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3 19 2419 outubro, sábado, 21H30
Sé do Funchal

António Esteireiro, órgão
Carla Moniz, soprano
Collegium Vocale de Lisboa
Orquestra Clássica da Madeira
Martin André, direcção

O Requiem de Maurice Duruflé, é uma das obras mais notáveis da música sacra do século XX. Composto entre 1947 e 1948, reflete a profunda ligação de Duruflé com a tradição litúrgica, especialmente o canto gregoriano, e integra influências modernas e o requinte harmónico do impressionismo francês. Duruflé, um organista e compositor de renome, era conhecido pela sua mestria na escrita para órgão e pelo seu profundo conhecimento do repertório litúrgico. O Requiem surge da recuperação dum projeto encetado em 1941 e foi inicialmente concebido para coro e órgão, mas Duruflé produziu três versões: uma para coro e órgão, outra para coro, órgão e pequena orquestra, e uma versão final para coro e grande orquestra. No concerto de hoje, será executada a versão para coro, órgão e pequena orquestra, escrita em 1961.

A estrutura do Requiem de Duruflé segue de perto a Missa de Requiem tradicional da Igreja Católica, composta por nove partes: Introït, Kyrie, Domine Jesu Christe, Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei, Lux aeterna, Libera me e In Paradisum. Contudo, Duruflé apresenta uma abordagem única, fundindo o antigo e o moderno, respeitando a tradição e inovando na linguagem musical.

Um dos aspetos mais emblemáticos do Requiem é o uso do canto gregoriano como base das linhas melódicas. Duruflé, conhecedor profundo do cantochão, integrou estas melodias tradicionais de forma fluida, com harmonias ricas e texturas sofisticadas. Esta abordagem conferiu à obra uma serenidade e profundidade espiritual que cativam tanto o público como os intérpretes.

O Introït abre o Requiem com uma melodia serena e contemplativa, estabelecendo o tom meditativo da obra. As harmonias, evocativas do estilo modal do canto gregoriano, são enriquecidas com uma paleta harmónica moderna, influenciada por compositores como Gabriel Fauré e Claude Debussy.

No Kyrie, Duruflé desenvolve uma complexa teia polifónica, criando uma sensação de súplica e grandiosidade. A influência de Fauré, especialmente do seu próprio Requiem, é evidente, mas Duruflé traz uma clareza formal e uma transparência textural únicas.

O Pie Jesu destaca uma linha vocal solista, habitualmente interpretada por um soprano ou contralto, acompanhada por órgão e violoncelo. Este é um dos momentos mais líricos e introspetivos da obra, em contraste com as secções mais grandiosas.

O Libera me é marcado pela tensão dramática, com uma orquestração densa e uma expressão de angústia intensa. A obra culmina no In Paradisum, onde a simplicidade do cantochão e as harmonias suaves criam uma sensação de paz e transcendência.

O Requiem de Duruflé é uma obra que equilibra a tradição litúrgica com a modernidade, combinando a austeridade do canto gregoriano com uma linguagem harmónica sofisticada, confirmando Duruflé como um dos grandes mestres da música sacra do século XX.

A improvisação organística que precede o Requiem de Maurice Duruflé será uma extensão natural da obra que se segue. Utilizando um vocabulário musical semelhante ao que Duruflé emprega no seu Requiem, a improvisação explorará o mesmo material temático, criando uma introdução que dialoga com as melodias e harmonias profundamente inspiradas no canto gregoriano. Esta abordagem pretende preparar o ouvinte para a experiência emocional e espiritual do Requiem, tecendo uma ligação entre a tradição da improvisação organística e a obra-prima de Duruflé, num momento único de criação e evocação.

— ANTÓNIO ESTEIREIRO —


Programa

António Esteireiro (1971)
¬ Improvisação sobre melodias da Missa de Requiem gregoriana

Maurice Duruflé (1902-1986)
¬ Requiem, Op. 9
› I – Introït
› II – Kyrie
› III – Domine Jesu Christe
› IV – Sanctus
› V – Pie Jesu
› VI – Agnus Dei
› VII – Lux aeterna
› VIII – Libera me
› IX – In Paradisum

 

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