Domingo, 18 de outubro, 18h00
Igreja e Convento de Santa Clara
Lorenzo Ghielmi (órgão e cravo) e Vittorio Ghielmi (viola da gamba)
Domenico Zipoli (1688-1726)
Sonata in ré minor (com material composto originariamente por Arcangelo Corelli)
Preludio
Allegro
Adagio
Allegro
Bernardo Pasquini (1637-1710)
Variazioni per il paggio tedesco
Toccata con lo scherzo del cucco
Passacagli per lo scozzese
Domenico Scarlatti (1685-1757)
Sonata em ré menor K 92
Lorenzo Ghielmi, órgão
Karl Friedrich Abel (1723-1787)
Duas peças do caderno de improvisações (Drexel Collection, Nova Iorque/New York)
Allegro moderato
Allegro
Sonata em mi menor para viola da gamba e baixo contínuo
Siciliano
Allegro
Presto
Marin Marais (1656-1728)
Prélude
Rondeau le bijou
Antoine Forqueray (1671-1745)
Le Carillon de Passy
La Leclair
Chaconne, la Buisson
Em Itália, a música instrumental conhece no período barroco um enorme esplendor. Muitos virtuosos foram chamados às mais importantes cortes europeias e, de todos os países, jovens músicos desejosos de se aperfeiçoarem acorriam a Veneza, Nápoles e Roma. Bernardo Pasquini, nascido na Toscânia, passou a sua vida em Roma, onde atraiu numerosos alunos, entre os quais Georg Muffat e Francesco Gasparini. A sua música é largamente influenciada por Arcangelo Corelli, de quem se torna acompanhador ao cravo. Numa viagem a Paris teve ocasião de tocar perante o Rei Sol na corte de Versalhes e, como a maior parte dos compositores italianos, escreveu muitas obras para o teatro. Hoje a sua fama deriva das suas composições para cravo e órgão, as quais chegaram a nós graças a duas preciosas coleções autógrafas. Também Domenico Zipoli, toscano de origem, terminou a sua formação musical em Roma. Partindo para a América do Sul no seguimento da Companhia de Jesus, utilizou a música nas missões jesuítas para a evangelização das populações locais. O método de órgão, que lhe é atribuído, foi encontrado num arquivo da Bolívia e contém numerosas adaptações ao órgão de sonatas para violino de Corelli. Domenico Scarlatti, o maior cravista da escola napolitana, fixou-se na Península Ibérica. As suas sonatas foram compostas na corte de Madrid. Muitas destas sonatas, quase sempre destinadas ao cravo, revelam-se de grande eficácia mesmo se executadas ao órgão. Sabe-se que na corte madrilena, para além de um cravo com três teclados, existiam alguns fortepianos e um órgão de câmara.
A viola da gamba, instrumento entre os mais difundidos do Renascimento, conheceu o seu apogeu no Barroco francês. Na corte de Versalhes a viola da gamba era o instrumento predileto e uma série de virtuosos publicaram em Paris diversas colectâneas de composições expressamente derivadas à viola. De entre estes músicos sobressaem os nomes de Marin Marais e Antoine Forqueray, cognominados pelos seus contemporâneos de "o anjo e o diabo". Os seus caracteres opostos - um gentil e refinado, outro irascível e impetuoso - refletem-se bem na sua música. Nas suas composições, a viola da gamba atinge o ápice das suas possibilidades técnicas e expressivas. Karl Friederich Abel é considerado o último músico que compõe para a viola da gamba, instrumento que no período romântico foi suplantada pelo mais simples e popular violoncelo. O estilo de Abel, nascido à sombra de Johann Sebastian Bach, foi muito influenciado pela escola berlinense: entre os músicos que dominavam a cena musical destacam-se os irmãos Graun e Carl Philipp Emanuel Bach. Abel estabelece amizade com Johann Christian Bach, o filho mais jovem do Cantor de Leipzig, com o qual se fixa em Inglaterra e com quem deu muitos concertos. A música de Abel deixa transparecer os alvores da escola clássica: na sua longa vida pode escutar a música de Mozart e do jovem Haydn e nas suas peças para viola solo, espécie de improvisações escritas, misturam-se com grande liberdade os idiomas barroco, galante e clássico.
