Terça-feira, 23 outubro, 21H30
Igreja de São Pedro
O Romantismo em Inglaterra
Cecília Rodrigues, soprano
Sérgio Silva, órgão
Em Inglaterra, os órgãos no início do século XIX, de estética clássica, eram instrumentos simples, a maior parte deles com um só manual, sem pedaleira, com uma paleta de recursos sonoros algo limitada. Era este o tipo de instrumento à disposição de Samuel Wesley, compositor prolífico para órgão e para música sacra no culminar da era clássica inglesa, do qual serão interpretadas obras representativas de duas das mais importantes coleções de obras do compositor – Twelve Voluntaries e Twelve Short Pieces for Organ.
Com o advento do Romantismo, é incontornável não mencionar a presença muito apreciada de Mendelssohn em Inglaterra, não obstante o facto de ser um compositor alemão com origens judaicas. Das suas principais obras sacras, Paulus foi estreada em Inglaterra em 1836 em Liverpool, Lauda Sion em 1848 e Elias teria a sua estreia absoluta em Birmingham em 1846.
Filho de Samuel Wesley, Samuel Sebastian Wesley (Sebastian em homenagem ao grande Bach) foi um organista de grande reputação em Inglaterra, tendo tido posto em diversas catedrais inglesas. A sua obra para órgão é essencialmente formada pelos dois conjuntos de Three Pieces for a Chamber Organ, de onde provém Choral Song and Fugue. O primeiro andamento, executado no presente programa, constitui um género de prelúdio de coral, com uma escrita bastante homofônica, com acordes densos e melodias em oitava. Apesar de a organaria em Inglaterra já apresentar então um claro desenvolvimento face aos órgãos clássicos, Choral Song é inteiramente dedicada a um órgão de um só manual, cuja extensão vai até ao Sol subgrave, característica presente em alguns órgãos da ilha da Madeira.
Outro compositor representativo do romantismo inglês é Arthur Sullivan, principalmente conhecido no domínio da ópera, mas com um raio de acção alargado à música coral, orquestral e religiosa. Agraciado com a bolsa de estudos Mendelssohn na Royal Academy of Music, é autor de Festival Te Deum, obra encomendada para celebrar a recuperação de febre tifóide de Albert Edward, príncipe de Gales (mais tarde Edward VII, Rei do Reino Unido), da qual se subtrai When Thou tookest upon Thee, momento exclusivamente protagonizado pela soprano.
Edward Elgar, talvez o mais notável compositor do romantismo inglês, mundialmente famoso pela sua Pomp and Circumstance Military March nº 1, é autor de uma vasta produção musical com incidência na música coral e na música para órgão. A sua colecção Three Motets, escrita em 1887 para coro e órgão, pertence ao repertório corrente do universo coral, sendo hoje apresentada numa versão para soprano e órgão. Apesar de o órgão não ter sido o seu instrumento de eleição, Elgar terá tido uma relação directa com o mesmo, após ter substituído o seu pai em 1885 no cargo de organista da Igreja Católica de Worcester. Do seu contacto com o órgão, resultam duas obras de grande relevo organístico: a Sonata em Sol maior, Op. 28, escrita entre 1895 e 1896, e Vesper Voluntaries, Op. 14, publicado em 1890, cujo título pretende manter a tradição organística inglesa. The Light of Life, originalmente Lux Christi, é a primeira oratória de Elgar, que relata o episódio do mendigo cego e de como Cristo restaurou a sua visão, com base no Evangelho de São João.
Sérgio Silva
Samuel Wesley (1766-1837)
¬ Voluntary I, Op. 6 (1812) *
Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847)
¬ Jerusalem, thou that killest the Prophets
(Paulus, Op. 36, 1836)
Samuel Wesley
¬ Air and Gavotte *
(Twelve Short Pieces for Organ or Harpsichord, 1817)
Felix Mendelssohn-Bartholdy
¬ Hear ye, Israel
(Elias, Op. 70. 1846)
Samuel Sebastian Wesley
(1810-1876)
¬ Adagio *
Felix Mendelssohn-Bartholdy
¬ Caro cibus
(Lauda Sion, Op. 73, 1846)
Samuel Sebastian Wesley
¬ Choral Song *
(Three Pieces for a Chamber Organ I, 1842)
Arthur Sullivan (1842-1900)
¬ When Thou tookest upon Thee
(Festival Te Deum, 1872)
Edward Elgar (1857-1934)
¬ Introduction and Andante *
(Vesper Voluntaries, Op. 14, 1890)
¬ Ave verum corpus
(3 Motets, Op. 2, 1887)
¬ Allegro *
(Vesper Voluntaries, Op. 14)
¬ Ave Maria
(3 Motets, Op. 2)
¬ Allegretto pensoso *
(Vesper Voluntaries, Op. 14)
¬ Ave maris stella
(3 Motets, Op. 2)
¬ Poco allegro *
(Vesper Voluntaries, Op. 14)
¬ Be not extreme, o Lord
(The Light of Life, Op. 29, 1896)
* órgão solo
Participantes
Cecília Rodrigues Cecília Rodrigues iniciou o estudo de Piano no IGL e mais tarde de Técnica Vocal, com Elsa Cortez, na mesma escola. Aos 18 anos ingressou na EMCN, onde concluiu o curso de Canto com Manuela de Sá. Prosseguiu os seus estudos na ESMAE, Porto, na classe do professor Rui Taveira, concluindo a licenciatura na ESML, Lisboa, onde frequenta atualmente o Mestrado em Ensino da Música, com o professor Luís Madureira. Trabalhou com Lucia Mazzaria, Milagros Poblador, João Paulo Santos, David Santos, e trabalha regularmente com o barítono Luís Rodrigues. Obteve os seguintes prémios: 2013, Prémio de Interpretação de Música Portuguesa no Concurso Internacional Cidade do Fundão; 2015, 1º Prémio e Prémio de Interpretação de Música Portuguesa no Concurso Internacional Cidade de Almada; 2017, 1o Prémio de Canto no Prémio Jovens Músicos Antena 2 - RTP. Apresentou-se como solista no festival “Sons da Água”, nas edições de 2016 e 2017, sob direção de António Costa. Colaborou com os Olisipo num concerto dedicado a Monteverdi no CCB. Realizou um recital com João Paulo Santos no festival Serões Musicais no Palácio da Pena, Sintra, posteriormente gravado para a Antena 2. Interpretou Bess, da Ópera Porgy and Bess de Gershwin, no Festival Música no Colégio 2018, com o Coral São José, Ponta Delgada. Integrou o Coro da Casa da Música e pertence ao Coro Gulbenkian, com o qual se apresentou como solista num concerto dedicado a Gershwin e na Paixão Segundo S. Mateus de J. S. Bach. |
Sérgio Silva Mestre em Música pela Universidade de Évora, Sérgio Silva começou por estudar órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa sob a orientação de João Vaz na disciplina de órgão e de António Esteireiro em acompanhamento e improvisação. Para além dos seus estudos regulares, teve oportunidade de contactar com diversos organistas de renome internacional, tais como, José Luis González Uriol, Luigi Ferdinando Tagliavini, Jan Willem Jansen, Michel Bouvard, Kristian Olesen e Hans-Ola Ericsson. Como concertista, apresenta-se regularmente, tanto a solo como integrado em diversos agrupamentos nacionais de prestígio, tendo actuado em Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, França, Alemanha e Macau. Enquanto investigador, tem realizado várias transcrições modernas de música antiga portuguesa. Actualmente, desempenha as funções de docência de órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola de Música Sacra de Lisboa, e é organista titular da Basílica da Estrela e da Igreja de São Nicolau (Lisboa). |
Notas ao Órgão
Igreja de São Pedro, Funchal
O órgão da Igreja de São Pedro foi adquirido em Inglaterra à firma Flight & Robson, no século XIX. Não possuímos documentação relativa ao ano da sua construção mas podemos situá-la antes de 1878, altura em que a mencionada firma foi comprada por Gray & Davison. Tão-pouco sabemos a data exacta da instalação do instrumento na Igreja de São Pedro, mas em dois inventários (1838 e 1841) menciona-se um órgão “em muito bom uso” colocado no coro, facto que permite apontar para o actual instrumento (AHDF Inventário: 3). No decorrer do século XX, o órgão sofreu várias intervenções das quais resultaram, entre outros, a modificação do diapasão e da afinação, sem que tivessem acarretado, no entanto, danos significativos na originalidade do instrumento.
Em Agosto de 1904, no decurso de uma campanha de beneficiação do coro alto da igreja, a Fábrica aproveitou também a ocasião para mandar reparar o órgão, tendo sido responsável pelo restauro Alfredo Saturnino Lino. Sabe-se que o conserto do órgão, como do restante conjunto, foi breve, pois em ofício assinado a 6 de Agosto de 1904, o mestre declara que os trabalhos “deveriam ficar promptos até meados do corrente mez” (AHDF Documentos). As obras terminaram de facto a 25 de Agosto; os trabalhos do coro e do órgão custaram 150.000 réis, tendo a Junta Geral do Distrito comparticipado com a importância de 50.000 réis, montante que se destinava exclusivamente ao conserto do órgão. Pelos vistos, esta intervenção deve ter sido pontual, pois passados dois anos, o periódico Heraldo da Madeira noticiava, no dia 15 de Novembro de 1906, que o órgão da Igreja de São Pedro estava a ser sujeito a uma nova reparação.
Em 2006, este instrumento foi restaurado por Dinarte Machado.
Manual (GG, AA, C, D-f’’’)
Diapason 8’
Principal 8’ (c-f’’’)
Principal 4’
Flauta 4’
Piphar 2’
Cornet