor aragonês Ramón Ferreñac, escrita para dois organistas num órgão – uma situação relativamente pouco comum, que permite aos executantes uma liberdade extraordinária e aumenta dramaticamente o impacto do instrumento.
Anónimo Annonym (Espanha, séc. XVII)
¬ Cuatro piezas de clarines *
António Carreira (c.1530-c.1594)
¬ Canção *
Diogo da Conceição (séc. XVII)
¬ Meio registo de 2º tom *
Dietrich Buxtehude (1637-1707)
¬ Prelúdio de coral «Vater unser im Himmelreich», BuxWV 219 *
¬ Chaconne em mi menor, BuxWV 160 *
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
¬ Prelúdio e fuga em sol menor, BWV 535**
¬ Prelúdio de coral «Wachet auf, ruft uns die Stimme», BWV 645 **
Marcos Portugal (Portugal, 1762-1830)
¬ Sonata para órgão **
Ramón Ferreñac (Portugal, 1762-1830)
¬ Sonata de clarines en Sol mayor para órgano a cuatro manos
* João Vaz, órgão
** Filipe Veríssimo, órgão
Participantes
João Vaz Natural de Lisboa, João Vaz é diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatório Superior de Música de Aragão, em Saragoça, onde estudou com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É também doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido, sob a orientação de Rui Vieira Nery, uma tese sobre a música portuguesa para órgão no final do Antigo Regime. Tem mantido uma intensa atividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente em cursos de aperfeiçoamento organístico, ou membro de júri de concursos de interpretação, e efetuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo. A atenção que, enquanto executante e musicólogo, tem dado à música sacra portuguesa, manifesta-se nos seus artigos, edições musicais e na criação, em 2006, do grupo Capella Patriarchal, que dirige. Leciona atualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa e é director artístico do Festival de Órgão da Madeira e das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997). |
Filipe Veríssimo Filipe Veríssimo (Porto, 1975) é licenciado em Música Sacra pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa onde estudou órgão e improvisação com M. Bernreuther, J. Blasby e F. Lehrndorfer, direção de coro com Eugénio Amorim, Jorge Matta e Jorg Straube e direção de orquestra com Cesário Costa. Frequentou diversos cursos de aperfeiçoamento e masterclasses de órgão com L. Antoniotti, O. Latry, E. Lebrun, P. Planiavsky, D. Roth e F. Stoiber, e de direção coral com H. Velten. Em 2002, foi nomeado Organista Titular e Mestre Capela da Igreja da Lapa (Porto). Desde então tem desenvolvido, em estreita colaboração com o Cónego Dr. Ferreira dos Santos, um intenso trabalho como diretor de coro e orquestra, tendo preparado e dirigido algumas das mais importantes obras do repertório coral sinfónico. Como organista, tem realizado várias tournées de concertos, a maior parte das vezes integrados em Festivais nacionais e internacionais de órgão, em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Bélgica e Polónia. Integra uma equipa internacional de organistas que está a realizar, desde 2009, uma tournée europeia de concertos com a obra La Révolte des Orgues para Grande Órgão, oito órgãos positivos, percussão e maestro, do célebre organista e compositor francês, Jean Guillou. É detentor do 1º prémio do 1º Concurso Nacional de Órgão. Tem-se dedicado à apresentação, em primeira audição, de algumas obras do P. Ferreira dos Santos. |
Notas ao Órgão
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.
I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)
II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)
Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)
Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais