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9 23 2423 outubro, quarta-feira, 21H30
Igreja do Convento de Santa Clara do Funchal

André Ferreira, órgão
Maria Bayley, harpa e canto

 

Na Península Ibérica é durante a segunda metade do século XVI que a harpa se vem, gradualmente, a juntar ao órgão – rei dos instrumentos – no papel de acompanhador tanto de música litúrgica como secular. A harpa de duas ordens, da qual ainda vários exemplares originais se encontram e que era a utilizada em Espanha e Portugal, manteve a sua importância até inícios do século XVIII. Harpa e órgão eram, desta forma, utilizados tanto intercambiavelmente como em conjunto nos mais variados contextos musicais. O presente programa apresenta um caminho pela música denominada explicitamente como sendo «para tecla e harpa».

A primeira obra da qual se tem conhecimento com esta característica é o Tento de Alonso Mudarra pera tecla u harpa, inserido nos seus livros dedicados especialmente à música para vihuela (1546).

Luis Venegas de Henestrosa, pioneiro na imprensa da tablatura espanhola, inclui no título do seu Libro de cifra nueva (1557) que este está escrito para tecla, harpa, y vihuela, incluindo descrições da aplicação desta nova notação a cada um dos instrumentos. Uma grande parte da música que encontramos nestes volumes reflecte a prática da intabulação: a adaptação de uma obra vocal – o ideal a atingir na época – para um instrumento. Incluímos, deste autor, uma canção glosada para dois instrumentos sobre o original Belle sans paire de Thomas Crecquillon, bem como a versão de Francisco Fernández Palero de Paseábase el rey moro, precedida pela possível original obra homónima de Luys de Narváez (c.1500-c.1550).

O mesmo caminho segue a publicação de Obras de música para tecla arpa y vihuela (1578) de Hernando de Cabezón, uma compilação de peças suas e do seu pai, o famoso organista Antonio de Cabezón, também esta escrita em cifra. Neste caso, para além do original vocal e intabulação de Doulce mémoire, incluímos uma peça de carácter puramente instrumental: diferencias (variações) sobre a pavana italiana.

Deste lado da fronteira foi Manuel Rodrigues Coelho o maior representante da continuação desta tradição, com o seu volume Flores de musica pera o instrumento de tecla, & harpa. Do português, apresentamos um dos seus tentos, bem como o original de Orlande de Lassus da obra Susanne un jour, seguida da sua versão intabulada pelo organista, a primeira Susana grozada a 4. sobre a de 5.

De não esquecer, é o papel central que tanto o órgão como a harpa desempenhavam como instrumentos acompanhadores – sendo este, de facto, o papel principal dos mesmos na época, muito acima da música solista. Para ilustrar esta prática escolhemos duas obras vocais com baixo contínuo de Juan Hidalgo, compositor e harpista da capela real espanhola, que também tocava um instrumento de tecla denominado claviarpa, do qual pouco se conhece.

Por último, não podia deixar de ser incluída uma obra da colecção de Diego Fernández de Huete (1702) um volume «para arpa de una orden, de dos ordenes, y de organo», utilizando a mesma cifra estreada por Henestrosa. Este livro tem a particularidade de, ao ter sido escrito por um harpista, ser mais dirigido para esse instrumento, apresentando até indicações de dedilhações para o mesmo, mas nunca excluindo a possibilidade de que as obras fossem interpretadas também ao teclado.

Transversal a todos os períodos abrangidos será a performance ex tempore de ornamentos e glosas (diminuições) de acordo com tratados das diferentes épocas.

— MARIA BAYLEY · ANDRÉ FERREIRA —


 Programa

Alonso Mudarra (c.1510-1580)

¬ Tiento IX para harpa u órgano

Luis Venegas de Henestrosa
(c.1510-1570)

¬ Canción glosada para dos instrumentos

Luys de Narváez (c.1500-1552)

¬ Paseábase el rey moro

Francisco Fernández Palero (?-1597)

¬ Paseábase el rey moro

Antonio de Cabezón (1510-1566)

¬ Diferencias sobre la pavana italiana

Pierre Sandrin (c.1490-1561)

¬ Doulce mémoire

Hernando de Cabezón (1541-1602)

¬ Doulce mémoire

Manuel Rodrigues Coelho (c.1555-1635)

¬ Tento do oitavo tom natural

Orlande de Lassus (c.1532-1594)

¬ Susanne un jour

Manuel Rodrigues Coelho

¬ Susana grosada a 4. Sobre a de 5.

Juan Hidalgo (1614-1685)

¬ Tono al Santíssimo

¬ Rompa el aire

Diego Fernández de Huete
(c.1650-c.1711)

¬ Xácaras

 

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