Lorenzo Ghielmi
Participantes
Lorenzo Ghielmi Lorenzo Ghielmi dedicou muitos anos da sua carreira ao estudo e à execução da música renascentista e barroca. Dá concertos por toda a Europa, Japão e os Estados Unidos, e muitos são objecto de gravações para a rádio. As suas gravações de Bruhns, Bach, e os concertos de Haendel e de Haydn para órgão e orquestra foram agraciados com o "Diapason d'or". Publicou um livro sobre Nicolaus Bruhns e estudos sobre órgãos e interpretação das obras de Bach. Ensina órgão, cravo e música de câmara na Escola Municipal de Música de Milão. Desde 2006, foi-lhe confiada a cadeira de órgão na Schola Cantorum Basiliensis, em Basileia. É organista do órgão Ahrend da Basílica de San Simpliciano em Milão. Em 2005 fundou o conjunto instrumental La Divina Armonia, com o qual realizou diversas gravações. Faz parte do júri de vários concursos de órgãos internacionais, como Toulouse, Chartres, Tóquio, Brugges, Freiberg, Maastricht, Lausanne, Nuremberg, Graz e St. Albans. |
Vittorio Ghielmi Músico italiano (viola da gamba), maestro e compositor, comparado por críticos a Jascha Heifetz (Diapason) pelo virtuosismo e chamado de "alquimista del sonido" (Diário de Sevilla) pela intensidade de sua interpretação musical. Nascido em Milão , estudou com R. Gini, W. Kuijken (Bruxelas), C. Coin (Paris). Ele recebeu em 1997 o Erwin Bodky Award (Cambridge, EUA). Em 1995, ganhou o Concurso Internacional R. Romanini (Brescia). Como solista ou maestro apresenta-se na maioria das salas de concerto mais prestigiadas do mundo, acompanhado por grandes orquestras (Orquestra Filarmónica de Los Angeles no Hollywood Bowl Hall, London Philharmonia, Il Giardino Armonico, Orquestra Barroca de Freiburg, etc.) ou em recitais a solo. Fez estreias absolutas de novas composições (incluindo o Concero para viola e orquestra de Uri Caine, Concertgebouw Amsterdam e Bruxelas Bozar, 2008). De 2007 a 2010 ele participou de Riccardo Muti no Festival de Salzburgo. Em 2007, Vittorio Ghielmi concebe e dirige um espetáculo em torno do ciclo Membra Jesu nostri de Buxtehude, com o diretor de vídeo e cineasta Marc Reshovsky (Hollywood) e o coro Rilke Ensemble (G.Eriksson, Suécia). Em 2010 foi artista em residência no Musikfest Stuttgart, em 2011 no festival de Bruxelas Bozar e no festival de Segovia. É professor de viola da gamba no Mozarteum de Salzburg. O conjunto que criou, O Il Suonar Parlante, colaborou e criou projetos com artistas de jazz como K. Wheeler, Uri Caine, M. Stockhausen, Ernst Rejiseger, a estrela de flamenco Carmen Linares, músicos tradicionais de fora da Europa (Ensemble Kaboul). A sua colaboração com vários músicos tradicionais está registada no documentário "The Heart of Sound" de BFMI (Salzburg- Hollywood). |
Notas ao Órgão
Igreja e Convento de Santa Clara, Funchal
A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte.
Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado.
Manual (C, D, E, F, G, A, Bb-c’’’)
Principale (c#’-c’’’)
Ottava (4’)
Quintadecima (2´)
Decimanona (1 1/3´)
Vigesimaseconda e Trigesimasesta
Flauto 8’
Flauto 4’
Cornetto (c#’-c’’’)