18 outubro, sexta-feira, 21H30
Igreja de São João Evangelista (Colégio), Funchal
Wolfgang Seifen, órgão
A tradição de excelência da improvisação no órgão remonta à época barroca, destacando-se pela sua complexidade e criatividade. Organistas como Johann Sebastian Bach e Dieterich Buxtehude elevaram a improvisação a uma forma de arte, explorando múltiplas variações temáticas e harmónicas que se expandiram numa nova retórica musical. Hoje, esta prática continua a evidenciar o virtuosismo e a expressividade dos organistas, tanto no contexto litúrgico como no de concerto.
Ó Páscoa gloriosa, de António Ferreira dos Santos, é um hino que está inerentemente ligado a um dos mais importantes eventos do ciclo litúrgico cristão, a Ressurreição de Cristo. Composta por um dos mais proeminentes músicos sacros portugueses do século XX, a peça é preenchida com o espírito de alegria e triunfo considerado a característica definidora da celebração anual da Páscoa.
Os corais Gott, aller Schöpfung heilger Herr (conhecido em Portugal como Povo teu somos, ó Senhor) e Großer Gott, wir loben dich expressam profunda reverência e louvor a Deus, enfatizando a riqueza da tradição litúrgica alemã. A primeira invoca a santidade e majestade do Criador com um tom de devoção solene e contemplativo. A segunda, apoiada na melodia Te Deum, é um hino de exaltação e acção de graças, mais facilmente reconhecível pelo seu caráter triunfante e de júbilo.
O Hino da Região Autónoma da Madeira exalta a beleza natural e a identidade única do arquipélago. Com letra de Ornelas Teixeira e música de João Victor Costa, o hino celebra a liberdade, o orgulho regional e a determinação do povo madeirense, reforçando o amor à terra natal.
A concluir o concerto desta noite, ouviremos uma improvisação dum tríptico musical, que entrelaça três temas melódicos profundamente enraizados na tradição mariana: Ave maris stella, A treze de Maio e Salve Regina. Cada um desses temas carrega consigo uma carga simbólica e espiritual significativa, refletindo a devoção e a veneração à Virgem Maria em diferentes contextos históricos e culturais.
O primeiro andamento é centrado em Ave maris stella (Salve, estrela do mar). Este hino mariano, de origem desconhecida, foi amplamente utilizado na liturgia católica e invocado como um guia espiritual para os marinheiros e viajantes. A melodia é uma invocação à Virgem Maria como protetora e guia dos fiéis, especialmente em tempos de incerteza.
O segundo movimento incorpora o cântico A treze de Maio, uma melodia popular associada às aparições de Nossa Senhora de Fátima em Portugal. A versão original do poema foi escrita pelo poeta Afonso Lopes Vieira, e musicada por Francisco de Lacerda. Este cântico tornou-se um hino de devoção para milhões de católicos em todo o mundo. A melodia é simples, mas carrega um poder emocional profundo, evocando a fé e a esperança dos peregrinos que, ao longo de mais de um século, têm viajado até Fátima em busca de consolo e milagres.
O terceiro e último movimento do tríptico é baseado no Salve Regina, uma das antífonas marianas mais conhecidas, cuja origem remonta ao século XI. Este cântico, tradicionalmente entoado no final das Completas (oração nocturna), é uma súplica à Virgem Maria como Mãe de Misericórdia.
— ANTÓNIO ESTEIREIRO —
Programa
Wolfgang Seifen (1958)
¬ Prelúdio e fuga sobre
«Ó Páscoa gloriosa»
(no estilo barroco alemão)
¬ Duas peças de carácter sobre
«Povo teu Somos, ó Senhor» e and «Großer Gott, wir loben dich»
(no estilo romântico alemão)
¬ Fantasia e fuga sobre o Hino da Região Autónoma da Madeira
(no estilo tardo-romântico)
¬ Tryptique Symphonique
› Allegro risoluto («Ave maris stella»)
› Adagio espressivo («A treze de Maio»)
› Finale («Salve Regina»)