Domingo, 11 de outubro, 18h00
Igreja da Nossa Senhora da Luz (Ponta do Sol)
Segunda-feira, 12 de outubro, 21h30
Recolhimento do Bom Jesus
Ludovice Ensemble:
Lilia Slavny (violino barroco), Diana Vinagre (violoncelo barroco), Fernando Miguel Jalôto (órgão e direção artística)
Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra conserva-se um notável conjunto de códices musicais manuscritos e impressos setecentistas, outrora pertencentes ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, importante instituição religiosa com reconhecido papel na História da Música Portuguesa nos séculos XVI e XVII. O século XVIII assume também especial notoriedade devido à existência de importantes fontes para as obras de Carlos de Seixas (1704-1742) - o maior compositor de música instrumental do barroco português - e do grande Alessandro Scarlatti (1660-1725), famoso sobretudo pelas suas óperas e oratórias; de ambos se conservam várias obras originais sem qualquer correspondência entre outras fontes conhecidas. Nesta coleção conserva-se ainda a única fonte de música de tecla germânica barroca em Portugal. Reunida pelo organista do Mosteiro D. Jerónimo da Encarnação (ca.1705-1780) a coleção contém sobretudo um extraordinário espólio de obras instrumentais de câmara - na sua maioria para violino e baixo contínuo - datadas da 1ª metade do século XVIII. As fontes mais relevantes são os manuscritos que preservam sonatas de Arcangelo Corelli (1653-1713) - o mais famoso e influente violinista da sua época, ativo sobretudo em Roma, mas professor de uma "legião" de discípulos distintos e geniais; Michelle Mascitti (1664-1760) - aluno de Corelli, e ativo sobretudo em Paris, onde "introduziu" o estilo italiano; Tommaso Albinoni (1671-1750) - ativo em Veneza mas reconhecido por toda a Europa, de Viena a Amesterdão, passando por Munique e Londres, e grandemente apreciado por J. S. Bach; Carl'Ambrogio Lonati (1745-ca.1710) - ativo em várias cortes do Norte de Itália como cantor, violinista e empresário, mas também em Roma e em Viena; e Pietro Paolo Capellini (2ª metade do século XVII) - com atividade conhecida apenas em Roma. A coleção abarca ainda edições impressas originais de obras de dois outros famosos alunos de Corelli: Francesco Saverio Geminiani (1687-1762) - ativo sobretudo em Londres; e Giuseppe Valentini (1681-1753) - compositor, poeta e pintor ativo em Roma; e, finalmente, composições de Francesco Maria Veracini (1690-1768) - um grande virtuoso nascido em Florença, ativo em Veneza, Londres e Dresden. Esta coleção, única em Portugal, atesta a importante renovação do repertório de música de câmara conhecido e praticado no nosso país na 1ª metade do século XVIII e o consequente desenvolvimento da prática instrumental. Comprova ainda a integração de Portugal na complexa e extensa rede europeia de circulação do repertório que permitiu a rápida difusão de modelos estéticos inovadores, bem como as complexas relações musicais de Portugal com os principais centros musicais europeus como Roma, Nápoles, Londres, Amesterdão, Paris e mesmo Viena e Dresden. Os monges crúzios estavam de facto a par do que de melhor se compunha na Europa para o violino, revelando um ambiente cultural e estético cosmopolita e atualizado. Este programa proporciona assim não só uma visão precisa e cuidadosa sobre a prática musical quotidiana do Mosteiro de Coimbra, mas ao mesmo tempo convida o público a uma viagem pela Europa setecentista seguindo os passos de músicos virtuosos e talentosos, da sua maioria originários de Itália, mas que encontraram trabalho nas mais diversas cortes da Europa, inebriando os mais altos potentados civis e eclesiásticos com o cantabile das suas melodias, a inventividade da sua ornamentação, o arrojo apaixonado das suas harmonias e as acrobacias das suas proezas técnicas. Hoje, passados mais de 300 anos é o Ludovice Ensemble que tem o prazer e o orgulho de trazer ao público madeirense estas obras-primas do passado, mas que permanecem atuais e vivas pelos sentimentos e afectos que continuam a suscitar.
