Quinta-feira, 15 de outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista (Colégio)
Sérgio Silva (órgão de coro)
Élio Carneiro (grande órgão)
No ano em que se comemoram os trezentos e trinta anos do nascimento de Johann Sebastian Bach (1685), o presente programa é inteiramente baseado na sua produção. Excluindo a última peça, o programa consiste na apresentação de obras selecionadas de uma das coleções mais importantes e extensas para órgão do compositor - a terceira parte dos Clavierübung - publicada em 1739. Esta coleção apresenta-se sob a forma de uma missa: entre os andamentos inicial e conclusivo do Prelúdio e Fuga em Mi bemol maior, BWV 552, estão vinte e um corais da missa e do catecismo luterano (dez corais com duas versões cada, excepto o Allein Gott que apresenta uma terceira versão; BWV 669-689). A coleção apresenta ainda quatro duetos (BWV 802-805) fora da estrutura da missa. A investigação tende a associar simbolicamente a coleção dos corais ao grande e pequeno catecismo de Martinho de Lutero, uma que vez que o compositor destinou parte dos corais ao grande órgão, com uma escrita e tratamento polifónico complexo e variado, e a restante para um órgão pequeno, sem recurso à pedaleira ou a mais de um teclado, e, consequentemente, menos elaborados e diversificados estilisticamente. Na coleção dos corais, o estilo de escrita de Bach varia entre a adopção de formas modais, cânones e motetes, reminiscências do stile antico, caso de Aus tiefer Not schrei ich zu dir, BWV 686, e as formas musicais modernas do Barroco, como o coral no estilo francês em Wir gläuben all' an einen Gott, BWV 681. A cantata Wir danken dir, Gott, BWV 29 foi composta e estreada no ano de 1731 na Igreja de São Nicolau em Leipzig, por ocasião de Ratswechsel, a inauguração de um novo conselho municipal, normalmente celebrada anualmente com um serviço litúrgico particular. Processo recorrente enquanto compositor, no primeiro andamento da cantata - Sinfonia - Bach baseou o material musical numa obra sua pré-existente - Partita Nº 3 para violino solo em Mi maior, BWV 1006 - confiando a parte virtuosa e solista ao órgão, originalmente destinada ao violino, sustentada pelo acompanhamento da orquestra. Não deixa de ser curioso o facto de que, tendo Bach uma relação muito íntima com o órgão, a orquestração patente na Sinfonia, em que este instrumento é solista e não acompanhador, é muito rara na sua produção, senão mesmo caso único. O arranjo para dois órgãos do primeiro andamento da cantata, da minha autoria, consiste na atribuição do papel de solista ao órgão pequeno (Machado e Cerveira) e a orquestra ao órgão grande (Dinarte Machado), devido sobretudo à exploração da paleta de recursos de cada instrumento.
Sérgio Silva
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Prelúdio de coral Aus tiefer Not schrei ich zu dir BWV 686*
Prelúdio de coral Aus tiefer Not schrei ich zu dir BWV 687**
Prelúdio de coral Allein Gott in der Höh sei Ehr BWV 676*
Fughetta Allein Gott in der Höh sei Ehr BWV 677**
Prelúdio de coral Wir gläuben all an einen Gott BWV 680*
Fughetta Wir gläuben all an einen Gott BWV 681**
Prelúdio de coral Christ, unser Herr, zum Jordan kam BWV 684*
Prelúdio de coral Christ, unser Herr, zum Jordan kam BWV 685**
Prelúdio de coral Vater unser im Himmelreich BWV 682*
Prelúdio de coral Vater unser im Himmelreich BWV 683**
Prelúdio de coral Jesus Christ, unser Heiland BWV 688*
Fuga sobre Jesus Christ, unser Heiland BWV 689**
Sinfonia da Cantata Wir danken dir, Gott BWV 29 (arranjo para 2 órgãos de Sérgio Silva)
Participantes
Sérgio Silva Natural de Lisboa, Sérgio Silva começou por estudar Órgão com João Vaz e António Esteireiro no Instituto Gregoriano de Lisboa, tendo prosseguido na Universidade de Évora, onde obteve os diplomas de Licenciatura e de Mestrado em Música, ramo de interpretação (Órgão), sob a orientação dos Professores João Vaz e João Pedro d’Alvarenga. Para além dos seus estudos regulares, teve oportunidade de contactar com várias personalidades de renome internacional, tais como José Luis Gonzalez Uriol, Luigi Ferdinando Tagliavini, Jan Wilhelm Jansen, Hans-Ola Ericsson e Kristian Olesen. Apresenta-se regularmente a solo e integrado em prestigiados agrupamentos nacionais, em vários pontos do país e em França, Itália, Inglaterra e Espanha. Presentemente, é professor de Órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Diocesana de Música Sacra do Patriarcado de Lisboa e é organista titular da Basílica da Estrela e da Igreja de São Nicolau (Lisboa). |
