Sexta-feira, 09 de outubro, 21h30
Igreja de São João Evangelista (Colégio)
Olivier Latry (órgão)
"Critical Mass is defined as 'the smallest amount of fissionable material sufficient to sustain a chain reaction'. It seemed an appropriate title for this brief but energetic piece." ("Massa Crítica é definida como 'a quantidade mínima de matéria físsil necessária para manter uma reação em cadeia'. Pareceu-me um título apropriado para esta peça curta mas enérgica".) Este comentário de James Moberley, se bem que utilizado devido à ambiguidade latente da palavra Mass (em inglês "missa" ou "massa"), reflete perfeitamente a filosofia geral do programa de hoje: numa encruzilhada de estilos musicais e de épocas, são explorados, através de encadeamentos aparentemente fortuitos, caminhos tão familiares como desconhecidos. No entanto, nesta viagem surpreendente para além do tempo e das fronteiras, a coesão irá impor-se pouco a pouco pela recorrência de estilos, de melodias ou de formas musicais. De Suzanne van Soldt e a sua jeune fillette à Fantasia de Bert Matter, que usa o mesmo motivo, das passacalhas de Buxtehude ou de Raison ao monumento de Johann Sebastian Bach, por elas introduzido, do "cuco" de Johann Caspar Kerll a MM de Jon Laukvik, dos ofícios barrocos (François Couperin) aos "ofícios" século XX (Jehan Alain), de uma peça com fita magnética a outra, de uma dança barroca que surge aqui a outra que reaparece ali, as pontes são numerosas. As atmosferas conjugadas irão criar um processo de construção culminando na peroração magistral que representa a Passacalha de Johann Sebastian Bach. À semelhança dos obreiros das catedrais, os compositores não cessaram de construir a história da música, património da humanidade. Cada um trouxe a sua pedra para o edifício, cada um trabalhou para a Arte, cada um trabalhou para a "sua" verdade. Deixemo-nos conduzir por entre estes múltiplos passos, profundamente humanos, profundamente "verdadeiros".
Olivier Latry
Anónimo (manuscrito de Suzanne Van Soldt, 1599)
Quatro danças flamengas
I. Allemande Loreyne
II. Almande Brun Smeedelyn
III. Almande de La nonette
IV. Almande de symmerman
Dieterich Buxtehude (1637-1707)
Passacalha em ré menor
Johann Caspar Kerll (1627-1693)
Cappricio cucu
Jon Laukvik (n.1952)
MM (para órgão e electrónica)
André Raison (c.1640-1719)
Trio en passacaille (Messe du 2° ton)
François Couperin
Offertoire sur les grands jeux (Messe des Paroisses)
James Mobberley (n.1954)
Critical Mass (para órgão e electrónica)
Jehan Alain (1911-1940)
Postlude pour l’office des complies
Bert Matter (n. 1937)
Fantasia sobre Une jeune fillette
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Passacalha e fuga em dó menor
Olivier Latry (n.1961)
Improvisação sobre um tema dado pelo público
Participantes
Olivier Latry Olivier Latry é organista titular da Catedral de Notre-Dame em Paris e professor de órgão no Conservatório Nacional Superior de Música da mesma cidade. A sua nomeação para a primeira catedral de França em 1985, aos 23 anos, foi impulsionou-o no cenário internacional. Já se apresentou em mais de cinquenta países nos cinco continentes, em recital ou com orquestra. Dentre a sua extensa discografia destacam-se as obras completas de órgão de Olivier Messiaen, gravados para a Deutsche Grammophon, e o Concerto de Poulenc e Sinfonia nº 3 de Saint-Saëns, com a Orquestra de Filadélfia conduzidos por Christoph Eschenbach. Prémio da Fundação Cino e Simone Del Duca em 2000, recebeu igualmente, no Reino Unido, o título de Membro Honorário da North and Midlands School of Music, em 2006, e do Royal College of Organists em 2007. Foi nomeado «International performer of the year» pela American Guild of Organists em Nova York em 2009. Em Junho de 2010, a Université McGill de Montréal lui a conferiu-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Foi nomeado em Dezembro de 2012 organista emérito da Orquestra Sinfónica de Montreal (Canadá). |
Notas ao Órgão
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados.
I Manual - Órgão Principal (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Flautado tapado de 12 palmos (8’)
Oitava real (4’)
Tapado de 6 palmos (4’)
Quinzena (2’)
Dezanovena e 22ª
Mistura III
Corneta IV
Trompa de batalha* (mão esquerda)
Clarim* (mão direita)
Fagote* (mão esquerda)
Clarineta* (mão direita)
II Manual - Órgão Positivo (C-g’’’)
Flautado aberto de 12 palmos (8’)
Tapado de 12 palmos (8’)
Flautado aberto de 6 palmos (4’)
Dozena (2 2/3’)
Quinzena (2’)
Dezassetena (1 3/5’)
Dezanovena (1 1/3)
Címbala III
Trompa real (8’)
Pedal (C-f’)
Tapado de 24 palmos (16’)
Bordão de 12 palmos (8’)
Flautado de 6 palmos (4’)
Contrafagote de 24 palmos (16’)
Trompa de 12 palmos (8’)
Acoplamentos
II/I
I/Pedal
II/Pedal
* palhetas horizontais