Fernando Miguel Jalôto
Pietro Paolo Capellini (séc. XVII)
Sonata a violino e basso (P-Cug MM 63)
Adagio
Allegro
Adagio
Allegro
Tomaso Albinoni (1671-1751)
Sonata Op. VI no 6 (P-Cug MM 63)
Grave Adagio
Allegro
Adagio
Allegro
Anónimo (Alemanha, séc. XVII)
Fuga e Ária com 6 variações (P-Cug MM 63)
Michele Mascitti (1664-1760)
Sonata a violino e basso, Op. 1 nº 1 (P-Cug MM 62, 1704)
Adagio
Allegro
Allegro
Adagio
Allegro assai
Carl'Ambrogio Lonati (1645-c.1710)
Sonata a violino e basso (P-Cug MM 63)
Adagio
Presto
Adagio
Presto
Vivace
Adagio
Allegro
Carlos Seixas (1704-1742)
e Anónimos (Portugal/Itália, séc. XVIII)
4 obras para violino e baixo (P-Cug MM 57 & MM 63)
Sonata
[Allegro]
[Sonata: Adagio - Allegro]
Menuet
Alessandro Scarlatti (1660-1725)
3 obras para tecla (P-Cug MM 60)
Arcangelo Corelli (1653-17613)
Sonata Op. V no 5 (P-Cug MM 63)
Adagio
Allegro
Adagio
Allegro
Allegro
Participantes
Ludovice Ensemble O Ludovice Ensemble é um grupo de Música Antiga criado por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim para divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas, usando instrumentos antigos. Em Portugal apresentou-se nos mais variados festivais e salas de concerto de Lisboa, Porto, Braga, Évora, Leiria, Alcobaça, Mafra, Óbidos, Loulé, Viana do Castelo e Gaia, entre outros. Destacam-se os seus concertos no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian e em vários “Dias da Música” no CCB. No estrangeiro o Ludovice Ensemble apresentou-se em alguns dos mais conceituados festivais de Música Antiga, como Utrecht (Países Baixos); Antuérpia (Bélgica); La Chaise-Dieu (França); Praga (República Checa); San Lorenzo del Escorial, Vitoria, Lugo, Daroca, Peñíscola, e Jaca (Espanha). Sendo um embaixador da Música Antiga portuguesa, responsabiliza-se pela 1ª audição moderna de obras de compositores portugueses ou ativos em Portugal tais como Almeida, Avondano, Tedeschi, Giorgi, Perez e Astorga. Em 2011 representou Portugal no showcase da REMA (Rede Europeia de Música Antiga) a convite da Casa da Música e em 2012 editou o seu primeiro CD para a editora Ramée-Outhere, que foi calorosamente recebido pelo público e pela crítica especializada estrangeira, e nomeado para os prémios ICMA Awards 2013. O Ludovice Ensemble gravou ao vivo para a RDP-Antena 2 bem como para o canal de televisão francês MEZZO. |
Fernando Miguel Jalôto
Fernando Miguel Jalôto estudou Cravo e Música Antiga do Conservatório Real da Haia (Países Baixos) com Jacques Ogg. Frequentou Master-Classes com Gustav Leonhardt, Olivier Baumont, Ilton Wjuniski, Laurence Cummings e Ketil Haugsand. Estudou órgão barroco, fortepiano e clavicórdio, e foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. Foi membro da Académie Baroque Européenne de Ambronay. É Mestre em Música pela Universidade de Aveiro e é Doutorando em Musicologia Histórica da FCSH-UNL. É co-fundador e diretor artístico do Ludovice Ensemble, com o qual já realizou mais de 40 concertos, gravando para a editora Ramée-Outhere. Colabora com a Orquestra Barroca e o Coro da Casa da Música do Porto, a Orquestra e Coro Gulbenkian (Lisboa) e com grupos internacionais, como Capilla Flamenca e Oltremontano (Bélgica); La Galanía e La Colombina (Espanha). Foi membro da Orquestra Barroca Divino Sospiro com quem se apresentou em vários concertos em Portugal e no estrangeiro. Apresentou-se em vários festivais e concertos em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Reino Unido, República Checa, Áustria, Polónia, Bulgária e Japão. Apresentou-se já sob a direção de Ton Koopman, Roy Goodman, Christina Pluhar, Christophe Rousset, Fabio Biondi, Laurence Cummings, Antonio Florio, Harry Christophers, Andrew Parrott, Rinaldo Alessandrini, Chiara Banchini, Enrico Onofri, Alfredo Bernardini, Christophe Coin, Wim Becu, Erik van Nevel, Paul McCreesh, Riccardo Minasi e Marco Mencoboni, entre outros.
Notas ao Órgão
Igreja da Nossa Senhora da Luz (Ponta do Sol) Este instrumento é um órgão positivo de armário e encontra-se instalado no coro alto. O seu autor foi o organeiro João da Cunha (n. 1712 - m. 1762) que o construiu no ano de 1761, em Lisboa, conforme consta da inscrição no interior do secreto. João da Cunha, natural de Lisboa, era pai de Leandro José da Cunha (n. 1743 - m. após 1805), construtor do órgão positivo da Igreja do Recolhimento do Bom Jesus, no Funchal. Tendo sofrido algumas intervenções de menor importância, o instrumento manteve em grande parte o seu carácter original e foi restaurado em 2005-06 por Dinarte Machado que lhe restituiu o diapasão e o temperamento original, bem como o sistema primitivo da alimentação do ar. Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’) |
Recolhimento do Bom Jesus, Funchal Este pequeno órgão positivo foi construído em 1781 por Leandro José da Cunha (n. 1743 – m. após 1805), natural de Lisboa e um dos três construtores identificados desta família de organeiros. Leandro era filho do organeiro João da Cunha (n. 1712 – m. 1762), igualmente natural de Lisboa, que construiu o órgão da igreja de Nossa Senhora da Luz, de Ponta do Sol. O órgão representa um tipo de instrumento muito característico para o conceito da organaria portuguesa da primeira metade do século XVIII. O facto de o instrumento não ter possuído – originalmente e à semelhança com muitos outros positivos daquela época – um registo base de 8’ (q. d. de 12 palmos) mas apenas de 6 palmos, parece indicar uma prática musical que contava com o reforço da região grave por meio de um outro instrumento. This small positive organ was built in 1781 by Leandro José da Cunha (b. 1743, d. after 1805), who was from Lisbon and was one of the three members identified as belonging to this family of organ builders. Leandro was the son of the builder João da Cunha (b. 1712, d.1762), also from Lisbon, who built the organ of the Church of Nossa Senhora da Luz, at Ponta do Sol. Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’) |