Élio Carneiro Élio Carneiro terminou o curso geral da Escola Diocesana de Música Sacra de Coimbra, tendo prosseguido os seus estudos no Conservatório de Música da mesma cidade na classe do Prof. José Carlos Oliveira, e no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian onde concluiu o curso complementar com o Prof. António Mário Costa (Órgão e Baixo Contínuo). Frequentou diversas masterclasses, nomeadamente com os professores Luca Antoniotti, Hans-Ola Ericsson, José Luis González Uriol, Javier Artigas, Olivier Latry, Peter van Dijk e Frank van Wijk, tendo ainda frequentado o III e o IV Curso Nacional de Música Litúrgica, nas variantes de Órgão e Direção Coral, respectivamente, organizado pelo Santuário de Fátima e pelo Secretariado Nacional de Liturgia. Licenciado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, concluiu posteriormente na mesma instituição o Mestrado na variante de performance sob orientação dos professores António Esteireiro e João Vaz. Prossegue os seus estudos desde Outubro de 2012 na Escola Superior de Música Sacra e Pedagogia de Regensburg (Alemanha) na classe do Prof. Stefan Baier. |
Notas ao Órgão
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal Grande órgão Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados. I Manual - Órgão Principal (C-g’’’) II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’) Pedal (C-f’) Acoplamentos * palhetas horizontais |
Órgão de coro
Trata-se de um órgão de armário, de tamanho médio, construído pelo organeiro português, António Xavier Machado e Cerveira, no último quartel do século XVIII. Foi mandado construir para a Sé do Funchal, e ali colocado numa tribuna do lado do Evangelho, debaixo do segundo arco lateral. Mais tarde foi submetido a uma intervenção, no sentido de o adaptar ao gosto da época. Embora a análise da documentação existente seja inconclusiva, parece ter sido feita durante a última metade do século XIX. Essa intervenção teve em conta, acima de tudo, a ampliação do instrumento (incluindo a caixa), assim como a sua colocação numa tribuna também do lado esquerdo, mas junto ao coro alto. Como o instrumento era pouco visível, foi construída uma caixa que ostentava duas fachadas: a do lado do teclado e uma do lado esquerdo de forma que pudesse proporcionar uma vista lateral ampliada, que nada tinha a ver com a configuração original.
Foi este instrumento, assim alterado, que foi vendido para a Igreja do Colégio. Ali permaneceu, no lado esquerdo do no coro-alto, com a fachada lateral virada para o corpo principal da Igreja e a do lado do teclado para o centro do coro. Em 1993, o organeiro Dinarte Machado analisou em pormenor o instrumento, verificando que o mesmo envolvia um outro, mais pequeno, mas que conservava grande parte das sua características originais. Por análise comparativa, concluiu tratar-se de um órgão da escola portuguesa de organaria do último quartel do século XVIII, construído por António Xavier Machado e Cerveira.
Desde logo foram informadas as entidades competentes da importância deste instrumento. Por se tratar de um órgão mais pequeno, pretendeu-se restaurá-lo, tornando-o no órgão de coro da Igreja do Colégio, com vista ao seu uso na liturgia, alternando com o grande órgão do coro alto. O trabalho de restauro, assente numa profunda investigação de todas as peças existentes, permitiu a eliminação de todas as adições espúrias reaproximando o instrumento da sua forma original. Da caixa do órgão original, só subsistia parte da estrutura e a fachada (que se conservou desde o início), tendo sido tudo o mais reconstruído com base nos órgãos da mesma época de Machado e Cerveira.
Mão esquerda / Bass (C - c´)
Mão direita / Treble (c#' - d´´´)
Flautado de 12 tapado (8´)
Flautado de 12 aberto (8´)
Flautado de 6 aberto (4´)
Flauta travessa (8´)
Flautado de 6 tapado (4´)
Flautim (4´)
Quinzena (2´)
Composta de 15ª, 19ª e 22ª III
Dezanovena (1 1/3´)
Cheio IV
Compostas de 19ª e 22ª III
Corneta
Cheio V
Voz humana
Fagote (8´)
Clarim (8´)